Blog Da Poesia

Feira do Livro

06/10/2021 08:30 - por Tiago Vargas

Começou sexta-feira, dia 01 de outubro de 2021, a 36 ª Feira do Livro de Cachoeira do Sul que tem como Patrono o advogado e escritor Mildo Leo Fenner, autor dos livros Charlote, Cartas para Rose e Casamento de Luísa. Conectando pessoas e livros é o lema da festa literária que pela primeira vez em sua história irá ocorrer no modelo remoto. A programação está riquíssima. São oito dias de inúmeras e variadas atividades culturais, entre as quais, destaque para sessões de autógrafos, lançamento de livros, apresentações musicais, espetáculos de dança, Contação de histórias, oficinas de escrita, painéis literários, palestras, apresentações de documentários. Entre as atrações dois escritores consagrados com Prêmio Jabuti, Mailson Furtado e Wilson Alves-Bezerra. E muitos artistas locais. Aproveite a feira. Participe. 

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Capta meu espírito
me cola cartazes e me grifa
pinta – risca – transborda
ativa telepatia
existe
instala nobreak
assiste séries de tv
se diz, cético, não sexista
anda de uber
quando tem médico
estuda horas a fio
a alma
alheia a tudo.
Machado Bantu

No dia que poemas acertarem na loteria
e virarem chacota (a ponto de serem catalogadas em dicionário como o Bizarro).
Eu irei ter meu livro-arbítrio-antígeno e assim pugilarei com toda obviedade se necessário
por minhas sementes de dentro t’seus ramos identitário.
Diego Petrarca

Todos os dias                                                
como aurora
que sempre vem
e vai embora
se me tirarem a caneta
e s c r e v o
no vapor do vidro
com barro na calçada
com batom no espelho
com gravetos na grama
com o dedo na areia se me arrancarem os braços
escreverei com os olhos
nas nuvens
se me vendarem os olhos
escreverei com estrelas
no céu do meu pensamento.
Bernadete Saidelles

Dez anos é uma viagem
Uma peregrinação
Estou cansado
Fui solteiro
Fui namorado
Fui casado
Fui divorciado
E dez anos da minha juventude se passaram
Como passam os blocos no carnaval
E não esqueço do café que não tomamos
Um gosto amargo permanece em minha boca
A mesma boca que continua em vão
Te procurando em outras bocas
Pippo Pezzini

XIV
O cheiro de hotel barato que emana da cabeça. O gosto de travesseiro mofado quase na garganta. Cada ponto de pó, em fila, no trilho de um facho pela fresta, para cima ou para baixo. A casa da infância grande como uma solitária e tão luminosa quanto; os velhos se cobrem com terra num jardim sem brinquedos. As irmãs, ansiosas, carregam uma lancheira com vômito e frutas, e trazem o desandador. Cada movimento será novo sobre a terra; dizem para não pisar na grama, para não quebrar os ossos dos antigos, que em paz. Os lábios de Eleutéria pararam no meio da ida, a boca ainda cheia, a frase ainda pouca. Pode-se parar tudo para recomeçar mais tarde. A janela aberta, meio bilhete, a galinha morta toda penas. Só o desandador não permite parar. Bendita a boca sem lábios de Eleutéria, suspensa à beira da voz.
Wilson Alves-Bezerra

ENSAIO À SAUDADE n°1
a saudade passeia 
passeia por tantas bandas
tantas tantas tantas
sempre a brincar de ir-não-ir
se enfeita num retrato já antigo 
amarrotado
rasgado pelo tempo que o rugou
se desbota numa parede 
sem pintura
de onde estava ontem 
anteontem 
a fazer qualquer besteira
se emborca numa rua
que já foi nua há vinte anos
das coisas d’agora
hoje não mais
a saudade passeia 
passeia por onde nem mais
: por onde o trilho que o trem não mais corre
pelo orelhão que abençoou tantos filhos lá pelo rio de janeiro
pelo ontem que dobrou a esquina do calendário
pela saudade da saudade da saudade
pela morte que se prontifica a viver
a saudade nela mesma
passeia
Maison Furtado

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