Blog dos Livros
UM FAROESTE MODERNO
Autor de dois livros de contos, Vitor Camargo de Melo estreia agora no gênero romance com o livro “Embaixo das unhas” (Editora Penalux, 269 páginas, R$ 45,00), obra que em 2017 venceu o edital do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal, sendo esta a primeira premiação. Depois recebeu menção honrosa no Prêmio Aluízio Azevedo e, em 2020, foi finalista do Prêmio SESC de Literatura e do V Prêmio Kindle de Literatura, certames literários disputadíssimos e de grande projeção nacional.
Segundo o autor, “o livro articula referências do romance policial, do faroeste e do romance social brasileiro para criar uma trama cujo conflito se desenvolve entre camadas sociais antagônicas.” A escrita empregada na história também foi adequada a essa proposta. “É uma linguagem seca, dura,” adianta Vitor, “que evoca a aspereza do cotidiano de seus personagens.”
“Embaixo das unhas” narra a trajetória de dois trabalhadores rurais escravizados na fazenda de um grande produtor do sul do Pará, no ano 2000. Às margens do Rio Araguaia, o conflito fundiário é intenso entre os grandes fazendeiros de um lado e, de outro, os trabalhadores rurais. Quando dois peões escravizados em uma fazenda conseguem fugir e denunciar o patrão, a violência escala, mergulhando a cidade em uma luta aberta por terras, poder e vingança.
Vitor Camargo diz que o cenário literário atual é marcado por uma diversidade bastante grande de temáticas e vozes e muitos livros publicados estão conquistando destaque e produzindo uma polifonia cada vez maior. “Embaixo das unhas” se alinha a esse movimento, diz o escritor, “resgatando aspectos caros à produção literária brasileira desde há muito tempo, como as populações do campo e seu cenário.” Além desse aspecto de denúncia e apelo social, o livro busca construir uma narrativa eletrizante, flertando com o gênero policial. “Mas, no meu romance, eu trago esse gênero caracteristicamente urbano para o plano rural.”
Além da premiação, o livro recebeu muitos elogios da crítica. Segundo a jornalista e escritora Paulliny Tort, “a obra nos conduz pelos desvãos do norte do país, onde fazendeiros poderosos impõem os mais ultrajantes tratamentos e arbitrariedades a homens e mulheres do campo.” Para o professor Ricardo Rezende, “há fazendeiro e pistoleiro de um lado; do outro, sindicalista camponês e peão, manicure e prostituta, padre, bispo e autoridade, em histórias nas quais se entrecruzam violência e oração, solidariedade, sexo e morte e, como pano de fundo, o desastre do projeto de ocupação da Amazônia.”
Vitor Camargo de Melo nasceu na Baixada Fluminense em 1987 e mora em Brasília. Escritor e roteirista, é também editor e fundador da Revista Seca, professor de Escrita Criativa, antropólogo e mestre em Direitos Humanos e Cidadania pela Universidade de Brasília. Publicou seu primeiro livro de contos, “Fratura exposta,” em 2015.
Trecho:
“O procurador apoiou o queixo na mão e franziu a testa. Com o bico do sapato, cutucou a base de um dos pedaços de madeira fincados no chão. Eram mastros cavados no solo, pouco espaçados uns dos outros, e circundavam todo o barraco. Arrastou o polegar sobre a superfície farpada, examinando a peça. Pegou pelo braço um trabalhador que os fiscais entrevistavam e interrompeu a conversa. O homem estava vestindo uma calça jeans esburacada e uma camiseta esgarçada e encardida, com a foto de um candidato a deputado estadual há duas eleições. Arregalou um pouco os olhos, apreensivo, ao ser convocado pelo procurador.
-Pra que é que serve isso aqui?
-É pras onças não entrarem no meio da noite.”
(página 48)
A COMUNIDADE DOS MUTANTES
Em uma edição de luxo, capa dura, com mais de uma centena de fotografias, entre cenas de shows, ensaios, bastidores e momentos únicos de descontração, “Os Mutantes: A hora e a vez” (Editora Belas Letras, 224 páginas, R$ 199,90) é um verdadeiro documento histórico durante o período mais criativo do grupo, entre 1969 e 1974. Trata-se de um livro de fotografias lançado pela fotógrafa Leila Lisboa, que foi uma espécie de integrante honorária do conjunto, por ser namorada do então baixista Liminha.
UM RETRATO DE BRUCE LEE
Quase meio século depois de sua repentina morte, aos 32 anos de idade, a obra “Bruce Lee: Uma vida” (Editora Seoman, 712 páginas, R$ 109,90), de autoria de Matteew Polly, dá aos leitores uma oportunidade única de conhecer mais sobre o ídolo das artes marciais. Da infância até a idade adulta e sua discutida morte, o livro reúne dezenas de fotos raras e apresenta um retrato complexo e profundo do ídolo, por meio de pesquisas e mais de cem entrevistas.
Leituras:
“O processo de leitura possibilita esta operação maravilhosa que é o encontro do que está dentro do livro com o que está guardado na nossa cabeça.”
(Ruth Rocha, escritora brasileira de livros infantis, membro da Academia Paulista de Letras, com cerca de 130 títulos publicados e traduções para 25 idiomas.)
Destaques:
DEZ COISAS QUE APRENDI SOBRE O AMOR
Autora: Sarah Butler
Primeiro romance desta autora e professora de escrita criativa que vive em Manchester e dirige uma empresa de consultoria que desenvolve projetos de literatura e arte. Conta a história de Alice e Daniel que nada têm em comum, exceto o amor pelas estrelas, cores e mirtilos e, acima de tudo, o hábito de fazer listas de dez coisas que os tornam tristes ou felizes.
Editora Novo Conceito. 255 páginas. R$ 19,90.
O TEMPO E AS ESTRELAS
Autor: Alisson Diego Batista Moraes
Segundo livro de poesias deste autor que é, nas palavras da escritora Vilma Guimarães Rosa, filha de um dos maiores nomes da literatura de todos os tempos, João Guimarães Rosa, “um excelente poeta do cotidiano, que valoriza seus temas e tem tudo para se tornar um dos grandes da poesia brasileira.” Nascido em Itaguara, Minas Gerais, Alisson Moraes é também autor de “Primeiros Poemas.” É também prefeito de sua terra natal.
Editora Novo Século. 92 páginas. R$ 15,00.
(As obras apontadas no Blog dos Livros podem ser encontradas junto à Livraria Coralina, na Rua 7 de Setembro, 578, Cachoeira do Sul)