Blog dos Livros
Mulheres e religião
A Editora Aleph acaba de lançar pela primeira vez no Brasil “Quando Deus era mulher” (298 páginas, R$ 79,90), de Merlin Stone, uma das obras mais influentes de seu tempo. Baseado em uma década de pesquisa da autora, em busca de representações femininas do sagrado de todas as partes do mundo, o livro é considerado um dos principais textos do feminismo teológico dos anos 1970 e 1980, e até hoje é uma obra essencial ao leitor interessado em questões de gênero, narrativas ancestrais e estereótipos do feminino.
A obra faz um apanhado histórico, de forma acessível e profunda, dos papéis que mulheres ocupam ao longo do tempo. Nesse estudo, Stone revela que mulheres eram bastante frequentes no imaginário mitológico e religioso das primeiras sociedades, e como foram apagadas a partir da visão judaico-cristã de mundo.
Um dos trechos mais célebres e polêmicos do livro é o capítulo dedicado a como sociedades matriarcais funcionavam e eram estruturadas a partir de benevolência e divisão de tarefas. Stone atesta que, ao contrário das estruturas patriarcais, que são demarcadas por conflitos e guerras, as sociedades que cultuavam divindades femininas eram muito generosas e colaborativas. O apagamento sistemático dessas sociedades é um ponto de atenção para a autora.
Stone reúne arquétipos do feminino ao redor do mundo para sustentar uma ideia simples, porém revolucionária para muitas sociedades patriarcais: mulheres são grandes líderes e excelentes gestoras de comunidades. A partir da referência de deusas, faraós e autoridades femininas, Stone costura uma colcha de retalhos de referências poderosas do feminino –ideias, essas, que pavimentaram o caminho para as mulheres de hoje.
Nascida em Nova Iork em 1931, Merlin Stone se tornou uma das principais pensadoras da teologia feminina. Além de seus livros, publicou também contos, resenhas de livros e ensaios. Stone faleceu em 2011, na Flórida.
Trecho:
“O conhecimento das antigas religiões femininas, tantas vezes revelando comportamentos e atitudes que eram a própria antítese das supostas tendências humanas naturais, e que, como vimos, foram na verdade a causa subjacente a tantas reações e atitudes dessas religiões posteriores, é um conhecimento quase totalmente esquecido ou mal compreendido. A censura acidental ou intencional na educação em geral e na literatura popular negam a própria realidade de sua importância, e até de sua existência.”
(página 268)
CONTATO COM A NATUREZA
Na obra intitulada “Natureza fora da caixinha: ideias para mais tempo em contato com a natureza” (Editora Literare Books Internacional, 36 páginas, R$ 59,90), as autoras Bete Rodrigues e Juliana Gatti trazem para os leitores a história de uma mãe que apresenta aos filhos sua caixa de memórias de infância. A mãe dá exemplos, oferece escolhas e encoraja a interação deles com os mais diversos elementos da natureza, cultivando valores de respeito, cuidado, carinho e empatia.
ANIMAIS INVENTANDO
Em “Animais inventores” (Editora Melhoramentos, 80 páginas, R$ 57,90), de Christiane Dorion e ilustrações de Gosia Herba, o leitor vai conhecer alguns animais inventores que inspiraram estudiosos a fazer coisas incríveis e que contribuíram diretamente para o avanço da tecnologia da sociedade. O livro conta que os animais têm maneiras de resolver problemas, fabricam materiais úteis, constroem estruturas engenhosas e descobrem como sobreviver e evoluir sozinhos.
Leituras:
“Só um louco pode desejar guerras. A guerra destrói a própria lógica da existência humana.”
(Pablo Neruda (1904-1973), diplomata chileno, um dos poetas de língua espanhola mais lidos e traduzidos no mundo inteiro, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1971).
Destaques:
O VIAJANTE INFIEL
Autor: Osni Schroeder
Com intensa vida comunitária em Cachoeira do Sul, Osni Schroeder faleceu em dezembro de 2020 e deixou pronto o livro “O viajante infiel,” lançado neste mês de dezembro por sua família. A história é de um crucifixo de ouro que veio do Oriente trazido por cavaleiros templários, passou por vários papas da antiguidade e acabou na capela de um povoado que originou a cidade de Posadas, na Argentina. Roubado de lá, a preciosidade poderia estar em Cachoeira do Sul e o argentino Pablo Velasquez Garcia propôs-se a achá-la e levá-la de volta à Argentina. Osni publicou em 2007 o livro “A noite do Netuno e da Virgem.”
Farol 3 Editores. 192 páginas. R$ 50,00.
QUANDO VOU À ESCOLA
Autora: Julie Völk
Este livro combina realidade com fantasia e cria uma atmosfera única em seus desenhos. No enredo, uma menina e seu irmão menor se despedem dos pais e saem de casa a caminho da escola. Seu trajeto parece ser o de todas as manhãs e os encontros também parecem ser os mesmos. Mas a caminhada se revela curiosa e fascinante. A austríaca Julie Völk recebeu vários prêmios, entre eles o Troisorfer para Livros Ilustrados e o Serafina, prêmio para jovens ilustradores concedido pela Academia Alemã de Literatura Infantil e Juvenil. Seus livros contam histórias sobre o crescimento, encontros estranhos e as peculiaridades da vida.
Editora Maralto. 32 páginas. R$ 44,90.
(As obras apontadas no Blog dos Livros podem ser encontradas junto à Revistaria e Livraria Nascente, na Rua Saldanha Marinho, 1423, Cachoeira do Sul)