Blog Do Mistério

A rua dos queimados

23/02/2023 13:56 - por Gisele Wommer

Em 1763 a família Espinosa fez as malas na Espanha e as desfez no México. No México o patriarca da família tinha apenas uma preocupação: casar a filha Beatriz, que já estava com 17 anos.

Beatriz Espinosa era dona de uma beleza incomum. No não faltou quem lhe propusesse casamento, a casa da família ficava no fim de uma rua, onde o trânsito de rapazes passou a ser frequente, apenas na esperança de ver a bela Beatriz na sacada.

Certa feita, a família foi convidada para um jantar na casa de um nobre, na ocasião o marquês italiano Martín de Scópoli conheceu Beatriz. No fim da noite procurou seu pai e a pediu em casamento, dizia-se encantado e apaixonado. O senhor Espinosa pediu um tempo para pensar e disse que entraria em contato. 

Martín de Scópoli não podia esperar e ouvia pela cidade os comentários sobre a beleza da jovem e o assédio que a família estava sofrendo em casa, com tantos rapazes querendo vê-la. Dominado pelo ciúme, o homem alugou a casa em frente a da família Espinosa e prometeu que mataria com as próprias mãos todos aqueles que se aproximassem de Beatriz.

E ele era um homem de palavra. Todos perceberam quando os corpos começaram a aparecer ao redor da casa dos Espinosa. Alguns com marcas de pólvora, outros furados a faca. Beatriz tinha gostado do marquês no dia que o conheceu, mas era jovem e não sabia lidar com homens vivos, que dirá com aqueles mortos ao redor de sua casa. Todos sabiam quem era o responsável, mas naquele tempo, não se tinha o hábito de investigar os nobres.

Em uma tarde ela ouviu o choro de uma mãe, que estava agarrada ao corpo do filho e foi retirada dali por populares. Sua irmã mais nova entrou em seu quarto e lhe acusou de ser causadora de tantas dores com sua beleza maldita. Beatriz andou até a cozinha. Tirou uma porção de brasas do fogão e colocou sobre um recipiente, na sequência afundou ali o próprio rosto.

Acordou algum tempo depois, deitada em seu quarto, com emplastos e panos colados na face. Doía, seu rosto ardia como se as brasas ainda estivessem ali, suas narinas farejavam cheiro de queimado. 

— Diga a todos eles que acabou. Já não há beleza a ser visitada nesta casa, apenas uma aberração — foram as primeiras palavras da jovem.

O marquês visitou a família poucos dias depois e refez a proposta de casamento. O pai de Beatriz respondeu que ela já não serviria mais como esposa, não poderia acompanhar o marquês a lugar algum, possivelmente nem seria mais vista em público. Haviam chamado um médico, que afirmou o que todos desconfiavam: mesmo com todas as panaceias disponíveis, o rosto jamais voltaria ao normal.

— Nada disso me importa — replicou o marquês — naquela noite falei com sua filha sobre amor, não beleza. Conheci na vida muitas moças belas, mas Beatriz me fez lembrar que tenho um coração.

A família Espinosa ficou estarrecida com a reação do marquês, o pai concedeu a mão da filha em casamento, na condição de que ela concordasse. Em uma conversa de alguns minutos com Martín, Beatriz aceitou ser sua esposa, mediante a promessa dele de que não voltaria a matar ninguém.

Desde o dia que casou, Beatriz nunca mais tirou um véu da cabeça, viveu sempre como uma mulher de face misteriosa. A rua das casas onde o casal traçou sua imperfeita história de amor ficou conhecida como a Rua dos Queimados.

*** Lenda Urbana do México.

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