Em “As ruas sem nome” (Editora Patuá), a  autora e artista visual paulistana Tieko Irii mergulha em uma narrativa  autobiográfica que atravessa três gerações de imigrantes japoneses, tecendo um painel histórico e emocional sobre deslocamento, silenciamento e a  busca por identidade. A  obra, que começou com a  descoberta da autobiografia  secreta de seu pai, Hirashi  Irii, expande-se para discutir  racismo, estereótipos  e as complexidades de ser mulher  nipo-brasileira em um país marcado por hierarquias  raciais e  sociais.

A autobiografia do pai -um jovem  que fugiu de  casa no Japão pós-guerra e perambulou pelo país devastado  antes de emigrar para o Brasil-  tornou-se ponto de partida para a autora investigar  suas próprias raízes.  No entanto, o livro  não se limita à saga familiar.  Tieko  cruza sua trajetória  com reflexões  sobre a herança cultural   japonesa  e brasileira, o mito do “perigo amarelo,” da “minoria modelo”  e do soft power japonês, contextualizando  como estas construções   sociais moldaram sua vivência.

O livro chega  em um  momento  de crescente discussão  sobre representatividade asiática no Brasil,  impulsionada por pesquisadores, acadêmicos, artistas e coletivos antirracistas amarelos e  asiáticos. Na obra, a  autora  também aborda a exotificação dos corpos amarelos  e  a  solidão  de crescer nos anos 1980, quando ser descendente de japoneses significava enfrentar bullying e  invisibilidade. Mas também é uma história de desejos, sonhos, busca de liberdade  e  um lugar ao sol.

A obra,  estruturada em quatro partes,  alterna trechos  da autobiografia  do pai com relatos  pessoais, desde sua infância  em São Paulo até sua temporada no Japão  no final dos anos 1980,  onde buscou, sem sucesso, um senso de pertencimento. Além da escrita, Tieko  desenvolveu um trabalho de colagem com arquivos familiares, unindo imagem e texto para reconstruir memórias  apagadas. 

Tieko Irii é artista visual, diretora de arte e  escritora paulistana. Formada em Cinema pela FAAP em 1988, trabalhou por 25 anos em publicidade  e no audiovisual. Publicou três livros infantis  antes de  se dedicar à “As ruas sem nome,” sua primeira obra autobiográfica. Viveu no Japão  entre 1989  e  1991, experiência  que influenciou sua pesquisa sobre memória, diáspora, gênero e  raça.

Trecho:

“Ao ouvir  os relatos dos  meus tios, descobri que era cheia de lacunas, eles pouco sabiam sobre meus avós  e,  assim como eu, evitavam tocar  nas feridas;  mas ao nos inserir  na história do mundo  descobri que fazemos parte de uma história  coletiva. Somos frutos disso, mas também sujeitos de nossa própria história.”

(Texto de apresentação da autora)

BARCO A  VAPOR 

A 22ª.  edição do Prêmio Barco a Vapor,  uma das mais respeitadas premiações  da literatura infanto-juvenil brasileira, está com inscrições abertas para textos inéditos em Língua Portuguesa,  escritos por autores maiores  de 18 anos, de qualquer nacionalidade, desde que residentes no Brasil.  As inscrições no site oficial são gratuitas  e podem ser feitas até 14  de  fevereiro de 2026.   O vencedor receberá R$ 40 mil  e a publicação impressa da obra. 

LIVROS PARA BIBLIOTECAS

Com financiamento do Pró-Cultura RS e participação do Ministério da Cultura,  o Governo do Estado está promovendo uma iniciativa para ampliar o acesso de leitores  de diferentes municípios à literatura  produzida no Rio Grande do Sul. Um dos editais trata especificamente do ramo de literatura e da compra  de novos livros para bibliotecas gaúchas, trabalhando em conjunto   com as editoras  do Estado, injetando dinheiro nesse mercado e promovendo profissionais do ramo literário. 

Leituras:

“A vida  é a  arte do encontro, embora haja  tanto desencontro  pela vida.”

-Vinícius de Moraes  (19  de outubro de 1913/9 de outubro de 1999), famoso poeta, dramaturgo, jornalista, diplomata, cantor e compositor brasileiro, conhecido também pelo apelido “Poetinha.” 

Destaques:       

FLORES ASTRAIS                                        

Autor: Marcelo Nery                                                              

A atmosfera  opressiva  de um casarão no interior de Minas Gerais serve de palco  para este primeiro romance do autor, que classifica a obra como “uma saga  familiar gótica rural mineira.” A trama se desenrola em 1980 e acompanha  o retorno de Tiago à fazenda de café da família após a  morte do pai, forçando-o a confrontar o passado. Com formação em Ciência da Computação, Marcelo Nery foi professor universitário por 16 anos e coordenou o renomado curso  de Jogos Digitais  da PUC Minas. 

Editora Mondru. 155 páginas.                         

NAS ONDAS VERDES DO MAR                                      

Autor: Davi Dallariva                                                                

Sedução, beleza  e mistério  se encontram no imaginário do escritor Davi Dallariva neste livro. O autor mineiro  leva o leitor   por uma travessia   poética entre o real e o fantástico, onde um jovem pescador  descobre que o amor  pode assumir tantas formas quanto as criaturas que habitam o oceano. O protagonista, Daniel, herda de seus antepassados o ofício e  o encantamento pelo mar. Em seu saveiro -barco que parece  ter alma própria-  parte em busca de um peixe raro   e  acaba chegando  a uma ilha deslumbrante,  onde o canto das sereias muda seu destino.

Editora Fantástica. 268 páginas. 

(As obras mencionadas  no Blog dos Livros podem ser encontradas na Revistaria e Livraria Nascente, localizada na Rua Saldanha Marinho, 1423, Cachoeira do Sul).