Blog dos Livros
Fantasia épica
Decidido a se afastar do modelo tradicional de escrever fantasia, o escritor, roteirista de quadrinhos e professor de escrita criativa Vilto Reis procurou novas possibilidades para contar sua história. Buscando novas referências literárias, sem deixar de lado obras como “Duna,” de Frank Herbert, Vilto também encontrou em questões que pautam o mundo na atualidade a inspiração para escrever "Nascida para o trono –Serpentes e Traições” (Editora Draco, 288 páginas).
Além de expandir a imaginação em um cenário de conflitos, instabilidade política e pesada mão religiosa sobre a vida do povo, o escritor, que já foi jurado do Prêmio Jabuti em 2022, constrói uma narrativa envolvente onde todos os elementos indispensáveis ao gênero se fazem presentes.
A história se passa no coração de Camara, um universo de fantasia épico inspirado nos grandes impérios africanos, onde repousa a Cidade Prateada, a capital de uma confederação de povos guerreiros onde manipulações, traições e disputas do Conselho –liderado pela Guardiã- oprimem a população através do poder do Totem da Serpente, uma joia capaz de despertar habilidades sobre-humanas em pessoas comuns.
É lá que vive Núbia Naja Branca, uma debochada ladra que foi um prodígio de sua geração, mas acabou com os poderes bloqueados como punição por um crime do passado. Hoje, entrega-se à decadência de ser uma renegada de seu povo, afogando as mágoas em bebidas e drogas destrutivas para o corpo. Uma nova oportunidade de recomeçar surge quando é contratada para roubar o Totem da Serpente, a joia mais importante da confederação, protegida pela Nona Guardiã, sua própria irmã. Contudo, um general lendário e revolucionário deseja o mesmo item para derrubar o poder político de Camara, motivado por um fato que se liga ao passado de Núbia.
Segundo o autor, a fantasia serve como um meio de explorar e oferecer novas perspectivas sobre questões atuais. Um dos principais temas do livro é o uso abusivo de drogas mas a obra também aborda questões de gênero (a protagonista é uma mulher trans) e a intolerância religiosa, infiltrando e afetando as relações humanas.
Vilto Reis é autor também de “Fim do império” e “Um gato chamado Borges,” obra finalista do Prêmio Sesc 2015, e teve contos veiculados em diversas antologias e revistas. Atualmente mantém um canal no Youtube dedicado a quem busca escrever livros. Além disso, ministra cursos e oficinas, realiza leituras críticas e oferece mentoria para aspirantes a escritores.
Trecho:
“De repente, dois velhos começaram a compartilhar um garrafão de vinho de palma. Um voluntário se oferecia para ocupar a função de fiandeiro por um tempo, para que este ocupasse um lugar na roda de dança. Era uma rápida troca de favores com a promessa de que se devolveria no futuro, porém ninguém lembrava de cobrar. Raramente um dia triste se veria por ali. Menos mal que Núbia se distraiu, dado que o acompanhante não se mostrava a companhia mais agradável.”
(página 54)
REFLEXÕES SOBRE A VIDA
“Se os gatos desaparecessem do mundo” (Editora BertrandBrasil, 176 páginas, R$ 49,90), de autoria de Genki Kawamura, recém lançado no Brasil, é um livro sensível e fascinante que aborda a importância da vida do mundo que nos cerca, por meio de reflexões contundentes. Com diagnóstico de uma doença em fase terminal, e apenas com um gato como companhia, um carteiro jovem recebe a visita do Diabo que faz uma proposta irrecusável: para cada coisa dispensável que estiver disposto a fazer desaparecer do mundo ele ganhará um dia extra de vida. Ele enfrenta então um dilema: como distinguir o que é dispensável daquilo que ama.
POETA MALDITO
Um dos mais importantes ícones da contracultura norte-amerciana e um dos mais notáveis poetas contemporâneos, Charles Bukowski escreveu milhares de poemas durante a carreira, com uma escrita irreverente e direta, falando sobre a boemia, bebida, tabaco, becos imundos, madrugadas longas e solitárias. Em “O amor é um cão dos infernos,” lançado pela Editora HarperCollins, são reunidos em uma coletânea dividida em quatro partes os mais simbólicos textos do poeta sobre o amor, falando sobre os mistérios do sentimento, os limites e a incapacidade de se passar pela vida sem amar.
Leituras:
“A literatura é essencialmente solidão. Escreve-se sozinho. Lê-se sozinho. E, apesar de tudo, o ato da leitura permite a comunicação de dois seres humanos.”
(Paul Auster, escritor, roteirista e poeta norte-americano, nascido em 1947, com uma obra traduzida para mais de quarenta idiomas, destacando-se “A trilogia de Nova York”).
Destaques:
EIFFEL
Autor: Nicolas D’Estienne D’Orves
Paris, 1886. Obcecado por sua torre de metal, um colosso de aço de trezentos metros de altura que ele se desafiou a construir no meio do Campo de Marte, Gustave Eiffel não sai mais de seu escritório. A França precisa reconquistar seu orgulho e sua glória, mas é Adrienne, seu amor perdido que reapareceu, que toma forma. Ele é então tomado por uma iluminação: não é uma linha reta que deve subir aos céus de Paris, mas uma curva, um “A” maiúsculo do nome de sua amada. O autor Nicolas D’Estienne D’Orves é escritor e jornalista francês e escreveu este tomance para homenagear o maior símbolo de Paris e da França.
Editora Vestígio. 221 páginas. R$ 59,80.
ALMA
Autor: Rodrigo Alvarez
Amparado por vasta bibliografia, pesquisa histórica e entrevistas com profissionais altamente qualificados no Brasil e no mundo, valendo-se da filosofia, da religião, da psicologia e da ciência, Rodrigo Alvarez mostra as mudanças surpreendentes que já estão em curso e que abrem ao leitor hipóteses antes inimagináveis. Rodrigo é autor de outros dez livros, sempre com enorme interesse por aquilo que torna as pessoas humanas. Trabalhou como correspondente da TV Globo por mais de duas décadas, quando percorreu dezenas de países e viveu experiências que o levaram a um profundo questionamento existencial.
Editora Agir. 224 páginas. R$ 49,90.
(As obras apontadas no Blog dos Livros podem ser encontradas junto à Revistaria e Livraria Nascente, na Rua Saldanha Marinho, 1423, Cachoeira do Sul)