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A lírica de Camões, análise do poema amor é fogo que arde sem se ver

01/05/2024 09:27 - por Tiago Vargas

Amor é fogo que arde sem se ver é um dos mais importantes poemas da fase lírica de Luís Vaz de Camões. Trata-se de um soneto decassílabo clássico.

O famoso poema foi publicado na segunda edição da obra Rimas, lançada em 1598.

O poema se torna atemporal enquanto o tema abordado é universal e as figuras usadas para desenvolvê-lo são complexas e belas.

Na composição do poema é possível perceber o uso de figuras de linguagens como sinestesia e a antítese.

Quanto ao tema essencial, Camões faz uma referência a estética neoplatônica no qual insere o Amor – assim mesmo com inicial maiúscula – amor, não como um desejo específico e direcionado, mas sim como um ideal de vida, um conceito.

Figura de linguagem empregadas:
Antítese:  é uma figura de linguagem, mais precisamente, de pensamento que acontece por meio da aproximação de palavras ou ideias com sentidos opostos, por exemplo: o ódio e a amor ou ferida que dói e não se sente.

Sinestesia: é o recurso estilístico no qual se utilizam palavras e expressões associadas às diferentes sensações percebidas pelo corpo humano (visão, audição, olfato, paladar e tato) para gerar um efeito discursivo. Fogo que arde sem se ver, na frase temos o tato relacionado a visão.

AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER...
Luís Vaz de Camões

Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Para o crítico literário Eduardo Lourenço, a maestria de Camões está em sua habilidade de condensar as contradições humana. A expressão "fogo que arde sem se ver" serve não apenas como uma imagem poderosa da paixão invisível, mas também como uma ideia para o caráter enigmático do amor: uma força que tanto alimenta quanto consome.Para o crítico literário Eduardo Lourenço, a maestria de Camões está em sua habilidade de condensar as contradições humana. A expressão "fogo que arde sem se ver" serve não apenas como uma imagem poderosa da paixão invisível, mas também como uma ideia para o caráter enigmático do amor: uma força que tanto alimenta quanto consome.

A vida de Camões

Luís Vaz de Camões, autor de Os Lusíadas se tornou um dos maiores poetas da literatura portuguesa.

Nascido em Lisboa em torno de 1524, assistiu às conquistas marítimas do grande império português na aquisição de colônias.
O jovem estudou num convento e mais tarde se tornou professor de história, geografia e literatura. Camões chegou a entrar no curso de Teologia, mas acabou desistindo da empreitada. Por fim ingressou no curso de Filosofia.

Camões era boêmio e teve uma vida agitada, repleta de confusões e casos amorosos. Uma das suas paixões mais ardentes foi com D.Catarina de Ataíde, dama da rainha D.Catarina da Áustria (mulher de D.João III).

Num dos duelos que Camões protagonizou, acabou preso e desterrado durante um ano de Lisboa. A fim de fugir das inimizades, em 1547 se voluntariou para serviu como soldado na África. Durante os dois anos de serviço em Ceuta combateu contra os mouros, o que lhe custou a perda do olho direito.

Após a atuação militar, Camões regressou a Lisboa, onde voltou a ter a sua vida boêmia e com complicações.

Durante essa nova temporada na capital portuguesa redigiu o clássico poema épico Os Lusíadas - a obra considerada a maior poema épico da língua portuguesa. Em paralelo, seguiu escrevendo os seus versos, muitos deles dedicados à lírica amorosa.
Camões faleceu em Lisboa no dia 10 de junho de 1580.

 

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