Blog Do Mistério

Um conto indígena

13/04/2023 09:33 - por Gisele Wommer

Certa feita, andavam dois indígenas pelas matas ao redor de uma das aldeias indígenas de Cachoeira do Sul. Os mais velhos sempre alertaram para os perigos de alimentar-se à noite, quando a lua já se mostrava brilhante no céu. Mas, naquela noite, algo diferente aconteceu.

Eram tempos ruins de caça, e não se entendia bem o motivo. Eles andaram muito pelas matas ao redor da aldeia, era noite, sem sucesso na empreitada, decidiram voltar. Eis que encontram um tatu pelo caminho, manso, o bicho só percebeu o perigo que o cercava tarde demais.

Era para levar a caça para a aldeia, mas a fome, naquele momento, falou mais alto. Os indígenas desconsideram as regras que tanto respeitaram. Fizeram fogo e assaram o tatu ali mesmo. Estavam felizes se alimentando quando um barulho na mata os distraiu. Um ser demoníaco correu de lá, tão depressa que eles nem souberam o que lhes atingiu.

Estava escuro, a coisa forçou ambos os homens contra o chão. Uma força descomunal os impedia de se mexer. O ser era escuro e estava trajado com fios que escondia seu rosto, se é que ele tinha um.

Depois de muito esforço um dos homens conseguiu se soltar e desesperado correu até a aldeia. Outros indígenas seguidos do pajé se deslocaram apressados até a mata. O homem encontrava-se em transe, no chão. 

O pajé realizou um pequeno ritual e conseguiu salvar o sujeito daquela alma ruim. Alertou o restante da tribo de que algo muito maligno saiu da floresta para atacar a aldeia. Desde aquele fato ninguém mais caçou de noite, ou mesmo se alimentou. As tarefas deviam ser realizadas durante o dia e as noites serviriam para zelar pelo bem-estar da aldeia e para os rituais que mantinham as forças do mal longe dali.

* História narrada por um integrante de uma aldeia indígena do interior de Cachoeira do Sul.

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