Blog da Poesia

Danielle Magalhães

27/10/2021 08:40 - por Tiago Vargas tiagovargas.uab@gmail.com

Danielle Magalhães nasceu em 1990. Poetisa carioca. Contemporânea. Graduada em História pela UFF e Doutora em Teoria Literária  pela UFRJ.  É autora do livro “Quando o céu cair’’, publicado em 2018 pela Editora 7 letras.  Os escritos de Daniella se caracterizam principalmente pela ausência de pontuação (que conferem uma oralidade singular ao texto), pelas aliterações e pela alternância de versos longos e curtos. Política, afetos e observações/inquietações cotidianas são seus temas mais recorrentes. Poesia das entrelinhas que revelam ideias, conceitos e imprimem intensidade num ritmo particular e denso. Sem síntese ou resumo. Escrita pulsante, que compõe uma abordagem crítica numa espécie de zigue-zague estilístico sem perder o lirismo das relações interpessoais.

mas eu sempre espero
eu que quase nunca falo
que já ouvi de tantas bocas a minha mão trêmula os dedos procurando nós
de um jeito inconsciente como se o corpo quisesse
se livrar como se o corpo quisesse desistir escapar sair por onde ainda não
havia começado sair pelo primeiro buraco por onde você acha
que vai estourar por onde a pulsação do sangue chega antes de você
dando o sinal de que você já não está mais ali por inteiro ou 
é nesse momento que você está aí por inteiro todo o seu corpo
os seus músculos o seu batimento a sua pulsação a sua respiração
num esforço sobre-humano eu falo é como se eu quisesse me livrar sempre
tenho uma fábrica de desespero debaixo da língua por isso falo
tão pouco eu que sempre espero palavras

depois do fim do poema poderia ser o momento
em que finalmente sua voz entraria um sentido 
se articulando a formação de um abraço ainda não
totalmente encaixado a iminência de um abraço uma massa
de som precipitando o momento por onde
começaria entrando de qualquer jeito depois do fim
a possibilidade da palavra mas e se a palavra jamais for dita
a possibilidade da palavra nunca dita  como se
nunca tivesse começado como se começasse
por uma exigência por onde tudo se dispersa
enfim dizer e depois de dizer depois do fim poderia ser o momento 
eu tento escutar só há o vazio eu tento escutar o que poderia
estar se precipitando na sua boca as palavras nunca chegam porém
só há cansaço não há mais nada
a esperar rodopiar no vazio entre
paredes ocas quantas pessoas neste momento quem
não diz fala comigo um som qualquer 
como quem late como quem berra como quem mia até
desistir depois do fim o que se precipita no seu corpo por onde lateja
a fisgada aguda nos membros que parte
se desequilibra insustentável por onde você
não diz no fim jamais se termina apenas se abandona
é preciso dizer assim como quem desiste 
começar é um exercício de desistência
não há mais nada depois por onde você não diz vamos
como quem desiste

Danielle Magalhães

O mar
Com sua imensidão
Faz o pensamento voar
Nas lembranças que outros viveram
Dos sonhos compartilhados nas águas
Dos romances de verão
Dos que entraram além e não voltaram
Das lágrimas dos que ficaram na areia a olhar ...
O mar e sua imensidão mostram 
A nossa pequenez diante dessa eterna beleza que é o mar...
Rosana Ortiz

Sina 
Sabe aqueles mínimos sinais que a gente tenta passar ao dia seguinte
Na esperança de que ele saiba como deve ser a vida que queremos...
De nada adiantam, o destino debocha na nossa cara, satisfazendo sua infinitude sádica
Mostrando que o caminho é movediço e indecifrável
Em compensação nunca é monótono - nem quando parece ser -, basta esperar pra ver. 
Cristiano Lima Limão

A culpa é minha
Se a janela se abre
Se a dor se apresenta
Se o relógio para
É minha culpa
Se o vento é forte
Se a lágrima cai
Se a luz se apaga
Sou eu a culpada
Eu que fiz a culpa
Eu sou a culpa
Fui eu que te fiz assim 
Eu que te entreguei
Fiz você chorar 
Eu deveria estar longe
Mas permaneço tão perto
Porque eu tento
Eu tento acertar
Suyane Iansen

Inteligência intrapsíquica
Sou peculiar,figura sem par
e arquiteta do meu destino singular.
Meu compromisso é com o prazer
e não faço aliança com o acaso.
O endereço da eternidade
fica na sublimidade do meu coração.
Mergulho no silêncio calmo
da minha própria individualidade
onde encontro beleza e redenção.
No traçado da existência
pinto meu auto retrato
onde contemplo evidências do Criador.
Encontro o paraíso no fundo do espelho
e construo meu mundo transcendente.
Numa dimensão especial do meu espírito
pressinto a divindade e me comunico com o sagrado.
Em um lugar íntimo e secreto da minha essência
residem respostas de perguntas que ainda não fiz.
Numa trajetória interna entre declínios e sombras
encontro numa porta entreaberta uma fagulha de luz e sabedoria.
Gabriela Vidal Domingues

SAUDADES
Hoje eu acordei
Com uma vontade incontrolável de te ver
Se pássaro eu pudesse ser
Voaria bem rápido até você.
Vou pedir asas a Deus
Pois como ser alado
Poderei estar sempre ao teu lado...
Nedi R. Garske

Desabafo
Observo os pássaros enquanto vejo o dia amanhecer
Estou muito longe do mar
E fico pensando "será que é hoje que vou morrer?"
Do meu lado, apenas o meu gato para me acompanhar
As palavras se embaralham em minha mente
Logo tudo vira mentira
Meus demônios retornaram novamente
Só me resta essa maldita ira
As flores murcharam
As pessoas estão me machucando
Meus demônios novamente me alertaram
Que minha vida está acabando
Então deixe-me ir 
Não consigo mais fugir
O amor que dantes havia acabou
E a morte finalmente me abraçou.
Mariana Nunes 

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