Blog dos Espíritos

O tempo, a ansiedade e a sobrecarga de final de ano

15/12/2025 08:52 - por Rosane Sacilotto sacilottorosane @gmai.com

O tempo, para o Espírito imortal, não se mede apenas pelos ponteiros do relógio ou pelas folhas do calendário. Ele é, antes de tudo, um “instrumento divino de evolução”, concedido por Deus para que cada criatura possa aprender, reparar, crescer e amar. No entanto, ao final de cada ano civil, o ser humano, ainda fortemente identificado com a vida material, costuma experimentar a sensação de que o tempo se acelera, trazendo consigo pressões, cobranças e expectativas que favorecem o surgimento da ansiedade e da sobrecarga emocional.

A Doutrina Espírita nos convida a uma compreensão mais ampla da existência. Allan Kardec, em “O Livro dos Espíritos”, ensina que os Espíritos são criados “simples e ignorantes” e destinados à perfeição, alcançada por meio de múltiplas existências corporais (questão 115). Essa visão dilata o entendimento do tempo, libertando-nos da ideia de que tudo precisa ser resolvido em um único ano ou em uma única encarnação. Deus, em Sua infinita justiça e misericórdia, concede-nos o tempo necessário para o aprendizado, sem pressa e sem condenações.

A ansiedade que se intensifica no final do ano surge, muitas vezes, da tentativa de controlar o futuro ou de avaliar a própria vida a partir de parâmetros exclusivamente externos: metas cumpridas, bens adquiridos, reconhecimento social ou estabilidade material. Todavia, Kardec esclarece que as provas da vida têm por finalidade o progresso moral do Espírito (“O Livro dos Espíritos”, questão 258). O verdadeiro êxito não está nos resultados visíveis, mas na fidelidade ao bem, no esforço sincero e na intenção reta com que enfrentamos os desafios diários.

Em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, especialmente no capítulo V, “Bem-aventurados os aflitos”, somos esclarecidos de que as dores morais, as inquietações da alma e as angústias interiores possuem causas profundas, muitas vezes relacionadas a existências anteriores ou às escolhas atuais. A ansiedade, sob essa ótica, não deve ser vista apenas como um sofrimento a ser combatido, mas como um sinal da alma, convidando-nos à reflexão, à reorganização interior e à confiança em Deus.

O final de ano também costuma intensificar a sobrecarga emocional por meio de compromissos sociais, expectativas familiares e obrigações profissionais. Nesse cenário, muitos se sentem exaustos, culpados por não corresponderem ao que esperam deles, ou frustrados por aquilo que não conseguiram realizar. A Doutrina Espírita, porém, nos recorda que cada Espírito se encontra em um ponto específico de sua caminhada evolutiva. Comparar-se aos outros é ignorar a singularidade das experiências reencarnatórias e os desafios particulares de cada um.

Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, ensina que “o tempo é uma oportunidade bendita para a construção do bem”. A pressa, tão comum nesse período, não acelera o crescimento espiritual. Ao contrário, pode nos afastar da vivência consciente do presente, que é o único instante real em que podemos amar, servir e transformar. Viver o agora, com responsabilidade e serenidade, é uma forma de honrar o tempo concedido por Deus.

Joanna de Ângelis, em suas análises psicológicas à luz do Espiritismo, especialmente em obras como “O Homem Integral” e “Momentos de Saúde”, esclarece que a ansiedade nasce do conflito entre o ser real e o ser idealizado. No encerramento de um ciclo anual, esse conflito tende a se intensificar, pois o indivíduo passa a medir seu valor por expectativas não atendidas, esquecendo-se dos progressos íntimos já alcançados, muitas vezes invisíveis aos olhos do mundo, mas profundamente significativos para a alma.

A Doutrina Espírita aponta o autoconhecimento como caminho seguro para aliviar a ansiedade e a sobrecarga emocional. Allan Kardec, na questão 919 de “O Livro dos Espíritos”, pergunta qual o meio mais eficaz para o progresso moral, recebendo como resposta o célebre convite ao “conhece-te a ti mesmo”. O exame sincero da própria consciência, feito com humildade e sem autopunição, permite reconhecer limites, aceitar imperfeições e valorizar cada pequeno avanço no campo do bem.

A prece, por sua vez, apresenta-se como recurso essencial de equilíbrio e fortalecimento espiritual. No capítulo XXVII de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, aprendemos que a oração sincera nos aproxima de Deus, atrai o amparo dos bons Espíritos e proporciona à alma o alívio necessário diante das inquietações. Orar ao final de um ano não é apenas pedir por um futuro melhor, mas agradecer pelas experiências vividas, pelas lições aprendidas e pelas oportunidades de crescimento, mesmo quando envoltas em dor ou dificuldade.

Devemos nos recordar de que o encerramento do ano civil não representa um ponto final, mas um marco simbólico de reflexão e renovação interior. A vida espiritual não se submete aos limites do calendário humano. O tempo continua, as oportunidades se renovam, e Deus jamais fecha as portas do recomeço para aqueles que desejam sinceramente melhorar-se.

Que possamos, portanto, aprender a desacelerar o passo, silenciar a mente e ouvir as necessidades da alma. Que saibamos confiar mais na Providência Divina, compreendendo que cada dia é uma dádiva e cada experiência, uma lição. O calendário muda, mas a jornada do Espírito prossegue, sempre amparada pelo amor infinito de Deus, que nos conduz, com paciência e sabedoria, rumo à paz interior e à verdadeira felicidade.

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