Blog da Poesia
Auber Lopes de Almeida
Auber Lopes de Almeida nasceu em 1966 em Cachoeira do Sul.
O jornalista e escritor, radicado em Porto Alegre, lançará no dia 12 de maio, na Biblioteca Pública Municipal Dr. João Minssen, Drops- Poesia em conta gotas, seu quarto livro, o primeiro pela Farol 3 Editores.
Fã de Augusto dos Anjos seus versos refletem o influxo, pelo menos em seus três primeiros trabalhos literários, “A estética da tristeza’’, “Nós dois’’ e “Memórias de uma vida hilária’’.
Em Drops, o autor subverte esta tensão e entrega-se ao lirismo (a graciosidade como virtude), tendo o amor como matéria prima essencial na forma de quadrinhas. Nos 140 poemas desprovidos de métrica, Auber consegue manifestar encantamento e leveza, mesmo em situações de comiseração e angústia.
Poética inteligente e inspiradora. De estética sofisticada e requintada. Objetiva e transparente.
Boa leitura e bom divertimento.
Por Tiago Vargas
Morbidez
Na poesia, admito o inadmissível
Assumo crimes, erros e defeitos
Entrego pontos fracos, do meu jeito
Tornando, assim, minha história mais crível.
Gosto da estética da tristeza
Dores parecem ter mais conteúdo
Agrego lamentos a isso tudo
Resquícios de uma vida sem leveza
Literatura é minha terapia
Faz minha vida ser menos vazia
Ainda que tenha pouco valor
Sou meu próprio médico e reconheço
De uma doença terminal padeço
O remédio, inalcançável: amor.
O amor é bem curioso
Faz o sério ficar bobo
Faz o feio ser charmoso
Faz o frouxo virar lobo.
Auber Lopes de Almeida
Trago
Escrevia meus delírios etílicos quando
Traído pela cachaça, cai numa armadilha:
- Onde diabos foi parar a tecla do cedilha?
Auber Lopes de Almeida
Ontem
Não esperava que me visses assim
Desfigurado, sem máscaras
Meu mundo devassado
A mediocridade vindo em ondas
Num copo de cachaça
Cicatrizando o passado
Me tornaste confusão com um olhar
Deixando-me nu, tão longe de casa.
Auber Lopes de Almeida
Se quiseres ser minha dona
Eu serei um servo fiel
Me dá um pedaço de terra
Que te darei um pedaço do céu.
Auber Lopes de Almeida
O amor é bem curioso
Faz o sério ficar bobo
Faz o feio ser charmoso
Faz o frouxo virar lobo.
Auber Lopes de Almeida
Era Ana ou Adriana
Mariana ou coisa assim
Não fez nenhuma semana
Começou e deu-se um fim.
Auber Lopes de Almeida
Tão afeito ao idioma
Queria uma nova vivência
Nascer nas entrelinhas
Morrer nas reticencias.
Auber Lopes de Almeida
POEMAS POESIAS VERSOS
Hoje
Hoje despertei mais cedo para assistir o amanhecer.
Tirei o pijama, coloquei meu melhor perfume.
Escovei os dentes e tirei da caixa os brincos novos.
Com a xícara de café em punho posicionei-me a contemplar o sol nascer.
Hoje resolvi não me preocupar com a casa.
Dar mais colo aos meus filhos.
E no almoço cozinhar algo especial.
Servi tudo em louças novas, que guardava somente para as visitas.
Em época de Ano Novo, Aniversário ou Natal.
Hoje tirei a etiqueta de algumas toalhas de banho, lindamente bordadas.
Coloquei em meu banheiro.
E em minha mesa da cozinha, abri o pacote e usei uma toalha de cetim.
Que há muito tempo ganhei de presente da minha vó.
Hoje dei importância a cada minuto do meu dia.
Prestei atenção no formato de cada nuvem no céu.
Escutei o barulho do vento balançando as árvores.
Senti a brisa do entardecer tocando levemente o meu rosto.
Hoje não cuidei as horas, nem sequer olhei para o relógio.
Esqueci-me que o tempo não para.
Mas em minha memória convicta.
O pensamento dizia que a vida é tão rara.
Andréli Deicke
Horas sentada diante do espelho
Pisquei três vezes, respirei fundo
E busquei palavras
Não as encontrei...
A menina que habita em mim
Morreu!!!
Não existe mais riso alto
Cambalhotas sobre a cama
Pés descalços na relva e na chuva...
Nem percebi quando ela adoeceu
Não me dei conta que ela cresceu
Não lembro quando paramos de brincar...
Entrei em luto
Chorei por dias
Tranquei-me no quarto
Revirei suas coisas
Reli seus manuscritos
Tirei seus segredos dos esconderijos
Juntei as fotos de seus amores
Perfilei sobre a cama todos os seus poemas...
Vou sentir saudades da menina
Que habitava em mim...
Pisco novamente
Olho para o espelho
Uma simpática senhora sorri
Devolvo-lhe o sorriso
Somos cúmplices!
Acho que será uma boa companheira
Para fazer versos e contar segredos
Nesta outra metade de vida que existe em nós!
Mara Garin
A PARTIDA
Antes de partir,
percorreu todas as estradas
do corpo, da alma
e do coração.
Escancarou janelas
abriu portões,
revirou tudo que havia
escondido dentro de mim.
Jogou fogo nas lembranças
e arrastou pelo mundo
a esperança que morava aqui.
Neicla Bernardes
"Fundo do Poço"
Brasília tropical
Senado capital
Paraíso federal
Um prato deitado
Um prato emborcado
Castelo de papel
Peões a granel
Sonho de poucos
Utopia dos roucos
Espetáculo circense
Escândalo forense.
Renate Elisabeth Schmidt
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