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Como Treinar o Seu Dragão: um tributo pouco original

05/06/2025 08:47 - por Jorge Ghiorzi jghiorzi@gmail.com

A nova versão live-action de “Como Treinar o Seu Dragão” (2025), dirigida por Dean DeBlois (responsável pela trilogia animada), reconta a história do jovem Soluço (Mason Thames), um viking franzino que desafia as tradições da ilha de Berk, onde dragões são vistos como ameaças. Enquanto seu pai, Stoico (Gerard Butler), lidera a caça às criaturas, Soluço acaba se tornando amigo de um dragão ferido chamado Banguela. A relação entre os dois força o protagonista a questionar os valores de sua tribo e buscar uma coexistência pacífica entre humanos e dragões. O filme mantém os pilares do original – amizade, coragem e quebra de paradigmas –, mas com um visual renovado e um tom mais sombrio.

Lançada em 2010, a primeira animação “Como Treinar o Seu Dragão” foi uma adaptação da série literária de Cressida Cowell (2003), seguida por sequências e uma série animada. A atual versão de 2025 insere-se na onda de remakes em live-action da Disney e DreamWorks, como “Branca de Neve” e “Lilo & Stitch”, que buscam reviver sucessos do passado com efeitos visuais modernos.

O diretor DeBlois recria a magia do original com maestria técnica: os dragões em CGI são deslumbrantes, e a ilha de Berk ganha texturas realistas que ampliam a imersão. Cenas icônicas, como o primeiro voo de Soluço com Banguela, mantêm seu impacto emocional, agora potencializado pela fotografia cinematográfica. No entanto, a escolha por replicar quase integralmente a estrutura narrativa do primeiro filme levanta questões sobre a necessidade artística do remake. Apesar de cenas como o treinamento na arena ou o confronto final serem recriadas com vigor, faltam riscos criativos – a obra parece mais um tributo do que uma releitura.

Mason Thames (conhecido pelo filme de terror “O Telefone Preto”) traz um Soluço mais introspectivo, distanciando-se do humor despretensioso da animação original. Gerard Butler (do recente “Covil de Ladrões 2”) repete o papel de Stoico (do qual fez a dublagem original da animação de 2010) com a mesma intensidade, mas a relação pai-filho ganha nuances mais dramáticas, refletindo o tom sério da nova versão. O filme reduz as piadas rápidas e investe em cenas de ação mais intensas, aproximando-se do estilo de “O Senhor dos Anéis” em certos momentos. Essa mudança pode dividir o público: enquanto alguns apreciarão a maturidade, outros sentirão falta do charme lúdico e descompromissado do original.

“Como Treinar o Seu Dragão” (2025) é uma adaptação competente visualmente e emocionalmente envolvente, mas peca pela falta de ousadia narrativa. Seu maior mérito está na homenagem aos fãs da franquia, com cenas fiéis e efeitos impressionantes. No entanto, a ausência de inovações significativas, além do formato live-action, faz com que o filme soe como uma experiência meramente complementar ao original, nunca superior.

Assim como “Mulan” (2020) e “O Rei Leão” (2019), “Como Treinar o Seu Dragão” (2025) reflete a tendência conservadora do cinema blockbuster, que prioriza a aversão aos riscos financeiros em detrimento de narrativas originais e criativas. Apesar da beleza técnica, a falta de reinvenção faz com que o filme pareça um produto calculado para lucrar em cima da nostalgia, sem oferecer algo verdadeiramente novo.

Para quem nunca viu a primeira animação de 15 anos atrás, a versão de 2025 é uma porta de entrada válida. Já os espectadores afeiçoados ao clássico podem sair do cinema com a sensação de que, apesar da beleza técnica, o filme não justifica plenamente sua existência além do lucro fácil que as refilmagens proporcionam. Em um mundo onde a indústria parece preferir reciclar a arriscar, “Como Treinar o Seu Dragão” é mais um produto dessa lógica – bem-executado, porém questionável em sua essência artística.

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