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Os Fantasmas Ainda se Divertem: sessão nostalgia
Com um atraso de 36 anos finalmente os fãs do morto-vivo mais engraçado do cinema – Beetlejuice - tem o tão esperado reencontro. Uma geração inteira se passou entre o filme original, Os Fantasmas se Divertem (1988), e esta continuação tardia, Os Fantasmas Ainda se Divertem (Beetlejuice, Beetlejuice, 2024). Este tempo todo que se passou entre um filme e outro possibilita então que aqueles que se divertiram no final dos anos 80 voltem aos cinemas com seus filhos, sobrinhos ou netos para um ótimo programa em família. A diversão é garantida. Uma sessão nostálgica para os velhos fãs e uma descoberta para os mais jovens.
Este projeto de continuação chega em um momento de impasse criativo do diretor Tim Burton, um realizador que já viveu melhores momentos. O auge do sucesso foi nos anos 80 e 90 com filmes como Batman (a primeira versão, de 1989); Batman – O Retorno; Edward Mãos de Tesoura; Ed Wood e A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça. A partir da segunda década dos anos 2000, com filmes pouco inspirados como Sombras da Noite; Grandes Olhos; O Lar das Crianças Peculiares e Dumbo, seus trabalhos perderam o brilho e o folego. A repetição de uma estética e uma narrativa muito particulares do realizador acabou aprisionando Tim Burton em um previsível formulismo que cansou e afastou o público. Portanto, este retorno ao passado, revisitando um de seus maiores sucessos é, antes de tudo, uma estratégia para retomar um caminho que se perdeu com o passar dos anos.
Neste momento crítico da carreira Tim Burton recorreu ao resgate de um de seus filmes de maior prestígio e êxito criativo. Ao aceitar fazer a continuação de Os Fantasmas se Divertem o realizador arriscou e jogou todas as fichas. O resultado não é o desastre que muitos chegaram a prever, no entanto, também não se situa entre seus melhores trabalhos. Podemos entender Os Fantasmas Ainda se Divertem como uma obra de passagem, que abre possibilidades para Burton se reencontrar com suas melhores habilidades como contador de fábulas que transitam entre o humor e o bizarro, com toques de terror censura livre.
A história de Os Fantasmas Ainda se Divertem inicia quando os Deetz, após uma tragédia familiar, precisam retornar à antiga casa em que moravam em Winter River, que conhecemos no primeiro filme. Lydia Deetz (Winona Ryder) já é adulta e mãe da adolescente Astrid (Jenna Ortega, da série Wandinha, produzida e dirigida por Tim Burton para a Netflix). Ao visitar o sótão da casa a jovem Astrid se depara com uma misteriosa maquete da cidade. Mal sabe ela que aquela maquete funciona como um portal que dá acesso a um mundo habitado por mortos-vivos. Uma destas criaturas é o extravagante fantasma Beetlejuice, que mais uma vez vai assombrar e colocar a vida da família Deetz de cabeça para baixo.
Os Fantasmas Ainda se Divertem está longe de ser um filme perfeito, mas funciona suficientemente bem para recolocar o trabalho de Tim Burton nos trilhos. Há muito tempo ele não se mostrava tão à vontade em um projeto. Isto se reflete na tela, quando percebemos que Burton parece estar se divertindo tanto ou mais que os personagens que dirige. Algo como um garoto que ganha um brinquedo novo que muito desejava. O espírito de garoto de Burton reencontra velhos amigos do passado com um olhar amadurecido pela passagem dos anos, porém sem perder a ternura.
Esta continuação não traz exatamente novas ideias, apenas revive um momento que trouxe muitas alegrias há quase quatro décadas. Há aqui e ali algumas tentativas de expandir o universo criado no filme original, mas o excesso de subtramas que não chegam a lugar algum prejudicam o resultado. Porém, não ao ponto de comprometer na totalidade a experiência, que segue sendo prazerosa e divertida na maior parte do tempo. Talvez a maior qualidade de Os Fantasmas Ainda se Divertem esteja mesmo nas partes e não no todo.
Quem entra em uma sala de cinema para assistir um filme de Tim Burton já possui minimamente uma ideia do que vai encontrar. Afinal, ele é um realizador que possui o que poderíamos definir como uma assinatura autoral. Sob esta perspectiva, Os Fantasmas Ainda se Divertem traz evidentemente as marcas características do seu cinema. O universo particular de Tim Burton está lá, com suas regras, seu humor nonsense, sua estética característica e personagens bizarros. Se o propósito primeiro de Os Fantasmas Ainda se Divertem era reconectar o diretor com os melhores momentos de sua filmografia, pode-se afirmar que o objetivo foi alcançado. O filme é OK e recoloca Tim Burton no jogo.
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