Blog dos Livros
O MITO DA TELEVISÃO
O maior comunicador do Brasil não usava terno nem se expressava com voz macia diante de um público comportado. Também não era jornalista nem acadêmico e não escreveu nenhum livro. Era um nordestino de sotaque carregado e voz rachada, que aparecia na televisão com fantasias coloridas, uma buzina pendurada no pescoço, atirando pedaços de bacalhau na plateia e apresentando com tiradas sacanas os futuros sucessos da música nacional.
Com leveza e bom humor, a biografia “Chacrinha” (Editora Casa da Palavra, 366 páginas, R$ 29,90), de autoria de Denilson Monteiro e Eduardo Nassife, narra os episódios que fizeram este mito da televisão um dos homens mais importantes da história do entretenimento brasileiro.
O livro mergulha em um dos períodos mais agitados da cultura brasileira. Em seu vaivém entre emissoras; em seus desentendimentos e reconciliações com artistas e diretores de televisão; nos resultados surpreendentes das suas ideias de genial comunicador, a obra guia o leitor por entre a formação de boa parte dos músicos, humoristas e atores brasileiros que fizeram sucesso nas últimas décadas do século.
Abelardo Chacrinha Barbosa nasceu na pequena Surubim e chegou ao Rio de Janeiro sem dinheiro nem ideia do que fazer com a própria vida. Quase por acaso, virou locutor de rádio e acabou inventando um jeito inédito de se comunicar com o público, que em pouco tempo já o saudava como “o rei dos disc jockeys.”
Na televisão, ele foi além e, obcecado com os números da audiência, fez da irreverência a sua marca e conquistou o país inteiro com seus trejeitos, suas chacretes, seus concursos esdrúxulos e bordões inusitados.
Eduardo Nassife é escritor e roteirista e foi um dos roteiristas colaboradores da novela “Fina Estampa,” de Aguinaldo Silva. Já escreveu “40 anos de glória,” biografia de Glória Pires. Denilson Monteiro foi o responsável pelas pesquisas de texto e imagem da biografia.
Trecho:
“Em abril de 1984, Chacrinha participou da campanha pela aprovação da emenda do deputado Dante de Oliveira, que visava a volta das eleições diretas para presidente. No comício das diretas já, como ficou conhecido o movimento em prol da emenda, realizado na Candelária, no Rio de Janeiro, Chacrinha subiu no palanque e, diante de um milhão de pessoas, veio com uma de suas rimas de apoio à volta da democracia:
-Alô, alô, Anacleta, o negócio é a direta! Alô, alô, Waldemar, o povo quer votar!
Emocionado com a receptividade da plateia, o Conde de Surubim continuou com suas frases de efeito em favor das diretas e despediu-se com o seu mais famoso bordão:
-Terezinhaaaaaaaaaaa!”
(página 329)
FERREIRA GULLAR
Dez livros de poemas de Ferreira Gullar, publicados ao longo de quase 60 anos, foram reunidos na obra “Toda poesia” (536 páginas, R$ 94,90), lançados pela Editora Companhia das Letras. Com uma obra apaixonante e combativa, Gullar se consagrou na poesia de língua portuguesa e no debate sobre literatura, artes e cultura do país.
INTOLERÂNCIA
O jornalista, cientista social e escritor Thales Guaracy traça uma perspectiva atual e histórica em seu livro “A era da intolerância” (Editora Matrix, 312 páginas, R$ 59,90), abordando os acontecimentos econômicos, políticos e sociais da atualidade em contraste com incertezas e conflitos. Ele afirma que, paradoxalmente, a tecnologia ajudou a expandir o fundamentalismo religioso, o radicalismo político e as rivalidades nacionais.
Leituras:
“Para liquidar os povos, começa-se por privá-los da memória. Destroem os seus livros, a sua cultura, a sua história. E, algum outro escreve outros livros, lhe fornece uma outra cultura, inventa uma outra história; depois disso, o povo começa lentamente a esquecer aquilo que é e aquilo que foi. E o mundo ao seu redor esquece ainda mais rápido.
(Milan Kundera, escritor checo-francês, conhecido mundialmente por seu livro “A Insustentável Leveza do Ser,” escrito em 1983.)
Destaques:
O QUE APRENDI SENDO XINGADO NA INTERNET
Autor: Leonardo Sakamoto
Em um país polarizado, onde escolhas políticas parecem cada vez mais radicais, e as disputas se acirram diariamente, usar a internet para dar sua opinião pode ser uma tarefa desafiadora, e até perigosa. Neste livro, o autor usa sua experiência, como jornalista, professor e blogueiro do portal UOL, para fazer uma reflexão sobre o ódio e a intolerância que por vezes dominam as redes sociais, construindo ao mesmo tempo uma espécie de guia para que o leitor não se torne massa de manobra nas mãos de grupos e pessoas com más intenções.
Editora Leya. 158 páginas. R$ 19,90.
O CORAÇÃO DO TÁRTARO
Autora: Rosa Montero
Nascida em Madri, com formação em jornalismo e psicologia, a autora escreveu romances, como “Instruções para salvar o mundo” e “Crônica del desamor,” além de ensaios biográficos, contos infantis e coletâneas de entrevistas e artigos, tendo recebido vários prêmios em sua carreira literária. O presente livro trata de amor, traição, medo, perdão, condenação e reconciliação, ingredientes que se misturam com lendas medievais.
Editora Nova Fronteira. 198 páginas. R$ 15,00.
(As obras apontadas no Blog dos Livros podem ser encontradas junto à Livraria Coralina, na Rua 7 de Setembro, 578, Cachoeira do Sul)