Blog dos Livros
UM CLÁSSICO DE ALEGRIA E TRISTEZA
Um clássico da literatura brasileira, com adaptações para a televisão, o cinema e o teatro, “O meu pé de Laranja Lima” (Editora Melhoramentos, 227 páginas, R$ 39,90), de José Mauro de Vasconcelos, é desses livros que marcam época. Lançado em 1968, trata-se de uma história fortemente autobiográfica, que demonstra a mão de um escritor experiente, ciente do efeito que pode provocar nos leitores com suas cenas e a composição de seus personagens.
O protagonista Zezé tem 6 anos e mora num bairro modesto, na zona norte do Rio de Janeiro. O pai está desempregado, e a família passa por dificuldades. O menino vive aprontando, sem jamais se conformar com as limitações que o mundo lhe impõe –viaja com sua imaginação, brinca, explora, descobre, responde aos adultos, mete-se em confusões e causa pequenos desastres.
As surras que lhe aplicam seu pai e sua irmã mais velha são seu suplício, a ponto de fazê-lo querer desistir da vida. No entanto, o apego ao mundo que criou fala mais alto e ele vê que só não há remédio para a dor e para a perda. A alegria e a tristeza das cenas estão combinadas neste livro e talvez isso justifique a imensa popularidade que alcançou.
O livro já tem mais de dois milhões de exemplares vendidos e mais de 150 edições no Brasil. Foi traduzido para 15 idiomas e publicado em 23 países.
Nascido em 26 de fevereiro de 1920, em Bangu, no Rio de Janeiro, José Mauro de Vasconcelos, ou Zé Mauro, foi um dos onze filhos de uma família muito pobre. Teve uma vida muito intensa –trabalhou como pescador, professor, modelo, bailarino, garçom e ator de cinema, teatro e televisão. Viajou pela Europa e por todo o Brasil, acompanhando os irmãos Villas-Bôas.
Suas inúmeras experiências e a prodigiosa capacidade de contar histórias deram a Zé Mauro muitas de suas personagens e muitos dos cenários de suas obras. Ele dizia que “a literatura é a arte mais difícil, porque a palavra tem que dar ao todo as cores e as nuanças da pintura, o som e a harmonia da música, o movimento.” Conforme afirmava, “escrever é a maneira que encontrei para transmitir minhas vivências, o bem e o mal, e um sentimento que anda muito esquecido: a ternura.”
Faleceu em 24 de julho de 1984, aos 64 anos.
Trecho:
“-Mas que lindo pezinho de Laranja Lima! Veja que não tem nem um espinho. Ele tem tanta personalidade que a gente de longe já sabe que é Laranja Lima. Se eu fosse do seu tamanho, não queria outra coisa.
-Mas eu queria um pé de árvore grandão.
-Pense bem, Zezé. Ele é novinho ainda. Vai ficar um baita pé de laranja. Assim ele vai crescer com você. Vocês dois vão se entender como se fossem dois irmãos. Você viu o galho? É verdade que é o único que tem, mas parece até um cavalinho feito pra você montar.”
(página 36)
LUCRANDO SOBRE O RACISMO
Professora da Universidade da Califórnia em Los Angeles, Safiya Noble escreveu “Algoritmos de opressão – Como o Google fomenta e lucra com o racismo” (Editora Rua do Sabão, 390 páginas, R$ 55,00), em que desmonta a ideia de que mecanismos de pesquisa como o Google sejam ferramentas imparciais que oferecem igualdade de condições para todas as formas de ideias, identidades e atividades. Através de análises de textos e de mídia, e de uma extensa pesquisa sobre publicidade on-line, a autora expõe a cultura on-line de racismo e sexismo.
REFLEXÃO SOBRE OS NEGROS
De autoria de Juliana Souza, “Torrente ancestral, vidas negras importam?” (Matrioska Editora, 120 páginas, R$ 49,90) é um convite à reflexão e uma crítica social às condições de vida e existência da população negra. A autora mescla relatos de sua biografia a fatos históricos e cotidianos, provocando os leitores a novas práticas e questionamentos ao longo de quatro capítulos escritos com uma linguagem leve e peculiar.
Leituras:
“Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música, não começaria com partituras, notas e pautas. Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e iria lhe falar sobre os instrumentos que fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes.”
(Rubem Alves, natural de Campinas, um dos grandes escritores brasileiros, na crônica “Como ensinar,” do livro “Ostra feliz não faz pérola.”)
Destaques:
BRINCANDO COM A COMIDA
Autor: Vanessa Dualib
Nascida em São Paulo, dona de um espírito curioso e inquieto, Vanessa optou pelo Curso de Turismo e assim que terminaram os estudos acadêmicos saiu viajando pelo mundo. Nas páginas deste livro, ela faz um tributo à comida, à fotografia, ao humor e a todos que amam estas três coisas. Ela cria personagens que tentam alegrar as pessoas, “que por uma ou outra razão talvez não estejam tendo um bom dia, um bom ano ou até mesmo uma boa vida.”
Editora Alaúde. 118 páginas. R$ 49,00.
EU ACHO QUE VOCÊ É MEIO DOIDO, SIM
Autora: Nath Araujo
A autora é nascida em 1989 em Paraguaçu, Minas Gerais, e é formada em Comunicação Social, atualmente morando em São Paulo. Na internet, escreve e desenha por pura diversão, conforme diz. É ilustradora, escritora, criadora de conteúdo digital e, como se define, doida. É sobre esta definição que fala o seu livro. Ou, como a autora corrige, o livro fala sobre você, “por mais doida que seja esta ideia.”
Editora Planeta. 158 páginas. R$ 34,90.
(As obras apontadas no Blog dos Livros podem ser encontradas junto à Revistaria e Livraria Nascente, na Rua Saldanha Marinho, 1423, Cachoeira do Sul)