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Ferreira Gullar

22/02/2023 10:53 - por Tiago Vargas

Nascido em São Luis, capital do Maranhão, em 10 de setembro de 1930, José Ribamar Ferreira adotou o sobrenome Gularte de sua mãe para compor sua persona artística (adaptando a grafia portuguesa). 

Projetou-se nacionalmente a partir de 1950 com o poema Galo.

Em 1975, exilado em Buenos Aires, Gullar concluiu o célebre poema sujo, um longo texto de quase 100 páginas que chegou ao Brasil gravado em uma fita cassete trazido por ninguém menos que Vinicius de Moraes. A época Vinicius saudou a obra como o mais importante escrito em qualquer língua nas últimas décadas. Por sua vez, Clarice Lispector, saudou poema sujo como ‘’escandalosamente belíssimo’’. 

Neste contexto, pode-se dizer que, Pásargada está para Manuel Bandeira assim como poema sujo para Ferreira Gullar.

Colecionador de prêmios, Gullar, venceu o Machado de Assis da Biblioteca Nacional em 2005 e o Camões, a mais importante e destaca premiação em língua portuguesa no mundo em 2010.

Falecido recentemente, Gullar deixou uma obra sólida, forte, inovadora e ao mesmo tempo acessível.
 Sua linguagem poética mescla prosa, ritmo e poesia.

Enquanto autor e poeta, Ferreira Gullar foi uma de minhas principais influências. Inclusive um de seus principais poemas “Traduzir-se’’ é citado como referência em meu primeiro livro, Azedume de 2013.

[como definir Ferreira Gullar] Poesia única, de um poeta extraordinário.

Poemas de Ferreira Gullar

Agosto 1964
Entre lojas de flores
e de sapatos, bares,
mercados, butiques,
viajo num ônibus
Estrada de Ferro-Leblon.
Volto do trabalho,
a noite em meio,
fatigado de mentiras.
O ônibus sacoleja.
Adeus, Rimbaud,
relógio de lilases,
concretismo,
neoconcretismo,
ficções da juventude,
adeus, que a vida
eu compro à vista
aos donos do mundo.
Ao peso dos impostos,
o verso sufoca,
a poesia agora
responde a inquérito
policial-militar.
Digo adeus à ilusão
mas não ao mundo.
Mas não à vida,
meu reduto e meu reino.
Do salário injusto,
da punição injusta,
da humilhação,
da tortura, do horror,
retiramos algo e com ele
construímos um artefato
um poema
uma bandeira

 

 

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