Blog dos Livros
Precursor da literatura
“Os elixires do diabo” (Editora Estação Liberdade, 368 páginas, R$ 68,00), de autoria do alemão E.T.A. Hoffmann, conta a história de um assassinato e, por trafegar entre o realismo e o fantástico, é considerado um precursor de temas da literatura universal, tendo influenciado nomes como Dostoiévski e Edgar Alan Poe.
O monge capuchinho Medardo é o narrador da história e leva aos leitores como foi que se envolveu num mistério contra a sua vontade. Após tomar um gole de um vinho suspeito, ele deixa o mosteiro em que vive, abandona o hábito e vai a Roma.
Na jornada, uma espécie de busca pela própria identidade que não cessa de fragmentar-se, Medardo se depara com uma série de figuras curiosas, desde aristocratas, passando por um excêntrico peruqueiro, até o Diabo em pessoa. Confronta-se também com seu duplo em algumas ocasiões, e a ambiguidade dos personagens assume contornos literários que dão à história, já muito intrigante, nova camada de complexidade narrativa que atrai ainda mais ao desfecho.
O tema do duplo foi explorado por muitos autores, como os clássicos Dostoiévski, em seu romance “O duplo,” e Edgar Alan Poe, em seu conto “William Wilson,” que comprovadamente leram Hoffmann.
Os elementos fantásticos, gótico e detetivesco estão todos em “Os elixires do diabo,” também. Características do Romantismo, período a que esta obra se vincula, aparecem em abundância, como na personagem feminina Aurélia, elevada ao status de santa e salvadora; e na presença constante de uma figura diabólica, mefistofélica, que aproxima a obra ao “Fausto,” de Goethe, autor comtemporâneo a Hoffmann.
Ernst Theodor Wilhelm Hoffmann, conhecido como E.T.A. Hoffmann, nasceu em Königsberg, na Prússia Oriental, em 1776. Desenvolveu carreira como jurista, teve saúde frágil, agravada pelo uso do álcool. Dedicou-se à literatura até o fim da vida, inclusive ditando a um escriba quando sua condição motora já estava comprometgida por uma paralisia progressiva que se mostraria fatal. É reconhecido como um dos maiores nomes da literatura fantástica mundial e faleceu em 25 de junho de 1822, aos quarenta e seis anos.
Trecho:
“Nesta caixinha encontra-se portanto um dos frascos com um elixir do Diabo e os documentos são tão autênticos e exatos, que não deixam dúvida de que a garrafinha foi realmente encontrada entre os pertences legados por Santo Antônio após sua morte. Inclusive posso lhe assegurar, caro irmão Medardo, que sempre quando toco o frasco, ou somente a caixinha onde ele está guardado, tenho experimentado um estremecimento secreto e inexplicável.”
(página 47)
AMOR EM MEIO AO CAOS
Lutando para sobreviver em um mundo pós-apocalíptico, em que uma praga mortal matou a maior parte da população, ferido e faminto, Andrew se depara com Jamie, que o abriga. Uma ameaça ronda o lugar em que se escondem e para sobreviver precisam encontrar coragem e lutar juntos. Em meio ao caos, apenas a atração que surge entre os dois parece certa. O livro chama-se “Agora esse é o nosso mundo” (Editora Faro, 256 páginas, R$ 49,90), de Erik J. Brown.
PEÇA DE SHAKESPEARE
Em edição da Editora Nova Fronteira, está chegando às bancas “O mercador de Veneza” (144 páginas, R$ 34,90), uma das mais famosas peças de William Shakespeare, integrando a Coleção Cícero, dedicada à popularização de temas jurídicos. Dividida em cinco atos, a peça é constantemente fonte de debates e reflexões, principalmente nos cursos de Direito. Segundo Hugo Langone, editor do livro, “O mercador de Veneza” expõe o que há de melhor e de pior na alma humana: amizade, confiança, paixão, avareza e vingança.”
Leituras:
“Fiquei sozinha um domingo inteiro.
Não telefonei para ninguém e ninguém me telefonou.
Estava totalmente só.
Fiquei sentada num sofá com o pensamento livre.
Mas no decorrer desse dia e até a hora de dormir
tive umas três vezes um súbito reconhecimento
de mim mesma e do mundo que me assombrou e me
fez mergulhar em profundezas obscuras de onde
saí para uma luz de ouro.
Era o encontro do eu com o eu.
A solidão é um luxo.”
(Clarice Lispector (1920-1977), escritora e jornalista brasileira nascida na Ucrânia, autora de romances, contos e ensaios, considerada uma das escritoras brasileiras mais importantes do século XX).
Destaques:
A MENINA E O MENINO
Autoras: Lenice Gomes e Cláudia Lins
No sertão do Brasil, passado, presente e futuro se unem para contar a poética história de duas crianças. Um menino e uma menina, reinando livres por quintais e serras, brincam de faz de conta, inventam mundos e festejam a vida. Lenice Gomes já publicou dezenas de livros para crianças e adolescentes, alguns deles premiados com o selo Altamente Recomendável da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. A cultura popular é uma de suas motivações para escrever. Cláudia Lins foi repórter de televisão, publicou diversos livros infanto-juvenis e hoje coordena um portal literário chamado Mundo Leitura. As ilustrações são de Ddaniela Aguilar.
Editora Saberes e Letras. 48 páginas.
A ILHA DAS ÁRVORES PERDIDAS
Autor: Elif Shafak
Aclamado finalista do “Women’s Prize for Fiction,” “A ilha das árvores perdidas” é uma narrativa sobre verdades soterradas pelo tempo, perdas irreparáveis e uma melancolia desoladora que, por gerações, se agarrou à vida da família como raízes da terra. Premiada romancista turco-britânica, Elif Shafak é autora de dezenove livros, doze deles romances.
Editora HarperCollins Brasil. 350 páginas. R$ 39,90.
(As obras apontadas no Blog dos Livros podem ser encontradas junto à Revistaria e Livraria Nascente, na Rua Saldanha Marinho, 1423, Cachoeira do Sul)