Fundador de Cachoeira

Nascido em Laguna (SC), filho de nobres portugueses e um dos fundadores de Cachoeira do Sul, Francisco de Loreto foi homenageado por descendentes com uma placa instalada no Museu Municipal Edyr Lima. Trazendo seu nome junto à frase “A história é escrita por visionários que independentemente do tempo e da morte nos deixaram legados”, a placa foi confeccionada pelos irmãos Marta Wochner e Marcelo Melo, moradores de São Leopoldo.

Francisco de Loreto nasceu em 1742 e veio para Cachoeira em 1820, no ano de instalação do município, quando ganhou uma sesmaria, lote de terra virgem distribuído aos beneficiários em nome do rei de Portugal. O lote recebido por Francisco de Loreto ficava no hoje Bairro Gonçalves, que ainda é chamado de Alto dos Loretos. Na mesma região fica a Rua dos Loretos, uma homenagem a ele.

OITO FILHOS
O falecimento de Francisco de Loreto ocorreu em 1828, oito anos após ter se mudado para Cachoeira. Ele era casado com Rosa Luiza Gonçalves, com quem teve oito filhos. Estudos e pesquisas em documentos do Arquivo Histórico Municipal apontam que Francisco de Loreto tem uma infinidade de descendentes em Cachoeira, já que foi um dos primeiros moradores da cidade.

Descendentes históricos

O professor Rui Carlos Loreto é um dos descendentes de Francisco de Loreto que reside em Cachoeira do Sul. Há anos ele pesquisa sobre a família. Ele ressalta que Francisco de Loreto foi o patriarca dessa família no Rio Grande do Sul e que seus descendentes, hoje, estão espalhados pelo mundo. “Alguns vultos históricos, de projeção nacional, fazem parte da árvore genealógica de Francisco, como os ilustres cachoeirenses Ramiro Barcellos, David Barcellos e Liberato Salzano Vieira da Cunha”, exemplificou.

PESQUISA DE LORETO
História da família Loreto em Cachoeira do Sul

* “O povo judeu, também chamado de hebreus ou israelitas, desde os tempos remotos até o século 20, com a criação do Estado de Israel, sempre estiveram ativos nas sociedades ao redor do mundo. Contudo, esse povo sempre foi perseguido e na Segunda Guerra Mundial, devido ao ódio nazista, estiveram à beira do extermínio, o que até os dias de hoje ainda resulta no preconceito e no repúdio ao povo judeu”. 

* “Na Europa medieval, a comunidade judaica sofreu constantes ataques. Milhares de judeus foram vítimas da Santa Inquisição (tribunal da Igreja Católica que julgava os hereges), que perseguia não católicos, principalmente, os judeus. O que significava que viver em Portugal seria apenas para os convertidos na fé católica. Sendo assim, muitos judeus resolveram aceitar o cristianismo, mesmo que fosse algo superficial, por segurança. Surgiram assim os cristãos-novos, que seguiam praticando o judaísmo e eram denunciados ao Tribunal do Santo Ofício, que aplicava severas penas como prisão perpétua, confisco de bens e a morte”.

* “Em 2021, completou-se 200 anos do fim da Inquisição Portuguesa, que atingiu o Brasil colônia, com muitos relatos, além de documentos de julgamentos e punições. Os judeus convertidos tornaram-se cristãos-novos e souberam aproveitar as oportunidades, o que resultou em eventos e participações importantes tanto na história mundial como no cotidiano local, o que inclui Cachoeira do Sul. Vicente Anes Bicudo teve um dos seus filhos, Matias Bicudo, que atuou como informante do rei português, realizando serviço para o embaixador de Roma, atuando no Egito e Síria, que convertendo-se ao catolicismo, tornou-se frei católico”.

* “Outros filhos de Vicente Bicudo (judeu convertido) vieram para o Brasil, entre eles, Antônio Bicudo, cujos descendentes rumaram para a região sul, sendo Laguna, em Santa Catarina, um dos lugares que fixaram residência. Uma das figuras históricas que descendia de Vicente Bicudo foi Anita Garibaldi, famosa pela atuação na Guerra dos Farrapos ao lado do italiano Giuseppe Garibaldi, de quem se tornou esposa. E foi na cidade de Laguna que Domingas Cordeiro Bicudo se casou com Dom Antônio de Loreto Fernandez de Córdova-Figuerôa, natural de Aragão, da Espanha, descendente dos Duques de Medinaceli”. 

* “Dessa união, um dos filhos foi Francisco de Loreto, que recebendo sesmaria do governo imperial, rumou com sua família para o Rio Grande do Sul, se estabelecendo no local onde hoje é Cachoeira do Sul. O vínculo judaico ocorreu pela origem portuguesa da família Bicudo, cuja mãe de Francisco de Loreto, Domingas Bicudo, pertencia ao núcleo dos cristãos-novos que saíram da Europa e imigraram para o Brasil”.

ATENÇÃO
O art. 6 da Lei da Nacionalidade (37/81) e o artigo 24-A do Decreto-Lei 237-A/2006 garantem o direito à naturalização para os descendentes de judeus sefarditas portugueses. Essas legislações dão acesso à cidadania portuguesa para descendentes de Francisco de Loreto. Marta Wochner, que o homenageou com a placa, foi a primeira descendente dos Loretos a conseguir a cidadania. Rui Loreto já está com a documentação em análise, em Portugal, para obter a sua.