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Batman: a reencarnação do morcego

19/09/2024 08:30 - por Jorge Ghiorzi jghiorzi@gmail.com

Lançado originalmente em 2022, a mais recente versão de Batman nos cinemas foi um sucesso de crítica e público, arrecadando mais de US$ 700 milhões de bilheteria em todo o mundo. O que explicaria então este relançamento tão precoce de Batman, apenas dois anos após? A Warner Bros. está na verdade desenvolvendo uma estratégia de marketing para promover a minissérie Pinguim que estreia este mês pela HBO / Max.

Esta nova produção é uma série derivada (spin-off) do longa-metragem, estrelada pelo mesmo Colin Farrell que interpreta o vilão no longa-metragem. Então, o relançamento de Batman nos cinemas funcionará como um “esquenta” para a série que deve movimentar a legião de fãs do universo do morcego mascarado.

Quando esta nova adaptação de Batman foi anunciada houve forte manifestação contrária dos fãs mais radicais, que criticaram a escolha do ator Robert Pattinson para substituir Christian Bale no papel de Bruce Wayne / Batman. O receio era que o forte recall de Pattinson como o frágil e insosso vampiro da franquia Crepúsculo poderia comprometer a credibilidade do personagem. Mas, com o filme na tela, a desconfiança evaporou. Pattinson encontrou o tom adequado para interpretar o Batman fatalista e amargurado que o roteiro pedia.

A nova versão de Batman, dirigida por Matt Reeves (de Cloverfield – Monstro e Planeta dos Macacos – A Origem) localiza a ação no segundo ano após o surgimento do herói como vigilante das ruas de Gotham City. Bruce Wayne aparece como um homem recluso, refugiado em sua gótica mansão. Seus poucos contatos são o ajudante de ordens, Alfred Pennyworth (Andy Serkis), e o Tenente James Gordon (Jeffrey Wright).

Quando um sádico assassino serial tem como alvo a elite política da cidade, uma série de mensagens enigmáticas leva o “maior detetive do mundo” para o centro das investigações no submundo corrupto da cidade. Na jornada ele encontra personagens como Selina Kyle, também conhecida como Mulher-Gato (Zoë Kravitz), Oswald Cobblepot / Pinguim (Colin Farrell), Carmine Falcone (John Turturro) e Edward Nashton, conhecido como o Charada (Paul Dano). Batman precisa desmascarar o(s) culpado(s) e fazer justiça ao abuso de poder e à corrupção que há muito tempo assola Gotham.

Um fato flagrante que salta aos olhos neste novo Batman é a pouca utilização da tecnologia digital CGI, o que resulta em um personagem e uma narrativa mais orgânica. O conceito de low tech também se manifesta nas bat-gadgets.

O carro do Batman está mais para um Mustang tunado e a moto é praticamente convencional, bem distante da visão altamente tecnológica que Christopher Nolan mostrou na sua trilogia com naves sofisticadas, supercarros e motos com design inovador. Então, estamos diante de um Batman mais pé no chão. 

O contato com o chamado mundo real que vivemos é ainda espertamente reforçada com a utilização da canção “Something In The Way”, do Nirvana, que pontua o filme e cujas primeiras notas, rearranjadas pelo autor da trilha sonora, Michael Giacchino, são acordes que assinam a presença do herói mascarado.

Por fim, um destaque para a maravilhosa paleta de cores do fotógrafo Greig Fraser (de Duna) que inclui o vermelho neon, sem comprometer o aspecto soturno e pesado da direção de arte, que por vezes nos remete a Seven de David Fincher, não por acaso um filme sobre um assassino serial.

Diferente da imensa maioria dos filmes inspirados em quadrinhos o Batman de Reeves não sucumbe à urgência de uma narrativa de caráter pop, pois tem sempre algo um tanto mais consistente a nos contar. O andamento é lento e crescente. Dá o tempo necessário de reflexão ao expectador e assegura robustez à construção do protagonista, com suas motivações, seus vacilos, sua ação cerebral e suas interações pessoais.

Claro, sem abrir de das necessárias sequências pontuais de ação (ainda assim, sem excessos), afinal, trata-se de uma adaptação de quadrinhos para o cinema, e a base de fãs precisa ser contemplada com o espetáculo.

Estamos diante de um ponto de virada nas adaptações de quadrinhos? Difícil afirmar, mas a amostra foi promissora. O que podemos sim reconhecer é que houve uma dose de ousadia da DC em explorar novas possibilidades e finalmente dar uma cara própria para seus filmes de (super) heróis. Com Batman (cujo título no Brasil não leva o artigo “O”) a DC ganha autoridade e personalidade com uma muito bem sucedida reinterpretação do morcego mascarado

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