Blog do Cinema (antigo)
Novo Alien volta as origens amedrontadoras e repugnantes da franquia
Alien Covenant
Quando foi lançado em 1979, Alien - O Oitavo Passageiro foi um filme extremamente significativo para os filmes de terror e ficção cientifica da época. Sem menosprezar outras obras, o primeiro Alien foi precursor em misturar estes dois gêneros que ainda não se organizavam em franquias, possuíam grupos de fãs ou tinham excesso de exposição midiática para seus lançamentos.
Uma origem inovadora
A história de "Alien - O Oitavo Passageiro" não era nada simples para época. Um grupo de mineradores espaciais pousa sua nave, Nostromo, em um planeta desconhecido, atendendo um chamado de socorro. Lá encontram um corpo extraterrestre gigante com o peitoral aberto de dentro para fora. Também acham um ninho de ovos de algo parecido com couro.
Um dos mineradores ao mexer nos ovos tem o que aparenta ser um animal preso ao seu rosto. Ao ser levado de volta para nave descobre-se que ele está incubando uma criatura alienígena xenomorfa que mata o hospedeiro e passa a exterminar todos os outros passageiros da nave. O filme está em vários serviços de streaming da internet. Vale a pena procurar.
Procura-se um Alien
Era outra época, a do lançamento do primeiro Alien. Confeccionar uma criatura, como o xenomorfo, não era fácil. Todos os efeitos visuais eram práticos e não havia CGI (efeitos por computador) como hoje. Para se ter uma ideia, um dos maiores problemas do diretor Ridley Scott (Perdido em Marte, 2015) foi encontrar alguém que conseguisse vestir a roupa do alienígena da fita.
Depois de ver testes com jogadores de basquete e acrobatas falharem, a produção do filme descobriu um homem africano gigante, o nigeriano Bolaji Badejo, que conseguia não só entrar na roupa, como ter também destreza em se deslocar com a máscara do bicho. Esta era extremamente desconfortável e sozinha pesava mais de dois quilos.
Um Alien Imaginário
Para aumentar a veracidade do Alien, Scott decidiu utilizar uma técnica de outro filme de suspense, Tubarão(1975), de Steven Spielberg. Nele pouco se mostrava do monstro, e ainda assim o medo das pessoas só aumentava por imaginarem o desconhecido.
Arrancando emoções
As próprias emoções e reações dos atores eram trabalhadas de outra forma. Enquanto hoje o CGI permite inúmeras gravações dos protagonistas em tela verde, o gênio Ridley Scott tentava captar o medo verdadeiro das pessoas em cena.
Nas gravações, por exemplo, no momento em que o alienígena aparece pela primeira vez, o script apenas explicava aos atores que estes deviam se aproximar do hospedeiro moribundo desesperado e então, como estava escrito no roteiro, "a criatura surge".
O primeiro susto
O ator John Hurt (V de Vingança, 2005), infectado pelo extraterrestre, ficava deitado embaixo de uma mesa apenas com sua cabeça de fora, conectada a um boneco que simulava um corpo humano apresentando espasmos estertores.
Enquanto se aproximavam do peito falso nenhum dos artistas esperava que um horrível ser eclodisse de dentro do torax do hospedeiro. As quatro câmeras em cena conseguiram então captar o espanto e horror real de quem participou da cena. Reza a lenda que os atores demoraram a se recompor da situação, de tão realista a forma como foi gravada.
Novo milênio, velho Alien
Como já disse eram outros tempos, outras técnicas e outras formas de interpretação. Pois quase quarenta anos depois Scott se deu a missão de voltar ao universo de Alien e no novíssimo filme, Alien: Covenant, tenta fazer as novas gerações conhecerem a franquia e, com alguma sorte, obterem as mesmas sensações de terror vivida pelos cinéfilos de 1979.
Continuando Prometheus
O novo filme é continuação imediata de Prometheus (2012), outra obra de Ridley Scott, que pretendia explicar alguns mistérios deixados no Alien de 1979. A película inclusive se aventurava a ir além da criatura, lançando teses sobre o início da vida na terra.
Em Covenant vimos a nave colonizadora de mesmo nome ser atraída por um sinal de rádio a um planeta desconhecido (como no primeiro Alien). A nave, que deveria levar sete anos para chegar ao seu objetivo, opta por fazer uma parada no novo mundo onde encontra condições de vida similares as da terra para instalar sua colônia de quatro mil pessoas. Estes ainda em hibernação por sono criogênico.
Um péssimo bom lugar para se viver
Ao chegar no planeta a tripulação de oito casais encontra oxigênio, plantações de algo similar a trigo e boas paragens para colônia. Em compensação também se depara com um parasita transmissível pelo ar, já visto em Prometheus, um estranho habitante humanoide e centenas de criaturas xenomorfas que ainda não aparentam o aspecto tradicional dos Alien.
A partir dai o filme conta uma nova história, com muitos sustos, cenas nojentas e impactantes, bem como segredos a serem revelados sobre quem é o naufrago misterioso e suas verdadeiras intenções.
Cinéfilos experientes para enfrentar o Alien
Além: Covenant é um ótimo filme de reapresentação da série. As cenas repugnantes e amedrontadoras, mas com sentido, do primeiro Alien, permanecem nesta fita. Temos claro um pouco mais de conhecimento em filmes de terror do que na década de setenta para perceber qual ação levará a próxima vítima a ser executada, mas nada que afete a experiência da obra.
Inteligência Artificial e Independência feminina
Estão neste filme também os questionamentos sobre a fidelidade da inteligência artificial, algo já desenvolvido no primeiro Alien, bem como o incentivo a independência feminina.
Em "O oitavo passageiro" conhecemos uma das primeiras girl-power, da história do cinema sci-fi, com a tenente Ripley, vivida por Sigorney Weaver (Avatar, 2009). Já em Covenant este papel cabe a Daniels Branson, interpretada pela atriz inglesa Katherine Waterston de Animais Fantásticos e Onde Habitam (2016).
Daniels é recém viúva do capitão da nave, Jacob Branson (James Franco, Planeta do Macacos, 2011) , morto em cena sufocante do início do filme. A ela cabe ser a grande antagonista da criatura, auxiliada e traída várias vezes pelos demais integrantes da tripulação.
Se adaptando ao tempo
A franquia Alien tem conseguido se adaptar ao tempo em que é apresentada, se modificando para estar mais perto da linguagem utilizada na época. O primeiro Alien é um filme de terror, típico dos anos setenta. Já o segundo, Alien - O Resgate, de 1986, é um filme de ação comparável aos Rambos e Duros de Matar que iniciavam sua trajetória na mesma década.
Alien 3 (1992), por sua vez, se apresenta como um filme mais soturno, em uma prisão galáctica, bem aclimatado com o espírito depressivo dos início dos anos 90. Já Alien 4, Ressurection, de 1997, nos traz o debate sobre clones e o início das utilizações de CGI no cinema. Isto possibilita vermos inclusive os monstros nadando como golfinhos.
Fazendo dupla com o Predador
Completamente saturado em suas aventuras no espaço, nos anos 2000 a criatura volta em dois filmes crossover com outro extraterrestre conhecido, o Predador. O primeiro Alien Vs Predador (2004), é um filme bastante razoável com foco na ficção cientifica. Já o segundo, Alien Vs Predador - Requiem (2007), é completamente desprezível e coloca o monstro como um assassino em série de uma cidade do interior americano.
De volta para linha original
Em 2008, passada a fase caça níqueis de Alien versus Predador, com a mídia nerd já organizada solicitando explicações sobre tudo das fitas do passado, o alienígena retorna. Desta vez como um vislumbre no filme Prometheus, que deveria dar respostas sobre a série, mas deixa apenas mais dúvidas.
Alien: Covenant segue esta linha nos trazendo um filme que tenta explicar muitas coisas sobre toda a franquia. Algumas talvez devessem ter ficado em segredo. Mas o principal sobre a fita não é isto, e sim que ao final ela consegue te trazer sensações de estarmos vendo uma boa aventura espacial misturada com terror, exatamente como fazia o original na sua época.
Deixem Ridley Scott trabalhar
Esperamos que o filme vá bem nas bilheterias e possa assim dar oportunidade para Ridley Scott brincar um pouco mais com sua criatura favorita. O homem é uma lenda que conseguiu criar o pânico trabalhando com pouco mais que sombras e sons no milênio passado. Mesmo com o sucesso soube evoluir, aprendendo a desenvolver mais ainda seu terror com os efeitos CGI atuais.
Imagine então o que este gênio poderá fazer se tiver a oportunidade de realizar um novo Alien no futuro, onde o cinema em realidade 3D parece ser uma realidade cada vez mais próxima. Parece que para os Aliens de Ridley Scott nem o céu, nem o espaço, serão o limite.
Trailer
https://youtu.be/vHvR44EO2nk
https://youtu.be/5incfB5jHWU
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