Blog dos Livros
Machismo e violência doméstica
Em uma das cenas mais emblemáticas de “Açougueira” (Editora Claraboia, 148 páginas), a personagem principal é incitada a abater e descarnar um boi. O duelo homem-animal presente no imaginário como uma batalha entre a força masculina versus a natureza ganha outras camadas e evidencia a singularidade do romance de estreia da escritora e dramaturga gaúcha Marina Monteiro, que também é atriz, arte-educadora, produtora e gestora cultural.
Na trama, quem está em frente ao boi é uma mulher. Ao deslocar as posições sociais e de poder, a escritora apresenta um romance provocativo que evoca discussões sobre violência de gênero e opressão.
A obra permeia temas como machismo, tradições sociais, relações familiares, paixão, desejo, violência doméstica e justiça. A obra se divide em cinco partes intituladas: “O reflexo no braço dele,” “Coro de vizinhos,” De fora a fora,” “Coração fazendo goteira” e “Voz escorrendo.” O enredo envolve o assassinato e esquartejamento de um homem numa cidadezinha interiorana onde todos se conhecem. A principal suspeita é a esposa, personagem central na trama.
A narrativa é estruturada a partir de depoimentos concedidos a uma autoridade, referenciada por todos como “doutor.” A esposa detalha deste o início do enlance com o futuro marido até a decadência do matrimônio. Suas falas são entrecortadas por declarações pouco amistosas de vizinhos e conhecidos do casal.
Nessa configuração textual, a autora concede intensidade a todos os envolvidos na trama, acentua repetições, imprecisões e exaltações nas falas, pontua trejeitos, cacoetes e postura dos corpos, e revela ainda emoções e personalidade de cada um. Nenhum deles tem nome, ainda assim, é possível discernir quem é quem.
Marina Monteiro nasceu em Porto Alegre, em 1982, e vive atualmente entre Rio de Janeiro e Florianópolis. Possui licenciatura em teatro pela Universidade do Estado de Santa Catarina e ainda o título de bacharela em filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Na área da escrita dedica-se à composição de textos literários, dramatúrgicos e roteiros. É autora do livro de formato híbrido “Comendo borboletas azuis” e dos livros de contos “Em nossa cidade amarelinha era sapata,” vencedor do prêmio da Associação Gaúcha de Escritores, e “Contos de vista Pontos de queda,” indicado ao prêmio Açorianos e vencedor do Prêmio Minuano de Literatura. “Açougueira” é seu romance de estreia.
Trecho:
“Depois soube, foram pro bar, me negociando. Queria saber meu preço, mas os dois se retiraram porque era assunto deles. Mulher não precisa saber quanto vale. Eu e a mãe ficamos no escuro da cozinha ouvindo o silêncio da noite, quando o eco da risada se espalhou e sumiu. A mãe não dizia nada, eu olhando a mãe, tentando entender. Tinha umas partes do corpo dela querendo se despregar e eu quase vi um meio riso na boca dela. Tava gostando. Que mãe não gostava? Ia arranjar a filha nova ainda. Mais cedo que as vizinhas do entorno da igreja. Talvez nem precisasse rezar novena. Bastava uma vela pra santinha, em agradecimento. Ia arranjar a filha com homem trabalhador, de braço duro e suado. Homem bom. O suor tem valor. Eu disse, o suor é o começo da minha história.”
(página 19)
CONCURSO DA ACADEMIA
Até 15 de agosto de 2024 estão abertas as inscrições para a oitava edição do Concurso Literário da Academia Rio-grandense de Letras (ARL), contemplando obra dramática, romance, crônica, narrativa curta, poesia, literatura infantil, literatura juvenil e tese ou dissertação sobre literatura gaúcha. O prêmio tem como objetivo destacar autores gaúchos que tenham obras consistentes e de qualidade. O regulamento completo com as fichas de inscrições pode ser acessado no site da ARL.
CEM MELHORES DO SÉCULO
O jornal americano “The New York Times” divulgou uma lista do que considera os cem melhores livros do século XXI. A grande campeã foi Elena Ferrante, com “A amiga genial.” Elena Ferrante é o pseudônimo de uma escritora italiana, cuja identidade é mantida em segredo. Ela escreveu oito romances e vários livros de não-ficção desde 1991.
Leituras:
“Metade do mundo é composto por pessoas que têm algo a dizer e não podem, e a outra metade que não tem nada a dizer e continua dizendo.”
(Robert Frost, 26 de março de 1874/29 de janeiro de 1963, um dos mais importantes poetas dos Estados Unidos do século XX, tendo sido agraciado com quatro prêmios Pulitzer).
Destaques:
A CASA DOS NOVOS COMEÇOS
Autora: Lucy Diamond
Em uma casa elegante próxima à orla, três moradoras têm mais em comum do que imaginam. Quando Rosa, Georgie e Charlotte se conhecem, a esperança renasce, a amizade floresce e um novo capítulo se inicia na vida dessas mulheres. Lucy Diamond cresceu em Nottingham e estudou Literatura Inglesa na Leeds University. Após se formar, trabalhou em algumas editoras e na BBC, e hoje é autora de mais de 10 romances, sendo publicada em 15 idiomas, figurando com frequência na lista dos mais vendidos.
Editora Arqueiro. 318 páginas. R$ 56,90.
18 PRINCÍPIOS PARA VOCÊ EVOLUIR
Autor: Charles Mendlowicz
Na cultura judaica, o número 18 tem um significado especial, ligado a tudo que está vivo, em movimento e em constante processo de evolução. Partindo dessa constatação de que tudo está ligado a essa centelha divina que é a própria vida, o autor decidiu compartilhar com todas as pessoas aquilo que vivenciou, as experiências e aprendizados que deram certo para ele e que precisam ser conhecidos por outras pessoas. Economista formado pela UERJ, com MBA em Gestão Estratégica de Negócios e MBA em Logística Empresarial, Charles Mendlowicz tem 25 anos de experiência no mercado financeiro e em empresas de varejo e já lecionou sobre marketing, negócios e finanças em faculdades e cursos.
Editora Citadel, 203 páginas. R$ 59,90.
(As obras apontadas no Blog dos Livros podem ser encontradas junto à Revistaria e Livraria Nascente, na Rua Saldanha Marinho, 1423, Cachoeira do Sul)
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