Blog Da Poesia

Zulmira Ribeiro Tavares

23/03/2022 08:30 - por Tiago Vargas

Zulmira Ribeiro Tavares nasceu em São Paulo, em 27 de julho de 1930. Faleceu em 9 de agosto de 2018. Foi uma escritora e crítica de cinema. Autora de romances e livros de contos. Suas publicações mais relevantes foram “O nome do Bispo’’, “Mandril’’, “Termos de comparação’’ e “Cortejo de abril’’. “Versúvio’’ foi sua primeira publicação em poesia. Sua prosa se caracterizou prioritariamente por escarafunchar de modo desconcertante a vida social brasileira, em especial a elite paulistana. A forma elíptica de sua escrita conferiu uma singularidade peculiar em estilo e sensibilidade. Escrita sagaz. Atemporal. 

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Vida: objeto de desejo
Nós desejamos pinguins.
Não os de geladeira
com seu peso fixo de massa pintada
sua estatuária de cozinha
sem nenhum sopro de Da Vinci.
Nós desejamos pinguins.
Não os das geleiras
que nos esfriam os dedos
ao toque de suas penas firmes.
Frios são os caminhos que a morte nos envia.
Desejamos os pinguins de nosso assombro
fechados dentro de nós no desejo
como pérolas nas ostras.
Ostras não sabem das pérolas
que engendram e trazem consigo.
E nós que os formamos do escuro,
deles só temos o rastro, pinguins,
com seu brilho
de nácar.
Zulmira Ribeiro Tavares

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De velhos cadernos escolares
Partimos de barco em direção à ilha, pequena,
redonda e verde como a dos cadernos escolares.
No centro, alguns coqueiros.
Ao pisarmos o seu chão, desfez-se, desprendendo
cheiros de vegetação e terra úmida que se
juntaram ao de maresia. Como se no ar à nossa
volta perdurasse em novo arranjo, ilha e mar.
O equilíbrio na água era precário. Certo tremor
agia em cada um como instrumentos de corda
quando a propagação de sons tem seu início.
De volta ao barco não olhamos para trás, nem
que figura ali deixáramos às nossas costas, sem
real força remissiva.
Zulmira Ribeiro Tavares

Amor não correspondido
Falo em sussurros, pois o medo de me ouvirem me consome, penso que deve ser difícil me entender em tom tão baixo.
Apenas espero que ela saiba o quanto eu a amo.
Julia Borges

A VELHA ESQUINA
Quem foi criança nos anos 60, 70 e 80
na esquina da rua Ernesto Barros 
com a rua Juvêncio Soares,
em Cachoeira do Sul,
está convidado a participar 
de um reencontro de olhares.
A data será ao acaso,
quando alguns de nós 
estiverem esquinando as saudades. 
Esquinar, verbo de retorno. 
O traje será os olhos bem abertos,
prontos a se fecharem suavemente,
abrindo as janelas do que
cada um sente e pode repartir 
em um abraço caseiro.
Pede-se que todos levem
as suas diferenças bem à mostra
para tecermos uma colcha de diversidade 
que enfeite a nossa esquina, 
marcando com futuro o nosso
primeiro portão para o mundo.
Robson Alves Soares

SOL DE DENTRO                                                                                              
Escamas de nuvens bordam
o céu do meu pensamento,
percebo que os dias evaporam,
as horas são chuvas que já escorreram,
as mágoas seguiram o curso do nada,
a dor das impossibilidades lateja no peito,
o tempo ensina a retirar
espinhos do coração,
desviar montanhas das dificuldades,
ir deixando os pesos desnecessários
pelo caminho,
seguindo com mais leveza,
se encantando com o que é simples,
porque partiremos de mãos vazias,
levando apenas o amor que aprendemos
a cultivar e transbordou,
em quem estava perto,
em quem estava longe,
porque a alegria de viver,
pisca para quem está atento
ao sol que brota de dentro,
disposto a tudo envolver.
Bernadete Saidelles

Ao sabor das marés 
Ao sabor das marés segue a vida 
Nas constantes chegadas e despedidas
No ir e vir infinito do teu mar
Que transforma o caminho, o caminhar...
Ao sabor das marés segue o barco
Nas cheias e nas vazantes, em cada marco
Um brilho de reconhecimento e ilusão 
De que tudo é passageiro nesta emoção...
Ao sabor das marés sigo eu
Sem certezas do que vou buscar
Mas querendo teu sorriso nesse mar...
Consciente de que nada é meu
Além da imagem registrada
De alma navegante, perdida e apaixonada!
Mara Garin

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