Blog da Poesia
Alcy Cheuiche
Alcy José de Vargas Cheuiche nasceu em Pelotas, Rio Grande do Sul, no dia 21 de julho do ano de 1940. Segundo Alcy, ele nasceu no mesmo dia e ano que nasceu o seu escritor favorito, o norte-americano Ernest Hemingway.
Com quatro anos Alcy muda-se com sua família para Alegrete e lá passa sua infância, saindo da cidade somente depois de ingressar na faculdade de veterinária no final dos anos 50, em Porto Alegre.
Seu pai era um narrador incrível e antes mesmo de Alcy ingressar no Instituto de Educação Oswaldo Aranha, ele já ouvia com entusiasmo as histórias contadas pelo pai.
Os primeiros livros lidos pelo garoto foram os do escritor brasileiro Monteiro Lobato.
Tendo concluído seus estudos, ele ingressa, aos 18 anos, na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, querendo seguir os passos do pai, além de também essa ser uma oportunidade de não abandonar o campo.
Por muitos anos ele atuou como médico veterinário, até conseguir se tornar escritor profissional e viver apenas disso.
Sua carreira literária
Enquanto estava na faculdade, Alcy Cheuiche escrevia poesia e também contos para os jornais universitários. Após se formar em primeiro lugar na turma, ele então faz pós-graduação na França e na Alemanha. Enquanto esteve na Europa ele mantinha uma coluna no jornal “Correio do Povo” em de Porto Alegre, a qual fora chamada de “Cartas de Paris”.
Depois que ele assume a direção do Instituto Estadual do Livro em Porto Alegre, em 1990, passa, então, a se dedicar mais a carreira literária, mesmo ainda atuando como veterinário.
No ano de 1977 o poeta viaja para Paris a fim de fazer uma pesquisa sobre Santos Dumont, tendo disso surgido a obra “Nos céus de Paris – Romance da vida de Santos Dumont” que lhe rendeu um prêmio.
Alcy Cheuiche escolhido como patrono de feiras em São Sepé, Caçapava do Sul, Alegrete, Gramado e também em Porto Alegre (esse no evento “52ª Feira do Livro de Porto Alegre” em 2006 e qual fora o maior evento desse tipo promovido na América do Sul).
Ele já realizou conferencias e fez sessão de autógrafos de seus livros tanto no Brasil quanto em outros países como Alemanha, França, Uruguai, Argentina, Estados Unidos, etc. Ele também é tradutor e sócio fundador da Associação Gaúcha de Escritores, sendo também membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Seus principais livros são, os romances, O mestiço de São Borja, A Guerra dos Farrapos e Ana sem-terra, os volumes de crônicas, planeta azul e Na garupa de Choros e os livros de poesias, Entre o Sena e o Guaíba e Versos do extremo sul.
REZA CHUCRA
Perdoe Virgem Maria
Por lhe tomar atenção,
Envolvendo um coração
Tão puro e tão adorado,
Nesta miséria qu’eu trago,
Que arrasto, é melhor que diga,
Por esta terra inimiga,
Onde nunca fui amado.
A Senhora bem se lembra
Que nem sempre foi assim…
Embora não fosse em mim
Que a fortuna tinha ninho,
Eu bem que tive carinho
E uma mulher cuidadosa
Que me deixava de jeito,
Um lenço branco no peito,
A bombacha bem limpinha,
Quando para a igreja eu vinha,
No tempo qu’eu fui feliz.
Agora olhe pra mim.
Veja esta roupa rasgada
Qu’eu carrego com vergonha.
Parece que a gente sonha,
Quando vê que não é nada
Prá dominar o seu vício
Quando eu morava no pago
As vezes tomava um trago
No mais prá molhá a garganta
E agora querida Santa,
Até virei cachaceiro,
Depois que bebo o primeiro
Não há nada que me pare.
E depois até que eu sare
Vem me subindo a cabeça
Toda essa vida passada
E o rosto da minha amada
Enxergo assim como em sonho…
Ó minha Nossa Senhora,
Escute ao menos agora
Um pedido que le faço.
Sei que a morte já me ronda
Pela porteira do rancho…
Até já vejo os caranchos
Rodeando em volta de mim.
Reconheço o meu pecado,
E quando tiver chegado
Lá na fronteira do céu
Vão me apontar outro rumo:
– Ovelha com mancha preta
Bota a marca na paleta
Que só serve prá o consumo. –
Prá mim não há mais remédio,
Não é prá mim o pedido.
Sou índio chucro vencido
Pelo vício aqui do povo.
Eu peço é pelo meu filho,
Que abandonei lá no pago
Quando a sina de índio vago
Me arrebatou da querência.
Proteja a sua inocência…
Não deixe que o coitadinho
Siga este duro caminho
Que está seguindo seu pai.
Que fique por toda a vida
Grudado naquele chão,
Que resista a tentação
Com toda a força de machd,
Que não morra como guacho
Quando pará o coração.
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