Blog dos Espíritos
Revisão do ano e da vida
É tempo de refletir
O encerramento de mais um ciclo anual convida, naturalmente, ao silêncio interior e à reflexão profunda. Para além das comemorações externas, das metas cumpridas ou não, das alegrias e desafios enfrentados, a Doutrina Espírita nos chama a um movimento essencial: o retorno ao íntimo da alma. Não se trata apenas de avaliar acontecimentos, mas de refletir sobre quem nos tornamos diante deles. O tempo é instrumento divino de aprendizado, e cada ano vivido representa uma página escrita no grande livro de nossa evolução espiritual.
Allan Kardec, ao organizar a Codificação Espírita, deixa claro que o progresso moral é o verdadeiro objetivo da existência. Em “O Livro dos Espíritos”, questão 132, aprendemos que a encarnação tem por finalidade principal a melhoria do Espírito. Assim, ao repassarmos o ano em revista, somos convidados a observar não apenas o que fizemos, mas como sentimos, pensamos e reagimos. O exame de consciência, longe de ser um julgamento severo, deve ser um exercício de lucidez e amor próprio, reconhecendo nossas limitações sem perder a esperança no futuro.
A célebre recomendação “Conhece-te a ti mesmo”, presente na questão 919 de “O Livro dos Espíritos”, é aprofundada pela orientação de Santo Agostinho, que nos oferece um método simples e profundamente eficaz para essa reflexão diária: “Fazei o que eu fazia quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava em revista o que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever”. Esse hábito espiritual, quando aplicado ao fechamento do ano, transforma-se em poderosa ferramenta de autoconhecimento.
Quantas vezes fomos impulsivos quando poderíamos ter sido pacientes? Quantas oportunidades de fazer o bem deixamos passar por medo, orgulho ou comodismo? Ao mesmo tempo, quantos gestos de amor realizamos, talvez simples e silenciosos, mas que representaram verdadeiros passos adiante em nossa caminhada? Será que estamos nos encaminhando para o final de mais um ano no calendário do plano material sem resolvermos aquelas questões que tanto nos incomodam, sem perdoar e pedir o perdão àqueles que magoamos, muitas vezes até a nós mesmos, pela forma como estamos nos tratando?
Somos Espíritos em evolução
A Doutrina Espírita nos consola ao nos lembrar que somos Espíritos imortais, em processo contínuo de aprendizado, e que ninguém se transforma de um momento para outro. Cada queda ensina, cada recomeço fortalece. Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, nos orienta com clareza: “A vida não nos pede perfeição imediata, mas esforço sincero na própria renovação”.
Rever o ano que passou é, portanto, reconhecer as vitórias do espírito sobre as inclinações inferiores, sem orgulho, e identificar os pontos que ainda necessitam de cuidado e vigilância. É compreender que errar faz parte do aprendizado, mas persistir no erro, por descuido ou indiferença, retarda a marcha evolutiva. Jesus Cristo é o grande modelo e guia para essa reflexão. Seu Evangelho não é apenas um conjunto de ensinamentos morais, mas um roteiro seguro para a transformação interior.
Ao analisarmos nossas atitudes à luz do Cristo, somos convidados a perguntar se temos vivido o amor ao próximo como Ele nos ensinou, se temos perdoado setenta vezes sete vezes, se temos sido indulgentes com as imperfeições alheias e firmes, porém misericordiosos, conosco mesmos.
Natal, um convite aos corações
O período do Natal intensifica ainda mais esse convite à reflexão. O nascimento de Jesus, celebrado anualmente, simboliza o amor de Deus que se renova na humanidade. O Cristo que nasce em uma manjedoura simples nos ensina que a grandeza espiritual está na humildade, no serviço e na doação. Refletir sobre o ano à luz do Natal é perguntar se temos permitido que esse Cristo íntimo renasça em nós, transformando nossas atitudes no lar, no trabalho e na convivência social.
Emmanuel define o verdadeiro sentido do Natal ao afirmar: “O Natal não é apenas uma data no calendário, mas um estado de alma”. Assim, celebrar o Natal espiritualmente é assumir o compromisso de viver o Evangelho todos os dias, fazendo da caridade, da compreensão e da fraternidade práticas constantes, e não apenas intenções passageiras.
Bezerra de Menezes, símbolo de amor e renúncia, reforça essa visão consoladora ao nos lembrar que Deus nunca se cansa de oferecer novas oportunidades: “Cada dia é uma nova concessão da misericórdia divina, convidando-nos ao recomeço”. Ao final do ano, portanto, somos chamados a agradecer pelas experiências vivida, tanto as alegres quanto as difíceis, pois todas contribuíram para nosso crescimento. A dor não é punição, mas instrumento educativo, que nos ensina a valorizar o bem e a desenvolver a empatia e a compaixão.
Que essa revisão anual seja feita com serenidade e fé, sem dureza excessiva, mas também sem complacência. Que saibamos reconhecer nossas fragilidades, confiando na assistência dos bons Espíritos e na infinita misericórdia divina. E que, inspirados pelo Natal e pelos ensinamentos de Jesus, possamos iniciar um novo ciclo com propósitos renovados, mais conscientes de nossas responsabilidades espirituais. Porque sempre é tempo de aprender, todo dia é dia de recomeçar, e todo coração disposto ao amor é um berço vivo onde o Cristo pode nascer novamente, independente da data. Basta que lhe façamos o convite
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