Blog Da Poesia

Florbela Espanca

12/10/2022 09:31 - por Tiago Vargas

Flor Bela de Alma Conceição Espanca (1894-1930) nasceu em Vila Viçosa, Portugal.  Contista e poetisa de vanguarda, sua escrita é caracterizada pelo forte tom confessional (seus textos correspondem a uma espécie de diário íntimo, uma linguagem pessoal centrada em suas próprias frustrações e anseios), com um acento erótico feminista sem precedentes.  Nome importante na literatura portuguesa do começo do século XX, Florbela não fez parte de nenhum movimento literário, embora a enciclopédia Larousse a defina com parnasiana. Influenciada por António Nobre (carácter sentimental em seus textos) e, sobretudo Antero de Quental (pela técnica dos sonetos) se representou como uma poetisa de excessos, cultivando em seus textos uma paixão exacerbada e contundente, repleta de metáforas, cores e cheiros. (Em resumo, poderia se dizer que trata sem anteriores e com habilidade peculiar o drama da mulher insubmissa que encontra no amor e na arte/poesia o sonho de uma liberdade condicionada pelo convencionalismo da vida social). A solidão, o sofrimento e o desencanto também são algumas temáticas recorrentes em sua obra, assim como o íntimo desejo de felicidade e arrebatamento.

A Minha Dor

A minha Dor é um convento ideal
Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.

Os sinos têm dobres de agonias
Ao gemer, comovidos, o seu mal …
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias …

A minha Dor é um convento. Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!

Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém ouve … ninguém vê … ninguém …

Florbela Espanca


A Flor do Sonho

A Flor do Sonho alvíssima, divina
Miraculosamente abriu em mim,
Como se uma magnólia de cetim
Fosse florir num muro todo em ruína.

Pende em meu seio a haste branda e fina.
E não posso entender como é que, enfim,
Essa tão rara flor abriu assim!…
Milagre… fantasia… ou talvez, sina…

Ó Flor que em mim nasceste sem abrolhos,
Que tem que sejam tristes os meus olhos
Se eles são tristes pelo amor de ti?!…

Desde que em mim nasceste em noite calma,
Voou ao longe a asa da minh’alma
E nunca, nunca mais eu me entendi…

Florbela Espanca

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