“Flores de Cabul” (Editora FTD Educação, 208 páginas, R$ 61,00),  do italiano Gabriele Clima, narra a história de Maryam, uma  garota afegã de 13 anos  que tem um pai severo e ultraconservador,  fiel a uma tradição  islâmica rígida,  que nega às mulheres qualquer forma de liberdade. Neste romance,  uma liberdade fundamental é andar de bicicleta.

Maryam não aceita esse destino repressor e decide  desafiar as regras impostas no país: ela vai fazer parte   de uma equipe feminina  de ciclismo, transformando a bicicleta em seu instrumento de emancipação.  A história se passa no período  entre os governos talibãs (2001-2021), durante o qual as mulheres afegãs conquistaram relativa autonomia,  mesmo que difícil de exercer na vida real. O Afeganistão  é um dos países  onde há mais discriminação  de gênero  e violência contra mulheres.

O romance, com tradução de Sílvia  Masimini Felix, é narrado de forma envolvente em primeira pessoa, e tem potencial para atrair jovens  leitores, além de promover a discussão de temas da atualidade. Autor de dezenas de obras  para crianças  e para adolescentes,  para escrever o romance  Clima se inspirou em um artigo de jornal de 2016 que falava sobre a  equipe feminina de ciclismo de Cabul.  A equipe  havia sido indicada  pelo Parlamento  italiano para o Prêmio Nobel da Paz. 

Na obra,  o país de Maryam é apresentado de forma complexa, como um local não apenas triste e violento mas também belo e saudoso,  pelo qual a  garota guarda muito afeto. O enredo possibilita  que a  bicicleta  seja entendida   como uma metáfora  da liberdade,  não só por ser uma prática  esportiva exclusiva  dos rapazes, mas também por ser um meio de locomoção,  tanto espacial quanto simbólico. Neste sentido, o autor considera o livro  uma ferramenta  para falar com os jovens sobre liberdade,  direitos, força, coragem, pensamento crítico e tudo o que pode  constituir  uma sociedade responsável.

Nascido em Milão, na Itália, em 1967, Gabriele Clima já recebeu diversos prêmios naquele país e no mundo. O livro “O sol entre os dedos” ganhou o Prêmio Andersen, o maior reconhecimento  à literatura na Europa. Seus livros já foram traduzidos em 18 países e  entre os temas abordados estão vulnerabilidade, diversidade, integração,  racismo e  discriminação.  Gabriele  costuma promover encontros frequentes com estudantes para propor a literatura como instrumento de compreensão da  realidade.

Trecho:
“Passamos a noite rindo, brincando e conversando sobre a corrida, da qual  equipes de todo o Afeganistão  participariam,  todas compostas de homens; nós éramos a única equipe feminina.  Por isso é que era uma corrida importante. De acordo com o treinador, nunca tinha acontecido   algo parecido,  era uma grande oportunidade para mostrar a todo o país do que as mulheres afegãs  eram capazes. Para mostrar o valor, a força, a coragem de  ser mulher no Afeganistão.”
(página 152)

CHICO BUARQUE I
Na última segunda-feira, dia 24, o escritor, cantor e compositor Chico Buarque de Holanda recebeu o Prêmio Camões de 2019, em uma marcante solenidade realizada em Sintra, Portugal, que contou com a presença dos presidentes Marcelo Rebelo de Souza daquele país e Lula do Brasil,  de dezenas de autoridades,  escritores (entre eles o moçambicano Mia Couto) e de intelectuais. O Prêmio Camões é considerado o mais importante da Língua Portuguesa e é realizado em parceria  entre os governos do Brasil e Portugual. 

CHICO BUARQUE II
Autor de dez livros, dezenas de peças de teatro e um vasto repertório musical, com diversos prêmios por sua primorosa obra, Chico Buarque foi agraciado com o Camões em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, mas o então presidente se recursou a  fazer a  entrega. Em seu discurso, Chico  dedicou o prêmio “a tantos autores e artistas brasileiros humilhados e ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo,” alfinetando o ex-presidente ao dizer que ele “teve a  rara fineza  de não sujar o diploma do meu Prêmio Camões.”

Leituras: 
“Enquanto a população  geral estiver passiva, apática  e  distraída  pelo consumismo ou pelo ódio às minorias, então os que estão no poder   podem fazer o que quiserem, e  aqueles que sobreviverem  ficarão para contemplar  o resultado.”
(Noam Chomsky, renomado linguista, filósofo e  ativista político americano, nascido em 1928, na Pensilvânia, Estados Unidos, considerado um dos intelectuais mais influentes do século XX e um dos fundadores da linguística moderna).

Destaques:
OS PRIMEIROS SOBREVIVENTES DO ALZHEIMER

Autor: Dale E. Bredesen 

Após estudar exaustivamente a anatomia, a fisiologia e  a  química do cérebro, o autor  se dedicou a compreender de que forma doenças como o Alzheimer afetavam o seu funcionamento. Em seus dois primeiros livros –“O fim do Alzheimer” e “O fim do Alzheimer –guia prático,”  ele sugeriu  um novo tratamento para a doença. Agora, em narrativas comoventes, apresenta os desafios e  a luta  dos que sobreviveram à doença.   
Editora Objetiva.  216  páginas. R$ 69,90.

 A OPERAÇÃO DE LILI 

Autor: Rubem Alves 

Lili e Gregório  são amigos muito diferentes:  uma elefantinha e um sapo. Eles passam horas bricando na lagoa,  mas um incidente faz com que Lili  precise  passar por uma cirurgia.  A elefantinha terá de lidar com seus medos, mas os outros animais  e  a  Fada da Floresta  a ajudarão a  achar a coragem   para enfrentar  esta delicada situação. A obra  faz parte da coleção “Fábulas de Rubem Alves,” que resgata histórias e personagens  fascinantes   deste que foi um dos maiores intelectuais  brasileiros de nosso tempo. Cada livro aborda um conflito  recorrente na infância em pequena fábula: leveza e seriedade, vida e morte, medo e coragem, alegria e  tristeza. As ilustrações são de Veridiana  Scarpelli.
Editora  FTD. 32  páginas.  

(As obras apontadas  no Blog dos Livros  podem ser encontradas   junto à Revistaria e Livraria Nascente, na Rua Saldanha Marinho,   1423, Cachoeira   do Sul)