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Premonição 6 – laços de sangue: a morte manda um recado
Vinte e cinco anos depois de transformar um voo comercial em um dos grandes momentos de tensão do cinema na abertura dos anos 2000 – e 14 anos desde que um laser ocular nos lembrou que até cirurgias corretivas podem ser fatais no mais recente filme da série –, “Premonição 6: Laços de Sangue” ressurge para provar que a morte nunca cansa de ser criativa. A franquia, que arrecadou US$ 657 milhões ensinando os millennials a temer chuveiros, elevadores e até colheres de sorvete, volta com sua premissa genial em sua simplicidade: o perigo não está no sobrenatural, mas na fragilidade da vida.
Desta vez, a franquia surpreende ao abandonar temporariamente sua estrutura habitual. “Laços de Sangue” começa nos anos 1960, introduzindo um protagonista que, pela primeira vez, consegue enganar a morte por décadas – um twist que promete redefinir as regras do jogo. A sinopse, sem spoilers, gira em torno de um grupo de jovens que descobre uma conexão sangrenta entre suas famílias e um pacto ancestral com a própria Morte, agora personificada de maneira ainda mais cruel. O filme mantém o estilo slasher da franquia, mas investe em uma mitologia expandida, algo que pode agradar fãs antigos e conquistar novos espectadores.
O lançamento chega em um momento de revival do terror dos anos 1990/2000: “Pânico 7” está em produção, “Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado” ganha um remake, e até “Lenda Urbana” ressurge. A pergunta que paira é: essa onda de nostalgia ainda funciona? “Laços de Sangue” aposta que sim, mirando um público que, hoje adulto, revive o medo juvenil entre compromissos de trabalho e contas a pagar. O filme é elogiado por suas mortes criativas (um selo da franquia), mas a verdadeira jogada está no emocional: a despedida do ator Tony Todd, ícone da série como o misterioso agente funerário, morto em 2024, é tratada com um tributo comovente.
Desde o primeiro filme, “Premonição” se destacou pela inventividade mórbida. Quem assistiu nunca mais olhou para uma montanha-russa, um secador de cabelo ou um caminhão de toras da mesma forma. Em “Premonição 6”, os diretores Zach Lipovsky e Adam B. Stein honram essa tradição com cenas de morte tão exageradas quanto engenhosas. Ambos promovem um balé de violência absurda que é, paradoxalmente, o charme da franquia.
O filme tem a perfeita compreensão e entendimento do que seu público deseja. A narrativa é mais ambiciosa que a dos predecessores, embora tropece em momentos previsíveis. O maior acerto está em equilibrar homenagem e renovação. Há, certamente, pequenos segredinhos escondidos ao longo da narrativa para os fãs de longa data, mas também sangue novo (literal e figurativo) para manter a relevância. A conclusão é clara. A franquia “Premonição” ainda sabe como surpreender, mesmo que seu maior trunfo seja nos lembrar que, no fim, a morte sempre vence – e isso, afinal, é o que a torna tão assustadora. Um retorno digno, com mortes memoráveis e um pé no passado, mas que deixa espaço para questionar se a franquia pode (ou deve) escapar de sua própria sina.
“Premonição 6: Laços de Sangue” é divertido como um pesadelo de infância revisitado, mas sofre de síndrome de Frankenstein ao juntar partes demais (flashbacks, conspirações e um CGI duvidoso) e espera que o público não note os pontos de costura. Ainda assim, é impossível não rir quando a morte decide que, hoje, um micro-ondas será o vilão. E talvez esse seja o legado da franquia. Lembrar que, no cinema como na vida, o absurdo e o trágico sempre andam de mãos dadas.
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