Blog da Poesia
Sophia de Mello Breyner Andresen
Sophia de Mello Breyner Andresen foi umas das mais importantes poetisas portuguesas do século XX. Nascida na cidade do Porto em 1919, foi a primeira mulher a ser agraciada com a mais relevante distinção literária em língua portuguesa do mundo, o prestigiado Prêmio Camões, recebido em 1999. Como num ciclo, sua própria vida e lembranças se constituíram como fonte de inspiração para a escrita, numa linguagem caracterizada pela riquezas de símbolos, uso constante de elementos da natureza e uma ideia sui generis de poemas com valor transformador relevante e fundamental (poética intensa, libertadora, voltada para problemas sócio-políticos, atenta para as demandas coletivas). Influenciada pela clássica cultura grega e por escritores do porte de Fernando Pessoa foi uma poetisa de vanguarda. Arguta e luminosa. Impessoal e fluída. Da expressão concreta e precisa.
Instante
Deixai-me limpo
O ar dos quartos
E liso
O branco das paredes
Deixai-me com as coisas
Fundadas no silêncio
Pudesse Eu
Pudesse eu não ter laços
nem limites
Ó vida de mil faces
transbordantes
Para poder responder
aos teus convites
Suspensos na surpresa
dos instantes!
Liberdade
Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.
O MAR DOS MEUS OLHOS
Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma
E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes
Há mulheres que trazem o mar nos olhos
pela grandeza da imensidão da alma
pelo infinito modo como abarcam as coisas e os homens…
Há mulheres que são maré em noites de tardes…
e calma
Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias.
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