A escritora gaúcha Cris Lisboa é autora de obras como o bilíngue “Tem um coração que faz  barulho de água,” que foi publicado no Brasil, na Espanha e  em Portugal, e “Papel-manteiga para  embrulhar segredos,” um romance epistolar que mora em milhares de  mesas de cabeceira, bibliotecas e  estantes de preciosidades,  e que ganhou uma continuação: “Duas pessoas são muitas coisas.”

É dela também “Meu coração diz teu nome” (Editora Rocco, 128 páginas,  R$ 39,90), lançado no final do ano passado. É um romance  livremente inspirado  em uma comovente  história familiar da escritora, a  da tia-avó que ficou sem botar os pés  para fora da casa dos 16 anos até a morte, depois dos cem.  Tudo isso aconteceu depois que ela se apaixonou  por um colega de escola,  que a dispensou por preferir a “irmã sem a mancha.”

São duas irmãs gêmeas, praticamente idênticas. A única característica  que distingue uma da outra é a mancha vermelha que uma delas carrega no rosto.  Composta por minúsculos vasos sanguíneos, entrelaçados como novelos de lã,  ela se esparrama a partir do olho direito,  até perto do nariz,  invadindo um pedacinho da boca.  A princípio, sua existência não trazia  nenhum incômodo nem angústia. Mas como reagir às provocações  das pessoas no seu entorno, que comentam, criam apelidos, sentem pena, tecem teorias ou são simplesmente cruéis? 

Escrito em prosa poética, com  parágrafos construídos em primeira pessoa e orelha assinada pela atriz Paolla Oliveira, o livro mergulha na profundeza emocional  da protagonista  e no seu esforço descomunal em evitar que a sua voz seja abafada pelo que pensam que ela é. “Esse livro é um cadeidoscópio. Mostra os acontecimentos para que cada pessoa sinta em si a  história dessa mulher  cujo rosto exibe um hemangioma muito rúbreo e inoperável,” explica a  autora. 

Segundo diz a atriz Paolla de Oliveira em sua apresentação, “o livro é simplesmente cativante  porque atesta uma das marcas  da Cris Lisboa: explicar o impossível  ou falar de forma profunda  sobre nós e sobre nossos sentimentos.” No decorrer das páginas,  destaca ainda Paolla, “o que temos é um jogo de espelhos em que ver o outro  é encontrar a  si mesmo, enxergar a si próprio.”

Trecho:
“Antes de entrar no coração de alguém, é preciso tirar os sapatos, passar as mãos na sola dos pés para afastar pedrinhas, poeiras, pedacinhos de algo, estilhaços de vidro.

Porque quando se vai embora,  o que se levou fica lá. E é verdade que um perceptível  grão se transforma em pérola. Mas, até que aconteça, a ostra sente muita dor.”
(página 97)

AUTOCUIDADO E MOTIVAÇÃO
“A vida é curta demais pra viver o mínimo das coisas” (Editora Planeta, 128 páginas, R$ 47,90), de Iandê Albuquerque,  aborda o autocuidado  e motivação, falando também sobre superação, renovação, términos e recomeços a partir de um olhar mais profundo. O autor explora os problemas e  desafios cotidianos  que atravessam a vivência do ser humano  e  abraça a vulnerabilidade e  a  efemeridade  da vida,  entendendo que o processo de viver acontece no instante presente. Também de autoria de Iandê é a obra "Talvez a sua jornada agora seja só sobre você.”

LEONARDO BOFF INCENTIVA
De autoria do teólogo Leonardo Boff, “Terra madura” (Editora Planeta, 160 páginas, R$ 54,90) incentiva os debates que estimulem  decisões, tanto pessoais quanto coletivas,  para levar  a uma nova consciência  para o cuidado com o planeta. Boff no livro  quer oferecer peças e sugestões que permitam o vislumbre  de um caminho que repense  a teologia da vida. Ele convoca os leitores  a encontrarem estratégias para que o ser humano  compreenda o impacto que tem a vida  em todo o ecossistema terrestre.

Leituras:
“Onde você se encontra hoje é onde você deve estar. Confie. Todos os lugares  são apenas parte de uma viagem.”
(Alejandro    Jodorowsky,    cineasta, ator, poeta, escritor    e psicólogo  chileno-francês). 

Destaques:
O SANGUE DOS OUTROS

Autora: Simone de Beauvoir

Neste livro, publicado pela primeira vez em 1945, a famosa autora  desenvolve temas  que a tornaram uma escritora consagrada,  como questões feministas  e  sobre a  dicotomia coletividade versus individualidade. Ela conta a história  de Hélène, uma jovem  sonhadora e individualista, e Jean, um rapaz bem-nascido que decide abandonar  seus privilégios  para lutar pelas causas operárias. Em plena França da década de 1940, com os nazistas  tomando espaço nas ruas parasienses, os dois mergulham em uma relação amorosa e em uma inebriante espiral de sentimentos  e questionamentos profundos, como o que é o amor, qual o verdadeiro  sentido da existência e como nossas decisões afetam a vida alheia.

Editora  Nova Fronteira. 224  páginas.  R$ 69,90.

A  VINGANÇA É MINHA

Autora: Marie Ndiaye

Neste thriller impressionate, a  história acontece em Bordeaux, na França,  onde vive a dra. Susane, 42 anos, advogada mediana que mantém seu estilo de vida confortável e  sem grandes luxos. Até que um dia é contratada por um homem distinto e influente na cidade, chamado Gilles Principaux, para defender a esposa acusada de assassinar os três filhos do casal. Impressionada pelo fato de atuar em tão importante caso, Susane começa a perceber que, de alguma forma, aquele homem faz parte de seu passado. 
Editora Todavia. 200 páginas. R$ 74,90. 

(As obras apontadas  no Blog dos Livros  podem ser encontradas   junto à Revistaria e Livraria Nascente,  na Rua Saldanha Marinho,   1423, Cachoeira   do Sul)