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Carolina de Jesus

14/02/2024 10:13 - por Tiago Vargas

Carolina Maria de Jesus foi uma poetisa e escritora brasileira negra.

Carolina de Jesus era catadora de lixo e tinha pouca instrução, mas era apaixonada pelas letras e lia com frequência. Moradora de uma favela em São Paulo, escrevia diários que contavam o seu dia a dia, até que foi descoberta por um jornalista que a incentivou e apoiou na publicação dos seus manuscritos.

Esses manuscritos se tornaram Quarto de despejo: diário de uma favelada, um campeão de vendas traduzido para vários idiomas, porque mesmo com suas limitações - na falta de pontuação e erros gráficos em algumas palavras - a obra se destacou pelo que transmitiu sobre a vivência numa favela.

Depois do sucesso de Quarto de Despejo, a escritora não teve êxito com os outros livros que escreveu, e morreu quase esquecida.

Nos últimos anos, a vida e obra de Carolina tem sido objeto de estudo, o que voltou a dar visibilidade à escritora. 

Quarto de despejo: diário de uma favelada é, sem dúvida, o grande sucesso de Carolina Maria de Jesus. Traduzida para treze idiomas, a obra relata o cotidiano de Carolina, moradora de uma favela em São Paulo na década de 50.

O livro contempla as vivências de Carolina entre 15 de julho de 1955 e 1 de janeiro de 1960. Mas há saltos na obra, ou seja, o livro não contém cada uma das datas ao longo desses anos. Tais saltos são resultado da revisão feita pelo jornalista Audálio Dantas para sua publicação, que retirou as partes dos assuntos que eram repetitivos, tal como a fome.

A fome era um problema enfrentado diariamente, que incomodava muito Carolina e, por isso, ela escrevia. Nas palavras da autora, que chegou a firmar na obra que sabia que a cor da fome era amarela, Carolina diz que

Quando eu não tinha nada o que comer, em vez de xingar eu escrevia.

O livro chamou a atenção do mundo literário e apenas a sua primeira edição rendeu a venda de 30 mil exemplares.
Carolina ficou famosa e ganhou algum dinheiro, mas não enriqueceu. Seus conhecidos da favela achavam que ela tinha ficado rica e pediam-lhe dinheiro, e não devolviam depois.

Depois desse sucesso, outros livros foram publicados, mas sem o mesmo êxito. E dezessete anos depois da publicação do seu primeiro livro, no dia 13 de fevereiro de 1977, Carolina morreu quase esquecida num sítio da periferia de São Paulo, onde vivia. Tinha 63 anos.

Sonhei
Sonhei que estava morta
Vi um corpo no caixão
Em vez de flores eram Iivros
Que estavam nas minhas mãos
Sonhei que estava estendida
No cimo de uma mesa
Vi o meu corpo sem vida
Entre quatro velas acesas
Ao lado o padre rezava
Comoveu-me a sua oração
Ao bom Deus ele implorava
Para dar-me a salvação
Suplicava ao Pai Eterno
Para amenizar o meu sofrimento
Não me enviar para o inferno
Que deve ser um tormento
Ele deu-me a extrema-unção
Quanta ternura notei
Quando foi fechar o caixão
Eu sorri… e despertei.

A Rosa
Eu sou a flor mais formosa
Disse a rosa
Vaidosa!
Sou a musa do poeta.
Por todos sou contemplada
E adorada.
A rainha predileta.
Minhas pétalas aveludadas
São perfumadas
E acariciadas.
Que aroma rescendente:
Para que me serve esta essência,
Se a existência
Não me é concernente…
Quando surgem as rajadas
Sou desfolhada
Espalhada
Minha vida é um segundo.
Transitivo é meu viver
De ser…
A flor rainha do mundo.

Poeta, em que medita?
Por que vives triste assim?
É que eu a acho bonita
E você não gosta de mim.
Poeta, tua alma é nobre
És triste, o que o desgosta?
Amo-a. Mas sou tão pobre
E dos pobres ninguém gosta.
Poeta, fita o espaço
E deixa de meditar.
É que... eu quero um abraço
E você persiste em negar.
Poeta, está triste eu vejo
Por que cisma tanto assim?
Queria apenas um beijo
Não deu, não gosta de mim.
Poeta!
Não queixas suas aflições
Aos que vivem em ricas vivendas
Não lhe darão atenções
Sofrimentos, para eles, são lendas.

 

 

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