Blog dos Livros
Dilemas de Kenzaburo
Prêmio Nobel de Literatura em 1994 e falecido na última semana, aos 88 anos, o escritor japonês Kenzaburo Oe escreveu “Adeus, meu livro” (Editora Estação Liberdade, 448 páginas, R$ 84,00), que integra uma trilogia do autor, da qual também faz parte “A substituição ou As regras do Tagame”, publicado pela mesma editora no ano passado.
Kogito Choko, alter ego do próprio Kenzaburo Oe e protagonista de “A substituição ou As regras do Tagame,” está de volta em “Adeus, meu livro.” Agora mais velho e convalescente depois de ter sido ferido, recebe no hospital a visita de Shigeru Tsubaki, um amigo de infância com quem vai morar, após a alta, numa propriedade de veraneio próxima a Tóquio.
A partir do encontro e de muito diálogo entre os dois personagens, Oe, que é mestre na arte de permear a literatura com experiências de sua vida pessoal, oferece aos leitores uma vasta gama de assuntos e dilemas que, sendo caros ao autor, tal como são postos, são também de interesse da humanidade. Fala-se de literatura, arquitetura, cinema, música; fala-se de política, guerras, suicídio e envelhecimento; e fala-se das relações familiares, do Japão e do mundo.
A dinâmica de duplos não se limita a Kogito e Shigeru. Há espelhamento nas relações de outros personagens. Espelhamento também entre vivos e mortos. Ocidente e oriente. E, no fundo, talvez o mais significativo: entre externo e interno. Kogito, adepto de longa data do pacifismo, encontra-se num dilema próprio: participar ou não de um ato violento para garantir dos danos o menor, ao invés de tentar evitá-lo de todo. A decisão terá que ser tomada ou por sua parte exterior, social e pacifista, através da qual ele é reconhecido, ou pela interior e recôndita, que guarda segredos dos mais inesperados.
Nascido em 1935 em Ose, vilarejo das florestas de Shikoku, a menor das quatro principais ilhas do Japão, Kenzaburo começou a escrever em 1957, compondo um poderoso ensaio sobre o bombardeio atômico de Hiroshima e o terrível legado da catástrofe e assumindo uma posição pacifista e antimilitarista que marcaria fortemente sua vida. O livro chamava-se “A presa,” narrativa sobre um piloto afro-americano que é capturado por aldeões japoneses rurais nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial.
Por seu posicionamento, Kenzaburo era malvisto pelos conservadores e militares, mas isso nunca abalou suas crenças. Recebeu diversos prêmios além do Nobel de Literatura e seus escritos foram adaptados seis vezes para o cinema.
Trecho:
“No torso do jovem, nu e liso como uma prancha, viam-se tatuagens tênues e simétricas. O que causava forte impressão eram os olhos muito negros que devolviam para a câmera um olhar repleto de melancolia e desconfiança e os lábios repletos de uma ingenuidade provocante. A foto ao lado era a de um japonês quase chegando aos quarenta anos, vestindo uma camiseta com um logo dos que se costuma encontrar à venda nos centros acadêmicos das universidades. A força encantadora de seus olhos e lábios era semelhante à do outro retrato.”
(página 273)
LIBERDADE FEMININA
Sara Fidélis, escritora conhecida pelos seus romances adultos e abordagem de temas como a liberdade sexual feminina, está lançando “Era uma vez no século XXI” (Editora Naci, 256 páginas, R$ 69,90). A história é de Maria Eduarda, funcionária de uma livraria que adora ler romances de época, que, em um passe de mágica, se vê diante de um príncipe do século XIX à sua frente e embarca de vez nesta aventura.
NOVO LIVRO DE RITA
“Outra autobiografia” é o nome do novo livro da cantora Rita Lee, anunciado por ela mesma nas redes sociais. O livro é focado nos últimos três anos, entre a pandemia e o seu diagnóstico de câncer, e deverá ser lançado oficialmente no dia 22 de maio deste ano. Conforme foi anunciado, trata-se de “um texto franco, ora cru e chocante, ora cheio de ironias, ora sutil e amoroso, não poupando detalhes de seu tratamento.”
Leituras:
“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.”
(Rui Barbosa (1849-1923), jurista, advogado, político, diplomata, escritor, jornalista, tradutor e orador, um dos intelectuais mais conhecidos de seu tempo).
Destaques:
MEDICINA MACABRA
Autores: Barry E. Zimmerman e David J. Zimmerman
Neste livro, os autores apresentam um estudo sobre doenças infecciosas e os agentes que as causam. É dividido em onze capítulos que abrangem extensas e diversas áreas, desde a história das doenças, como foram tratadas ao longo do tempo e os pesadelos que ainda estão pela frente, especialmente o bioterrorismo, talvez o maior deles. Ainda conforme os autores, é um livro de descobertas, que mostra o melhor e o pior do ser humano, sobre a Medicina em constante evolução, da superstição à ciência de ponta. Graduados em Medicina e com mestrado em microbiologia, os escritores são gêmeos e residem nos Estados Unidos, ambos com vários livros publicados.
Editora Macabra Darkside. 261 páginas. R$ 79,90.
TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE NEGOCIAÇÃO
Autor: Peter Sander
O livro é um guia que se propõe a facilitar a compreensão do mundo dos negócios de modo fácil e direto. Recheado com dicas, conceitos e truques, apresenta a arte de negociar em qualquer situação, não importando se o leitor é empresário, gerente ou estagiário. O autor é escritor, pesquisador e consultor nas áreas de finanças pessoais, liderança empresarial e gestão da inovação.
Editora Gente. 220 páginas. R$ 39,90.
(As obras apontadas no Blog dos Livros podem ser encontradas junto à Revistaria e Livraria Nascente, na Rua Saldanha Marinho, 1423, Cachoeira do Sul)
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