Blog Da Poesia

Pier Paolo Pasolini

01/12/2021 09:15 - por Tiago Vargas

Pier Paolo Pasolini foi um cineasta, escritor e poeta italiano. Versátil e multifacetado. Genial em todas as frentes. Figura controversa.  Sua arte refletia intrinsecamente sobre a solidão do homem moderno em todas suas representações estéticas. Suas influencias passeavam entre a sétima arte e a literatura, de Antonioni a Moravia. Na poesia de Pasolini o amor constrói, mas ressente. Corta e dilacera. Literatura pungente. Densa. Confessional. De sensibilidade extrema. De extraordinária musicalidade e ritmo. Autor de La nuova gioventù e Le ceneri di Gramsci , entre publicações relevantes.  No Brasil infelizmente é pouco conhecido pois sua obra ainda carece de tradução. 

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Os primeiros que se amam 
Os primeiros que se amam são os poetas e os artistas da geração anterior, ou do início do século; eles ocupam em nosso espírito o lugar do Pai, tornando-se, no entanto, jovens como fotografias amareladas. Poetas e artistas para os quais não havia vergonha alguma em ser burguês. Filhinhos de papai. Roupas pobres com sabor de Rebelião e de Mãe. Poetas e artistas que se tornariam famosos lá pela metade do século, ao lado de algum desconhecido amigo de grande talento, mas impotente para a poesia, por covardia talvez (os verdadeiros poetas morrem jovens). Calçadas de Viareggio ou de Viena! Cais de Florença ou de Paris! Os fatos ecoando nos passos das crianças que calçam botas pesadas. Os ventos da desobediência têm perfume de cíclame sobre as cidades aos pés dos poetas jovens. Os poetas jovens que falam e falam depois de alguns copos de cerveja, independentes, livres como a pequena burguesia — locomotiva abandonada, mas ardente, por certo tempo obrigada a apreciar a lentidão da juventude: a firme certeza de mudar o mundo podre com quatro palavras apaixonadas e um caminhar de revoltosos. As mães, como em ninhos em seus pequenos lares burgueses, bordam os jasmins das árias com o sentido da luz privada da família e seu lugar em um país repleto de festas. As noites, então, ressoam apenas os passos dos filhos. A melancolia tem infinitas tocas. Tão infinitas como as estrelas em Milão ou em outra cidade onde se respira o ar dos aquecedores. Pelas calçadas percorremos casas do século XVIII, pinturas descascadas com sacrossanto destino (as estradas da nação tornando-se uma civilização industrial), com um distante odor românico de estábulos gelados. É assim que os rapazes poetas sofrem a experiência da vida. E têm de dizer o que dizem os outros, os rapazes que não são poetas (senhores também da vida e da inocência) junto às mamães que cantarolam nas janelas dos pátios (fossas que fedem para as estrelas). Onde perdemos esses passos: não basta uma grave página de lembranças, não, não basta — talvez o único poeta não seja poeta, ou o único artista não seja artista, talvez ele tenha morrido antes ou depois de uma guerra, em qualquer cidade durante legendária passagem, as noites realizadas, com autenticidade. Ah, esses passos — os filhos das melhores famílias da cidade (aquelas que seguem o destino da nação como uma horda de animais seguindo cheiros — dracena, canela, beterraba, cíclame — em suas migrações) que passam a poetas com seus amigos artistas, batendo as ruas, falando e falando. Mas se é esse o modelo, é outra a verdade. Repete, filho meu, aquelas outras crianças. Sente saudades delas em teus dezesseis anos. Mas fica ciente desde já de que ninguém antes de ti fez qualquer revolução; que os poetas e artistas antigos ou mortos, apesar dos ares heroicos de suas auréolas, são inúteis e não te ensinam nada. Goza tuas primeiras experiências ingênuas e teimosas, tímido dinamitador, senhor das noites livres, mas não te esqueças de que estás aqui apenas para ser odiado, para destruir e para matar.
Pier Paolo Pasolini

Escute, Senhor, essa história estival.
Era verão, junto de muralhas antigas
e uma grande fonte que se abria
como uma enorme flor macabra sobre clientes
bêbados de putas. E era noite. Alegre
se levantou uma voz às costas de um homem;
era a voz de um menino. Ao longo da costa
entre entulhos espalhados sob aquelas torres
os dois enlaçaram os braços: e a viagem
da vida começou. Mais que feliz,
o menino era festivo; e além disso, sábio.
Parecia que os dois tomavam caminhos amigos;
mas não foi assim; alegre, o menino deixou o homem
junto de uma tumba, no silêncio selvagem.
Tradução: Helio Flanders

Ascoltate, Signore, questa storia estiva.
Era estate, presso antichi bastioni
e una grande fontana che si apriva
come un enorme macabro fiore su ubriacone
clienti di putane. Ed era notte. Giuliva
si alzò una voce alle spalle di un uomo;
era la voce di un ragazzo. Lungo la riva
tra i rifiuti sparsi sotto quei torrioni
i due si presero a braccetto: e il viaggio
della vita cominciò. Più che felice
il ragazzo era festoso; e, inoltre, saggio.
Pareva che i due andassero per luoghi amici;
ma non era così; lieto il ragazzo lasciò l’uomo
presso una tomba, nel silenzio selvaggio.
Pier Paolo Pasolini

Minha Escrita
Minha escrita não tem medidas 
Fronteiras, portas janelas 
Minha escrita é a essência 
Que o meu pensamento alcança.
São palavras desenhadas
Pelo dom que me foi dado
Onde eu canto o amor
Por vezes também a dor.
Minha escrita é emoção
Onde eu deixo o coração 
Ganhar asas e voar 
Para que possa sonhar.
Minha escrita é uma viagem 
De aventura e coragem
Para navegar neste mar 
Sem barco remos ou velas, ...
Onde me sinto sereno 
Com o decorrer da lição 
Nas palavras que desenha 
Onde minha alma se acalma!
Ênio Santos

Partindo
Uso roupas de bolsos
Dois bolsos são suficientes
Para levar todas as minhas riquezas...
Alguns bilhetes de amor
Algumas fotografias
Alguns números de telefones
A carteira de identidade
Umas moedas para o dia de hoje...
Todo o resto da bagagem
Levo dentro do coração!
Mara Garin

Você reclama
De tudo
Só trama
Contra mim
Você declama
Sem parar
Como clama
Sem fim
Ricardo Hoffmann

A lembrança e a saudade
Lembranças,
são como as gentes.
Existem boas e más,
grandes e pequenas.
Alegres, jocosas,
amargas, tristes,
algumas nítidas,
outras enfumaradas pelo tempo.
Por vezes, esburacadas,
com lampejos de luz,
como aqueles velhos filmes
de muitas andanças.
Esquecidas,
são entidades mortas,
enterradas,
já não são lembranças.
Jovens, idosas,
certas vivem anos,
outras morrem logo.
Lembranças e saudades,
sempre juntas,
ajoujadas.
Se gente,
seriam gêmeas.
Ou comadres,
certamente!
Alcione Sortica

'Sinto tua presença
no meu poema
quero renascer-te
mas já é tarde
Infiltro-me
na tua ausência
quero teu cheiro secreto
teu beijo teu abraço
e a possibilidade
que me deste
... mas era vidro
e se quebrou.
Zaira Cantarelli

CACHOEIRENSE
Eu sou filho deste pago
Onde sorvo o mate amargo
Na cidade ou no interior
E na Cachoeira do Sul
Que o céu é mais azul
Onde renasce o amor
Gente nobre guerreira
Terra rica hospitaleira
Com belezas naturais
Ao passares por aqui
Verás o Rio Jacuí
Banhando os arrozais
Cachoeira do Fandango
De maragato e chimango
De tudo aqui tem um pouco
A Vigília do gaúcho
Povo ordeiro e sem luxo
Na terra do Cabo Toco
Neste Rio Grande amado
De gremistas e colorados
Com fandangos e carnaval
Festivais e rodeios
Tudo isso em nosso meio
Aqui na região central
Esta é nossa Cachoeira
Levantando a bandeira
Do progresso que virá
Quando passar por aqui
E beber água do rio Jacuí
Com certeza voltará
Ao seguir tua viagem
Levarás nossa mensagem
De carinho e gratidão
Siga em frente meu parceiro
Na terra do arrozeiro
Volte logo meu irmão.
Carlos Afonso Schultz.

REFLEXOS
Salvador Dalí “A persistência da memória”
no mundo das sombras
(com neblina nos olhos)
enxergamos o cenário
o amorfo
e os relógios desse quadro
observam-nos
e revelam faces ocultas
de nosso extinto passado
Isabel Furini

Anoitecer vespertino
No crepúsculo, a diária sina
Na areia fria onde meus pés afundam,
Sujeira forte que me contamina
Contrasta os céus anis que só a mim rondam.
Apuro triste de um céu cansado,
O momentâneo adeus profundo,
Corrente aumenta, silêncio quebrado
Paisagem distante, horizonte mudo.
Então, a mostra do grande astro
O fatídico, fúnebre, indigno
Que aponta dúvida, medo e dor.
Agora mostra, do seu nome o hiato
O contraste do seu mais claro brilho
Para com seus céus sombrios, que soam temor.
Vicenzo Medeiros

A tarde partia
E um gomo de luar 
Tingia a casa.
Havia um silêncio
Que promulga a palavra
Que me ajuda
A encantar o meu viver.
Palavras que ardem
Feito urtiga
Que queima.
Zaira Cantarelli

Amor nos tempos de pandemia.
Estamos todos trancados com medo.
Eu aqui e você sei-lá-onde. Isso me angustia.
Pareço uma alma penada vagando pelos cômodos vazios da minha casa que nem é
minha. Chego a alucinar.
Belchior cantava que a sua alucinação era suportar o dia-a-dia.
Eu canto que o meu delírio é suportar a sua indiferença
Pippo Pezzini

Defeitos
Os defeitos mais profanos
Talvez sejam os mais atrativos
Depende da pessoa e do prisma ao qual é visto.
Quiçá a pessoa mais imperfeita pode ser a mais amada...
Quem poderá julgar os defeitos?
Se a própria natureza pode ser imperfeita em seu esplendor.
Deivi Entoni Roberti da Silva

Abismo
Há de existir um abismo que me acolha, 
Cuja escuridão se afine a minha.
Que me tenha como único,
Assim como tenho a esperança. 
Bruno Dias

Partindo
Uso roupas de bolsos
Dois bolsos são suficientes
Para levar todas as minhas riquezas...
Alguns bilhetes de amor
Algumas fotografias
Alguns números de telefones
A carteira de identidade
Umas moedas para o dia de hoje...
Todo o resto da bagagem
Levo dentro do coração
Mara Garin

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