Sim, ele existiu. É provado, registrado e documentado. As lendas se tornam mais interessantes quando podemos comprovar a origem delas, aqui é um exemplo. Não se falava em velho do saco antes de 1913, foi nesta época em que o correio dos Estados Unidos aumentou o peso permitido para envio de correspondências. Os pais de um bebê de oito meses queriam mandar o pequeno passar uns dias com a avó e para economizar nas passagens decidiram que o postariam via correio.

Como as regras se limitavam apenas ao peso e não a encomenda, o correio foi obrigado a aceitar entregar o bebê. Carimbaram sua roupinha e colaram um selo e então o pequeno James foi o primeiro a fazer essa viagem inusitada. Obviamente, o caso ganhou as manchetes e muitos pais aprovaram a ideia. Os motivos passaram a ser os mais variados possíveis: livrar a criança de doenças contagiosas na família ou até mandá-la para adoção em virtude da pobreza extrema. Há relatos de que crianças de até seis anos foram enviadas pelo correio.

Um ano após a onda de postar seu filho, a prática foi proibida pelo correio americano, mas continuou acontecendo, já que muitos funcionários ainda levavam crianças a pedido dos pais. Imagine a conversa: “— Oi estranho, será que você poderia entregar o meu filho do outro lado do país? — Ah, claro, pode deixar.” Foi em 1920 que virou crime federal transportar seres vivos no correio e então ninguém mais quis se arriscar.

Agora imagine você, criança, brincando com os amigos em frente sua casa, quando de repente passa na rua um sujeito carregando uma criança dentro de um saco. O medo de ser o próximo tomou conta da meninada, acompanhado pelas ameaças dos adultos de que se não se comportassem o velho do saco viria buscá-los. Nasceu aí a lenda que preencheu o imaginário de gerações inteiras de crianças.

Desce daí ou o velho do saco vem te buscar; se comporte ou vou chamar o velho do saco; coma sua comida ou vou te entregar para o velho do saco. Daí a visualizá-lo mesmo depois que a prática não existia foi questão de tempo. Em algumas versões o homem do saco rapta as crianças para se alimentar do seu fígado, já que seria portador de alguma doença, algumas regiões do país o conhecem como Papa-figo, mas isso é assunto para outro post.

Curiosidade: Há informações dando conta que nem todas as crianças postadas chegaram aos seus destinos. Apesar de não serem tratadas como carga e viajarem junto aos funcionários do correio, algumas acabaram adoecendo e morrendo durante a viagem e outras simplesmente desaparecendo pelo caminho. Uma razão para temer o saco e seu transportador.

“Quando a lenda é mais interessante que a realidade, imprima-se a lenda”. John Ford