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A Rosa de Hiroshima, de Vinícius De Moraes

31/01/2024 09:16 - por Tiago Vargas

A Rosa de Hiroshima é um poema escrito pelo cantor e compositor Vinicius de Moraes. Recebeu esse nome como um protesto sobre as explosões de bombas atômicas ocorridas na cidade de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, durante a Segunda Guerra Mundial.

Criada em 1946, a composição foi primeiro publicada no livro Antologia Poética.

Os versos abordam as consequências da guerra e da implosão das bombas atômicas - apelidadas pelos norte-americanos de Fat Man e Little Boy.

Para além dos civis assassinados na ocasião, mais de 120 mil pessoas sobreviveram ao estouro da bomba de Hiroshima, ficando com cicatrizes e sequelas permanentes.

Quanto a análise do texto, o início do poema mostra os efeitos da radioatividade nas vítimas civis que foram atingidas. As crianças, alheias ao conflito de duas grandes nações, tornaram-se nos versos de Vinicius de Moraes "mudas telepáticas". As "meninas cegas inexatas" parecem fazer menção às consequências da radioatividade nas gerações futuras.

Os versos a seguir tratam das migrações feitas após a queda da bomba.

As cidades atingidas, ambientalmente e economicamente devastadas, precisaram ser evacuadas devido ao alto risco de contaminação

É só no nono, no décimo e no décimo primeiro verso que a causa de todo o mal é revelada:

 

Mas oh não se esqueça

Da rosa da rosa

Da rosa de Hiroshima

 

A bomba é comparada com uma rosa porque, quando explodiu, resultou na semelhante imagem de uma rosa a desabrochar. Uma rosa costuma estar relacionada com a beleza, no entanto, a rosa de Hiroshima remete para as horríveis consequências deixadas pela guerra.

O poema de Vinicius de Moraes fala das gerações afetadas pela guerra e pelo rastro de sofrimento, destruição e desespero deixado nas gerações posteriores.

"A rosa com cirrose" faz referência à doença, ao fumo, uma antirrosa sem qualquer beleza, "sem cor sem perfume".

Mais tarde, em 1973, os versos foram musicados e ganharam corpo na voz do grupo Secos e Molhados.

 

 

A ROSA DE HIROSHIMA

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.

VINÍCIUS DE MORAES

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