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Valter Hugo Mãe

24/08/2022 09:20 - por Tiago Vargas

Valter Hugo Mãe é o nome artístico do escritor português Valter Hugo Lemos, nascido em 25 de setembro de 1971. Autor de múltiplas vocações e atividades; além de romancista de grande sucesso (agraciado com os Prêmios Portugal Telecom de Melhor Livro do ano,  Portugal Telecom de Melhor Romance com as publicações O fiho de mil homens e A desumanização, além do Prêmio  Literário José Saramago com o remorso de baltazar serapião) é poeta, artista plástico, músico, apresentador de tv, entre outras atribuições. Sua poesia está reunida na volume Contabilidade. Seus escritos dotados de poderosas imagens poéticas trazem luz e uma beleza singular a nosso idioma. Seus quatro primeiros romances são conhecidos como a tetralagia das minúsculas, ou seja, escritos integralmente sem letras capitais, incluindo o nome do autor. Esse conceito ou ideia alude a uma certa utopia de igualdade, equiparando as palavras na sua grafia, deixando que o leitor seja ativo na leitura, definindo o que deve ou não ser acentuado. Seu texto é caracterizado essencialmente por frases curtas, de significado extremamente estudado e preciso, porém de ritmo estranho  a quem estiver habituado a narrativas convencionais. Trata-se de um autor que se reiventa a cada linha, numa linguagem de peculiar plasticidade e ousadia com olhar microscópico e conteúdo profundamente humano. Cada parágrafo ou página é uma aula de psicoanálise ( Hugo Mãe explora com genialidade as sombras e os fantasmas que residem no intrínseco de cada pessoa). Sua obra  como um todo é para ser lida devagar, sem pressa. E, para reler, muitas vezes.

a capitalização do amor
não escondemos que aprendemos a 
capitalizar o amor, entregando 
amplamente os nossos melhores 
momentos às raparigas mais carentes. 
o amor, sabemos bem, é o caminho directo 
para a inutilidade, e nós procuramos as 
raparigas que mais rapidamente se 
inutilizem perante as coisas clássicas 
da vida. não nos queremos atarefar com 
a vulgaridade, e gostaríamos até de 
impregnar cada gesto com características 
alienígenas, mas o tempo escapa-se e o 
dinheiro também e, se só pensamos no amor, 
não temos como fazer de outro modo 
senão vendê-lo entusiasticamente, como 
fontes de trovões bonitos jorrando nas 
praças mais movimentadas das cidades. e 
as raparigas correm para nós urgentes 
e cheias de vida, férteis de tudo quanto o 
amor se abate sobre elas, uma alegria rica 
de se ver, e nós a balançar os braços para 
chamar a atenção de mais e mais e 
já nem sabemos como parar, como forças 
incontroladas, à semelhança de mecanismos 
ferozes da natureza, e só sairemos daqui 
quando desfalecermos de amor até 
pelas raparigas mais feias.
valter hugo mãe


valter hugo mãe

se o vento é a ignição
das árvores venha o
temporal, elas ateadas sobre
as nossas cabeças, desmembradas
da terra como voadores desajeitados, meu pai
já conheço o vão da tua fome, peço-te,
faz de mim uma colher
divina

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