Blog da Poesia
No dia da consciência negra, a poesia que resgata a ancestralidade. Ecoa África! Ecoa LIBERDADE!
Suzana Weirich nasceu em maio de 1977. É graduada em Geografia pela Unipampa e Membro fundadora do CLICA – Clube Literário de Cachoeira do Sul/RS. Em 2023, recebeu junto com outras 14 mulheres negras o Prêmio Dandara pelo Comppir. Como escritora participou de algumas coletâneas, entre os quais o Poetas do Vale. Ecoa, África! é sua primeira publicação solo. Trata-se de um livro potente que valoriza a negritude e ancestralidade do povo negro.
Na publicação, Weirich versa de forma contundente e densa o sentimento do nosso povo em diferentes tempos e espaços. Ecoa África! é um achado inventivo, um livro que reflete múltiplos nuances dentro de um mesmo tema. A poesia de Weirich ao mesmo tempo inquieta e empondera. Seus poemas são produzidos com alma. Com propriedade de quem sente e sabe o que diz. Lançamento oficial será dia 29 do presente mês, na Casa de Cultura, às 18 Horas.
Ecoa, África!
Ecoa dentro da minha voz,
Ecoa nos meus ancestrais
Ecoa na saudade
Ecoa em todos nós!
Ecoa, África!
Forte como uma rocha que resiste ao açoite
Ecoa como a lua, estrelas e a noite.
Ecoa como libertação de toda opressão!
Ecoa, África!
Ecoa com legado de Maria Eloá.
Ecoa a religiosidade de vó Bela.
Ecoa o quilombo Martimianos
Ecoa como a Revolta da Chibata!
Preta Melanina
Essa garra da mulher preta,
Dos traços dos ancestrais
Das “Terezas de Banguelas”
O coração enraizado.
Melanina cor de luz.
Na essência de Dandara,
Que germina e nos conduz
Preta melanina
Das Marielles e Mahins
Do orgulho que sentimos...
Das “Carolinas Marias de Jesus’’.
Mix
O mix de perfumes no ar.
Do pomar, macieira e da goiabeira.
Do jardim, os cravos e as rosas
Da cozinha, o acarajé e vatapá
Do altar, a oração e a fé
Do universo, o amor de Oxalá.
A menina do Pelô
A menina descendo a ladeira do Pelourinho.
Com a sua boneca de pano, retinta com petróleo
Cabelos de lã colorida
Feita pelas abençoadas mãos da bonita baiana.
A cadeira
A cadeira desbotada do tempo
Que serviu de descanso para nossa griô
Hoje está aqui, na sala
Alegrando meus dias e revivendo tantas histórias
Contadas pela nossa avó Morena.
Santa Josefa
Da maldade do senhor, o açoite trouxe a morte
Hoje está mais viva a nossa santa popular
Muitas vezes foi refúgio o teu túmulo visitar
Lá, onde pássaros cantam alto e há velas a queimar
Oh, Santa Josefa!
Tenho graças a alcançar
Perto onde era Micaela, hoje há tua capela.
Para os quem tem fé, os joelhos vão dobrar.
O negro sorri com a lágrima
Essa sina
Da palavra
Sufocada
Só com vela acesa
E copo d’água.
Todos os poemas deste Post são de Suzana Weirich e extraídos do Livro ECOA, ÁFRICA!
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Plano piloto para poesia concreta [1958]
Por Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos