Família e Espiritismo
O Livro dos Espíritos, em sua questão 775, nos traz o esclarecimento dos Benfeitores Espirituais para o questionamento: “Qual seria para a sociedade o resultado do relaxamento dos laços familiares? Uma recrudescência do egoísmo”.

Por desconhecer a finalidade desta instituição chamada família, grande parcela da humanidade duvida de sua importância, despreza sua estrutura e desvaloriza seus laços consanguíneos e afetivos. Conforme nos ensina Joanna de Ângelis: “A família é a base fundamental sobre a qual se ergue o imenso edifício da sociedade. Toda vez que a família se enfraquece, a sociedade experimenta conflitos, abalada nas suas estruturas”.

A Doutrina Espírita vem ampliar nossos horizontes para além da vida material e nos revela a vida do Espírito imortal. Impulsionados pela Lei do Progresso, somos submetidos a vivenciar diferentes experiências no plano físico, nas mais diversas situações, para aquisição do conhecimento e elevação da moral. Seria impossível progredir sem a reencarnação, pois o Espírito reencarnante vem do mundo espiritual para progredir, para aprender. 

Instituição Divina
Deus, nosso Pai, conhecendo profundamente nossas fragilidades e vicissitudes, criou um mecanismo para nos auxiliar a combater o egoísmo: a família, onde a proximidade física e os laços de afetividade trabalham na destruição deste vício, ampliando o sentimento de amor e fraternidade.

Na busca do progresso e da evolução é indispensável que reencarnemos e, para isso, já chegamos ao mundo físico devendo gratidão ao nosso pai e nossa mãe, pela oportunidade que nos foi concedida de regresso à vida corpórea. O Evangelho Segundo o Espiritismo, em seu Capítulo XIV, nos diz: “Os laços de sangue não estabelecem necessariamente os laços entre os espíritos.

O corpo procede do corpo, mas o espírito não procede do espírito. O pai não gera o espírito do filho, fornece-lhe apenas o envoltório corporal. Mas deve ajudar seu desenvolvimento intelectual e moral, para fazê-lo progredir. Os espíritos que se reencarnam em uma mesma família, sobretudo entre parentes próximos, são o mais frequentemente, espíritos simpáticos, unidos por relacionamentos anteriores que se traduzem por sua afeição durante a vida terrena.

Mas pode ainda acontecer que esses espíritos estejam completamente estranhos uns para os outros, separados por antipatias igualmente anteriores, que se traduzem também por seu antagonismo na Terra, a fim de lhes servir de prova”. E concluem seus ensinamentos: “Os verdadeiros laços de família não são, pois, os da consanguinidade, mas os da simpatia e da comunhão de pensamentos que unem os Espíritos ANTES, DURANTE E APÓS SUA ENCARNAÇÃO”.

Famílias espirituais e famílias corporais
Existem as famílias espirituais e as famílias corporais. As espirituais, ligadas pelos laços do espírito, pelas afinidades, são duráveis, fortalecem-se pela depuração, crescimento e evolução dos seres e reencontram-se no Plano Espiritual. A misericórdia Divina proporciona também seu reencontro periódico no plano físico, seus membros estão ligados pelos laços eternos do amor.

As famílias corporais, ligadas somente pelos laços corpóreos, são frágeis como a matéria e as diferenças e as dificuldades de convivência revelam a necessidade do esforço, da dedicação e do empenho para que possamos transformá-la em extensão da nossa família espiritual. A obrigatoriedade de vivermos em família faz com que acabemos desenvolvendo os vínculos de afetividade entre os espíritos afins ou devedores que se reencontram, para que um dia possamos formar a família universal que Jesus nos ensinou: “um só rebanho, um só pastor”.

Deus nos dá a missão de amar
Não existe acaso na Criação, família é a instituição divina com planejamento que antecede esta vida física e que tem como objetivo o crescimento espiritual de todos os seus membros. O nosso reencontro com o passado é inevitável, não alcançaremos os mais altos degraus da evolução sem nos harmonizarmos com todos a nossa volta, especialmente nossos familiares, que nos são mais íntimos ao coração.

O lar é a escola que Deus criou para que pudéssemos aprender a convivência fraterna, a amar de diferentes formas. Se a família fracassar nesta tarefa de reeducar o Espírito que chega, a sociedade sofrerá as conseqüências trágicas deste fracasso, abalada na sua estrutura e mergulhada no caos.

Não importa a estrutura da nossa família, o que realmente importa é aproveitarmos a oportunidade de aprendizado que Deus nos oferta através da convivência que poderá ser de carinhos, amor, fraternidade, perdão, entendimento, alegrias e evolução. Esta é a grande proposta de Deus para estabelecer na Terra uma família universal, unidos pelos laços de amor e fraternidade.

No livro “Jesus no lar”, pelo Espírito Néio Lucio, psicografia de Chico Xavier, anotamos importantes lições para nossa tarefa de bem vivermos em família: “O berço doméstico é a primeira escola e o primeiro templo da alma. A casa do homem é a legítima exportadora de caracteres para a vida comum... A paz do mundo começa sob as telhas a que nos acolhemos. Se não aprendermos a viver em paz, entre quatro paredes, como aguardar a harmonia das nações? Se não nos habituarmos a amar o irmão mais próximo, associado à nossa luta de cada dia, como respeitar o Eterno Pai que nos parece distante?”.

KARDEC, Allan – “O Livro dos Espíritos”, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.
XAVIER, Francisco Cândido (Néio Lúcio) – “Jesus no lar”.
FRANCO, Divaldo (Joanna de Ângelis) – “Constelação familiar”.