Blog dos Livros
A densidade do eu te amo
“Afinal, um ‘eu te amo’ é o quê?” –a pergunta que abre o texto de orelha de “Uma Breve História do Eu Te Amo” (Editora Patuá, 104 páginas) define o tom do romance do autor, roteirista e documentarista Igor Miguel Pereira. Trata-se de uma história ficcional que mistura relato de paixão, crônicas, entrevistas e reflexões teóricas sobre o amor, teoria amorosa, partindo de um encontro fugaz para mergulhar nas ambiguidades, encantamentos e ruídos que envolvem a mais repetida –e também a mais mal interpretada- declaração da Língua Portuguesa.
O “eu te amo” pode carregar uma variedade de intenções e emoções que muitas vezes transcendem o próprio conceito de amor. Esse aspecto chamou atenção do autor e serviu como ponto de partida para a trama. “Sempre me intrigou o valor que as pessoas dão ao “eu te amo,” afirma Igor. “É como uma frase feitiço, dita como se pudesse mudar a realidade, quase uma prece.”
Apesar de onipresente em músicas, livros e filmes, o “eu te amo” carrega, para o autor, uma densidade própria. “Pode parecer sinônimo de amor, mas tem uma vida independente, cheia de intenções contraditórias: pode ser um pedido de socorro, uma tentativa de controle, uma saudação banal ou uma armadilha de afeto. Às vezes tudo isso ao mesmo tempo.”
No romance, Pedro conhece Iara em um bloco de carnaval no Rio de Janeiro. Entre batuques, cerveja e glitter, eles engatam uma conversa, que termina no apartamento dele, no Catete. Após algumas horas de convivência e sexo casual, Iara diz “eu te amo” –e fotografa a reação atônita de Pedro. Em seguida, muda de assunto, como se nada tivesse acontecido. Na manhã seguinte, ela não está mais lá.
Ambientado nos bairros do Catete, Glória e Lapa, o livro transforma o Rio de Janeiro em personagem. Uma cidade viva, que pulsa e silencia. Entre rodas de samba, bares antigos e becos de carnaval, a narrativa percorre as zonas ambíguas do amor contemporâneo: o desejo e o afastamento, o corpo e o discurso, o afeto e a performance.
Igor Miguel Ferreira nasceu em Angra dos Reis (RJ). Autor, roteirista e documentarista, cresceu no interior fluminense e vive no bairro do Catete, no Rio de Janeiro, desde 2011. É formado em Comunicação Social, com especialização em Jornalismo.
Publicou seu primeiro livro aos 18 anos e, desde então, alterna entre contos, crônicas e roteiros. Com uma escrita fluida e sensorial, “Uma Breve História do Eu Te Amo,” seu quinto livro, é considerado por ele seu trabalho mais maduro.
Trecho:
“Com frequência, os estímulos produzem reações inesperadas. As palavras que acariciam podem incomodar se lidas uma segunda vez. Ele abandona a leitura e fica prostrado no sofá. Tenta responder a uma pergunta simples, muita repetida nos últimos dias. O toque do texto se assemelha ao toque de Iara.”
(Página 39)
PRÊMIO CANDANGO
Até 25 de junho de 2025, estão abertas as inscrições gratuitas para o 2º. Prêmio Candango de Literatura, que reconhece autores, designers e projetos de incentivo à leitura realizados em 2024. Serão R$ 140 mil distribuídos entre as categorias romance, contos e poesia. Ainda haverá premiação nas categorias Melhor Capa e Melhor Projeto Gráfico, além do Prêmio Candango de Literatura, no valor de R$ 15 mil, destinado à Melhor Iniciativa de Incentivo à Leitura, incluindo ações voltadas para pessoas com deficiência.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
A Editora Maralheios abriu convocatória até 10 de julho para recebimento de textos destinados a uma nova antologia sobre mudanças climáticas. A coletânea reunirá reflexões em forma de poesia, crônica e conto, abordando os impactos ambientais, sociais e emocionais das transformações do clima, além de possíveis ações de mitigação e adaptação. As inscrições são gratuitas.
Leituras:
“Quem de nós já não resolveu passar a vida a limpo pensando em um caderno novinho a ser escrito com todo o capricho e dedicação?”
-Moacyr Sclyar (23 de março de 1937/27 de fevereiro de 2011), médico e escritor gaúcho, autor de uma vasta obra que inclui crônicas, contos, romances, ensaios e literatura infanto juvenil.
Destaques:
BERGAMOTA
Autora: Taís Fagundes
Taís Fagundes narra a história de Albinha, uma menina cujo mundo é inundado pelas chuvas que devastaram o Rio Grande do Sul, em abril de 2024. Com ilustrações de Ana Cardia, a obra mistura ficção e realidade, abordando temas como perda, reconstrução e a importância de permitir-se sentir. A narrativa, voltada para o público infantojuvenil -mas com profundidade universal- mostra como Albinha encontra força na sabedoria de sua avó e na conexão com suas raízes culturais.
Editora Labrador 32 páginas.
12 REGRAS PARA A VIDA
Autor: Jordan B. Peterson
Neste livro, o psicólogo clínico e professor canadense Jordan B. Peterson apresenta 12 diretrizes profundas para uma vida mais íntegra, baseando-se em descobertas científicas, mitologia e filosofia. Em tempos de mudanças aceleradas, colapso de estruturas familiares e polarização política, Peterson propõe princípios de disciplina, coragem e pensamento claro como caminhos para enfrentar a complexidade do presente.
Editora Alta Books. 411 páginas. R$ 75,90.
(As obras mencionadas no Blog dos Livros podem ser encontradas na Revistaria e Livraria Nascente, localizada na Rua Saldanha Marinho, 1423, Cachoeira do Sul)
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