FATORES EMOCIONAIS E CÂNCER DE MAMA

Claudete Ventura Pedrão 
Psicóloga clínica
Especialista em Família e Casais

As doenças psicossomáticas são problemas físicos causados por sofrimento emocional. Elas representam a ligação direta entre a saúde emocional e a física. Ou seja: quando há um sofrimento psicológico, ele pode, de alguma forma, acabar causando ou agravando uma doença física.

Segundo Marty (1993) as doenças somáticas decorrem, geralmente, das inadequações do indivíduo às condições de vida que encontra. Isso já e verdadeiro nos primeiros momentos do desenvolvimento. Como as condições de vida jamais se apresentam de maneira adequada, o indivíduo deve se adaptar a elas da melhor maneira com os meios de que dispõe, nos limites que tolera de acordo com a idade, lugar e momento.

De acordo com Sifneos e Nemiah (in Zimermann,2000), os pacientes somatizadores apresentam dificuldade em conseguirem ler as suas emoções e, por isso, elas expressam-se pelo corpo.

O câncer é uma doença que se caracteriza pelo surgimento de células atípicas dentro do organismo, isto é, uma neoplasia que invade determinados órgãos dentro do organismo formando um tumor. Na mama, estas células, geralmente, desenvolvem-se dentro dos próprios ductos mamários ou ainda nas glândulas mamárias, o que acaba originando um nódulo ou calcificações no órgão.

De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), ele deve ser analisado como um problema de saúde pública que atinge indivíduos de todas as idades e, em todos os continentes, constituindo-se na segunda principal causa geral de morte por doença em todo mundo.

Entre os anos de 40 e 50, nos Estados Unidos, o câncer começou a se tornar um problema epidemiológico significativo, sendo Alexander um dos grandes promotores teóricos e institucionais do desenvolvimento da psicossomática nos Estados Unidos, defendendo a existência de uma identidade evolutiva e dinâmica entre os processos psíquicos e fisiológicos, ou seja, certas reações emocionais reativam conflitos internos que provocam modificações corporais específicas.  

Os primeiros estudos sobre aspectos psíquicos relacionados ao câncer inspiraram-se nestas fontes, tentando identificar as características de personalidade desses pacientes. Os resultados de muitos estudos indicam correlações estatisticamente significativas entre traços de personalidade, funcionamento mental, eventos da vida e a incidência e evolução de um câncer.   

O câncer de mama, frequentemente, só e percebido pela própria paciente quando é um nódulo clinicamente palpável. Quando isso acontece, o nódulo, provavelmente, encontra-se com mais de dois centímetros de diâmetro, o que indica, portanto, estágio II da evolução da doença.

Diagnósticos precoces podem ser obtidos através de mamografia, o que possibilita o encontro de nódulos ou calcificações em estágios iniciais da doença. Isso, porém, ocorre somente quando a mulher costuma realizar exames periodicamente, A indicação médica é de que as mulheres acima de quarenta anos realizem mamografia uma vez por ano.

No Brasil, fazer com que todas as mulheres acima de 40 anos façam mamografia é impraticável, visto que, em primeiro lugar, esse exame é dispendioso e, segundo os hospitais públicos não se encontram suficientemente equipados para dar suporte a todas pacientes.

Dessa forma, 60% dos casos de câncer de mama são diagnosticados em estágios III e IV, quando o tumor apresenta dimensões maiores que cinco centímetros, acarretando um tratamento mutilado e um prognóstico ruim.

Além da mastectomia que as pacientes porventura tem que fazer, o tratamento ainda pode implicar sessões de radioterapia e quimioterapia, que são traumáticos e desfigurantes.

Na psicanálise, o seio tem uma função primordial na estruturação do psiquismo, na relação entre mãe e seu filho e, também, entre mulher e seus objetos de desejo.

O câncer de mama é um fator altamente perturbador da economia psíquica feminina, do ponto de vista tanto individual como relacional, colocando em xeque suas representações corporais e sua feminilidade.