E se dormir fosse remédio? Opa... é remédio!

Marion Pereira da Rocha
Diretor do Laboratório ENZILAB
Farmacêutico bioquímico
RF-RS 3080

“Imagine se tivéssemos um tratamento que pudesse melhorar a função cognitiva (raciocínio e conhecimento), impulsionar o sistema imunológico, ajudar na perda de peso e na regulação do metabolismo, proteger o sistema cardiovascular, regular a eliminação de resíduos do cérebro, e aumentar o humor, a autorregulação emocional e a produtividade. Bem, já temos: DORMIR.”

A impactante frase acima é de um artigo científico da revista médica The Lancet Healthy Longevity (Longevidade Saudável), de agosto/2023. O artigo intitulado “Diplomacia do sono: uma abordagem para melhorar a saúde cerebral global” (D.A.Golombek e colegas) destaca a necessidade urgente de abordar a questão generalizada da privação do sono e dos seus efeitos prejudiciais na saúde geral, particularmente na saúde do cérebro e no envelhecimento saudável. Seguem outros trechos do artigo, que julgamos úteis ao conhecimento público:

- Um ciclo sono-vigília saudável promove o bem-estar e a saúde geral e, em particular, a saúde do cérebro. No entanto, cerca de 62% da população mundial não consegue dormir o mínimo recomendado de 7 horas noturnas para adultos. As consequências da privação do sono são generalizadas: desde perturbações metabólicas, cardiovasculares e cerebrais até ao aumento das taxas de acidentes.

- Os fatores mais comuns relacionados à saúde do cérebro são: genética, envelhecimento, nutrição, relações sociais e exercícios. Propomos adicionar sono adequado à lista. O sono restaurador desempenha um papel importante na reparação e restauração do nosso cérebro.

- Além dos comprometimentos imunológicos e metabólicos, dormir pouco aumenta o risco de desenvolver a doença de Alzheimer e demência relacionada. Além disso, dormir pouco, dormir fora do horário ou sono irregular também afeta a saúde mental e pode estar associado a transtornos de dependência.

Os autores do citado artigo propõem o que chamam de “Diplomacia do sono” com o objetivo de promover padrões de sono saudáveis e melhorar a qualidade do sono, o que pode ter um impacto positivo na saúde física e mental, bem como no bem-estar geral. Seguem algumas das recomendações da diplomacia do sono:

Promover discussões em painéis de especialistas sobre questões de política temporal, como fusos horários e horário padrão.
Estabelecer diretrizes para operações de trabalho em turnos, incluindo aquelas para pessoal de saúde.
Fornecer recomendações sobre tecnologia digital e uso de telas LED em relação aos efeitos no sono.
Promover rotinas adequadas de higiene do sono em centros de saúde e hospitais.
Estabelecer recomendações para a higiene do sono de acordo com as fases da vida (infância, adolescência, envelhecimento).

Em outubro/2021 a importante revista Science (vol 374, nº 6567) publicou extenso artigo intitulado: “As causas e consequências interligadas do sono no cérebro”, onde a autora L.D. Lewis diz:

- Nosso sono noturno é fundamental para uma ampla gama de funções cerebrais. Perder apenas uma noite de sono resulta em problemas de memória, humor e atenção no dia seguinte. A interrupção do sono ao longo da vida está ligada à neurodegeneração. (…) A curto prazo, a falta de sono leva a problemas de memória e atenção; a longo prazo, produz disfunção neurológica ou mesmo morte

Os temas aqui abordados contêm sustentação científica, mas não substituem orientação médica ou de outros profissionais da saúde. Cada organismo tem suas particularidades que devem ser consideradas. Mantenha consultas periódicas.