Blog da Arquiteta

A arquitetura e o transtorno do espectro autista(TEA)

09/04/2024 11:26 - por Luiza Pereira Ribeiro

Em comemoração ao 2 de abril

Meu Trabalho de Conclusão de Curso foi uma das menções honrosas da UFSM Cachoeira do Sul e do Rio Grande do Sul a concorrer o Prêmio IAB RS – José Albano Volkmer! Com muito orgulho, dentre tantos temas interessantíssimos fui a única pessoa a abordar temática da arquitetura para pessoas diagnosticadas com autismo. Para comemorar o dia 2 de abril, Dia Mundial de Conscientização do Autismo, trouxe um trecho da minha pesquisa sobre como a arquitetura pode se tornar uma ferramenta de desenvolvimento para pessoas com TEA.

Tema: Centro de Apoio para pessoas com autismo.

Objetivo: Arquitetura inclusiva e sensorial para espaços de atendimento e convívio. 

Orientação: Olavo Avalone Neto 

Devido a sensibilidade sensorial das pessoas com autismo, os ambientes devem ser projetados estrategicamente para minimizar os efeitos inoportunos, como a sensibilidade à luz, ruídos, cores, odores entre outros. A maioria dos diagnosticados distraem-se com os detalhes que o ambiente oferece, portanto, as estimulações em excesso podem prejudicar a função principal a ser desenvolvida pelo indivíduo.

Pensando nisso, muitos autores ficaram intrigados com este modo diferente de enxergar o ambiente e decidiram ir em busca de metodologias que trouxessem melhor qualidade para os espaços arquitetônicos em que as pessoas com autismo se inserem. 

Destaco uma autora que desenvolve métodos de projeto a fim de apresentar aspectos importantes que auxiliam na melhora da qualidade de espaços físicos para pessoas diagnosticadas com TEA. Mostafa em 2008, conceitua e estrutura uma série de diretrizes para adequação de espaços para pessoas com autismo, logo, em 2014 ela os aplica em um centro de atendimento para pessoas com autismo na cidade de Cairo, no Egito, onde pode avaliar e aperfeiçoar a metodologia através da observação de comportamentos específicos de cada indivíduo, identificando melhora ou piora em ambientes de teste e controle, assim como questionários aplicados aos pais e professores. Então em 2015, Mostafa apresenta seu método chamado "Autism ASPECTSS ™ Design Index" como uma ferramenta de adequação e avaliação de ambientes construídos. 

Mostafa estipula sete critérios elementares de adequação espacial: acústica, sequenciamento espacial, espaços de escape, compartimentalização, espaços de transição, zonamento sensorial e segurança. Em suma:

1. Acústica: principal critério considerado para o design dos ambientes para pessoas com autismo, devido a hipersensibilidade de alguns e a distração com relação às atividades que necessitam de foco no tratamento educacional e terapêutico. As estratégias adotadas seriam a utilização do isolamento acústico gradativo, evitando ecos e selecionando objetos que emitem poucos ruídos;

2. Sequenciamento espacial: vem com a intenção de manter a rotina necessária para conforto do diagnosticado, mantendo a zona de segurança entre mudanças de ambientações e atividades. Foi constatado que a definição de padrões com a previsão de elementos e atividades diminuem as sensações de surpresa, evitando estímulos negativos;

3. Espaço de escape: considerado um espaço de refúgio sensorial para pessoas que possuam sobrecarga sensorial. Este ambiente recebe o mínimo de estimulações sensoriais, elementos controlados e de relaxamento. Tem fácil acesso e com possibilidade de permanência prolongada;

4. Compartimentalização: tem objetivo de reduzir estimulações sensoriais, pode isolar atividades através do layout de mobiliário para que cada uma seja realizada em uma região específica do ambiente;

5. Espaços de transição: permite suavizar a troca de atividades através de zonas neutras com baixa estimulação sensorial, como por exemplo jardins terapêuticos e circulações neutras;

6. Zoneamento sensorial: tem como objetivo separar as atividades em níveis de intensidade, agrupadas por semelhança e organizadas de forma gradual para que possibilite a sensação de previsão de atividades, impedindo mudanças bruscas, garantindo maior segurança ao usuário;

7. Segurança: este critério diz respeito a utilização do espaço pelos usuários. Tem objetivo de proteger o usuário de situações de risco através de estratégias arquitetônicas e de design como delimitação de acessos, zonas, equipamentos, entre outros. 

Segundo Mostafa, estes aspectos são baseados na Teoria do Design Sensorial que trata o ambiente sensorial como um ator no processo de percepção e desenvolvimento do comportamento. Esta Teoria foi testada e comprovado o aumento da atenção, tempo de resposta e melhora comportamental principalmente em pessoas com autismo com níveis severos de apoio.

Faça seu login para comentar!