Blog Da Poesia
Leila Míccolis
Leila Míccolis nasceu no Rio de Janeiro em 1947. É advogada, editora, teatróloga, roteirista de cinema, autora de telenovelas (Kananga do Japão, Mandacaru, Barriga de Aluguel...) e poeta. Possui mestrado, doutorado e pós-doutorado em teoria literária pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e especialização na área de escrita criativa. Publicou mais de 30 livros, entre os quais “Em perfeito estado’’, “Mercado de escravas”, “Só se for a dois’’ e “O bom filho a casa torra’’. Seus trabalhos já foram publicados na França, México, Colômbia, África, Estados Unidos e Portugal. Seus textos remetem a escrita de Nelson Rodrigues ou mais precisamente a Dalton Trevisan. Inteligente, densa e coloquial. Sintetiza a crueza humana numa espécie de voyeur das ruas. Seus versos tematizam com peculiaridade e frequência a condição humana e seus nuances. Manuel Bandeira, Dante Milano e José Paulo Paes são algumas de suas influências recorrentes.
HORÁRIO COMERCIAL
As mães do meu edifício
falam assim com seus filhos:
—"Cuidado pra não cair...
Se sujar a roupa nova
eu vou lhe dar uma sova".
Tem outra espécie, também,
que sempre se sobressai,
a que ameaça terrível:
— "Eu vou contar pro seu pai"...
Por fim, eu ouço a que diz:
— Ah, meu Deus, que mal eu fiz
pra ter tido este estrupício?"
Eu então, ouvindo isso,
me arrisco a uma conclusão
sem brilho e bem pessoal:
mãe sorrindo para os filhos,
só na televisão
em algum comercial...
Leila Miccolis
RETRATO EM SÉPIA
São poderosas as baratas:
as mulheres têm medo delas;
os homens provam seu poderio
sobre elas (as mulheres),
matando-as (as baratas).
No entanto, são meigas.
E se tivessem tetas
amamentariam
como qualquer mãe.
Leila Miccolis
Ponto de vista
Eu não tenho vergonha
de dizer palavrões,
de sentir secreções
(vaginais ou anais).
As mentiras usuais
que nos fodem sutilmente
essas sim são imorais,
essas sim são indecentes
Leila Míccolis
AGULHAS
Nos fios
entrelaçados
vão à direção
do infinito.
Uma desce
outra sobe,
no meio do caminho
um abraço
na decida um laço
para atar o compasso.
Marinês Bonacina
Palavra é poder
Palavra falada é poder
Palavra escrita é poder
Palavra ouvida é poder
Palavra guardada é poder.
A não-palavra é nada
É sobre que não existe
Sem nome
Inominável
Um mito.
Mariana Carlos
Quem vê o externo
O sorriso
Não sabe do interno
O choro
Quem vê o externo
Vê o belo
Quem vê o interno
Vê o feio
A luz que resplandece
Não mostra a escuridão que assola
As antíteses da vida
Se confundem
Na esperança que a magia
Da transformação aconteça
E transforme toda dor em alegria.
Rosana Ortiz
Pouco lixo
Ah, como é gostoso
O silêncio de agora...
Espio para dentro
De mim mesmo
E não encontro o nada
Que eu possa jogar fora.
Mauro Ulrich
Linguagem das lágrimas
Disseste que fala pra dentro,
Vi tua lágrima saindo pra fora ...
Linguagem mais linda é o momento
Que a alma chora...
Cleiton Leal
Amado
Aqui,
Amarrado pelas pernas,
Sendo torturado,
Penso que todo homem
Merecia ser alado.
Air Carlos da Costa
O sol desponta
Beija-me com raios dourados,
Em noites de lua eu canto ...
As estrelas de brilho prateado.
Binoca da Costa Walmarth
Vazio
Rastros
São marcas
De uma
Ausência.
Airton Ortiz