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Thunderbolts*: um recomeço que a Marvel merece

01/05/2025 09:40 - por Jorge Ghiorzi jghiorzi@gmail.com

Em um Universo Cinematográfico Marvel (UCM) saturado de multiversos, profecias cósmicas e heróis sobrecarregados de poder, surge um filme que representa um respiro inesperado. Dirigido por Jake Schreier (conhecido realizador de videoclipes e do longa “Cidade de Papel”) “Thunderbolts*” mostra um grupo de anti-heróis e vilões recrutados à força pelo governo para uma missão suicida. No filme somos apresentados a uma equipe bastante incomum de anti-heróis. A equipe — composta por personagens marginais do UCM — oscila entre o caos e a redenção, questionando até mesmo o próprio nome "Thunderbolts" (daí o asterisco no título, uma piada meta sobre sua identidade provisória).

Após os eventos de “Falcão e o Soldado Invernal” e “Viúva Negra”, o governo dos EUA, desesperado por uma equipe capaz de operar fora dos protocolos dos Vingadores, recruta um grupo de anti-heróis e ex-vilões para uma missão de alto risco: recuperar um artefato tecnológico mortal, roubado por uma organização terrorista e escondido nas ruínas de uma Chernobyl pós-apocalíptica.

Sem escrúpulos nem superpoderes, os Thunderbolts* são uma equipe disfuncional, cada um com seus próprios traumas e agendas ocultas. Yelena Belova (Florence Pugh), a ex-assassina da Viúva Negra, é colocada como líder, mas sua lealdade é questionável. John Walker (Wyatt Russell), o violento e instável ex-Capitão América, busca provar seu valor. Bucky Barnes (Sebastian Stan), o Soldado Invernal, reluta em retornar à violência controlada. Junto deles, Taskmaster, Ghost e Red Guardian completam o grupo, cada um carregando cicatrizes físicas e emocionais.

À medida que avançam na missão, percebem que foram manipulados— o artefato é na verdade uma arma biológica ligada ao passado sombrio de vários membros da equipe. Presos em uma zona de guerra radioativa, cercados por inimigos e desconfiando uns dos outros, precisam decidir: cumprem as ordens e arriscam se tornar monstros novamente, ou se rebelam e enfrentam as consequências? Com ações brutais, diálogos ácidos e um humor negro típico de histórias de anti-heróis, “Thunderbolts*” é menos sobre salvar o mundo e mais sobre sobreviver a si mesmos — e uns aos outros.

Há um fato inegável no ar. A cada novo lançamento da Marvel, aumenta o grau de decepção dos fãs. No cenário pós-pandemia, esse declínio só se acentuou — o UCM, outrora meticuloso, hoje padece de esgotamento criativo. “Thunderbolts*”, no entanto, é um pequeno ponto de luz no fim do túnel. O filme acerta onde tantos outros erraram, pois retorna ao básico.

Aqui, não há grandiosidade cósmica ou discursos sobre "destino do universo". Em vez disso, temos ação visceral, diálogos afiados e personagens que, finalmente, agem como pessoas — não como peças de um quebra-cabeça narrativo infinito. A equipe disfuncional, reminiscente do Esquadrão Suicida, brilha justamente por suas falhas: Yelena é sarcástica, mas vulnerável; Walker é um idiota tragicamente humano; Red Guardian rouba cenas com seu humor anacrônico.

O título estilizado (com o asterisco inserido) não é mero capricho. Reflete a essência do filme: um projeto experimental, despretensioso e consciente de sua própria imperfeição. A Marvel parece dizer: "Sabemos que o UCM está cansado; este é um teste". E, surpreendentemente, funciona. As cenas de ação são vigorosas (um combate no subsolo de uma usina nuclear é o ápice), e o roteiro, embora às vezes desleixado, prioriza emoções genuínas em detrimento de fan service.

Thunderbolts* não é memorável, no entanto é exatamente por isso que sua existência se justifica. É uma diversão despojada de pretensão, que sabe seu espaço e dimensão no universo da cultura pop. Em um universo onde até Doutor Estranho precisa salvar o multiverso, um filme sobre vilões brigando por dinheiro e redenção soa quase subversivo. A lição é clara: a Marvel não precisa de mais escala; precisa de alma. Se este é o caminho para o futuro do UCM, talvez haja esperança.

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