Blog da Poesia
Literatura de cordel na perspectiva de 3 autores
A literatura de cordel é parte importante de uma rica cultura do nordeste brasileiro.
No cordel os poetas contam uma história em formato de poesia, usando rimas. Muitos cordéis são declamados e ilustrados.
O nome cordel vem do fato de, na origem desse tipo de literatura, os vendedores pendurarem os livros e folhetos em uma corda para venderem nas feiras livres.
Saudação ao Juazeiro do Norte, de Patativa do Assaré
Em Saudação ao Juazeiro do Norte, Patativa do Assaré faz um elogio da cidade nordestina e conta muito da vida de Padre Cícero Romão, um personagem importante para a região.
Assim como em outros trabalhos seus, seus versos são extremamente marcados pelas rimas e ritmo. Muitos estudiosos diziam inclusive que, Patativa não escrevia, cantava, de tão marcado pela musicalidade era seu texto.
Ao longo da obra Saudação ao Juazeiro do Norte, Patativa fala não só sobre a cidade de Juazeiro, mas sobre a importância da fé para as pessoas da terra.
Logo que começa a descrever a cidade, o poeta lembra de Padre Cícero.
Mesmo sem eu ter estudo
sem ter do colégio o bafejo,
Juazeiro, eu te saúdo
com o meu verso sertanejo
Cidade de grande sorte,
de Juazeiro do Norte
tens a denominação,
mas teu nome verdadeiro
será sempre Juazeiro
do Padre Cícero Romão.
Juazeiro e Padre Cícero aparecem, então, sempre juntos no poema, como se um não existisse sem o outro. Patativa do Assaré foi um dos autores mais importantes no universo do cordel e conta nos seus versos muito da realidade do sertanejo e do trabalho com a terra.
O pseudônimo Patativa faz referência a um pássaro sertanejo nordestino que tem um canto bonito e Assaré é uma homenagem a vila mais próxima do lugar onde nasceu.
O rapaz, de origem humilde, veio ao mundo no interior do Ceará e era filho de agricultores pobres. Ainda jovem, recebeu pouca educação formal, tendo sido apenas alfabetizado.
Ainda assim, desde cedo, começou a escrever versos enquanto também trabalhava no campo. Segundo o próprio Patativa:
Eu sou um caboclo roceiro que, como poeta, canto sempre a vida do povo.
História da rainha Ester, de Arievaldo Viana Lima
O cordel do poeta popular Arievaldo conta o longo percurso de Ester, uma personagem bíblica importante para os judeus, que era órfã e considerada a mulher mais bela do seu povo.
Supremo Ser Incriado
Santo Deus Onipotente
Manda teus raios de luz
Ilumina a minha mente
Para transformar em versos
Uma história comovente
Falo da vida de Ester
Que na Bíblia está descrita
Era uma judia virtuosa
E extremamente bonita.
Ester vira rainha, e o cordel de Arievaldo conta desde os primeiros dias de vida da moça até os dilemas que ela precisa enfrentar para proteger o seu povo.
O autor faz uma releitura da história contada na bíblia e transforma o percurso de Ester num texto poético, cheio de rimas e detalhes ricos.
Arievaldo Viana Lima usou versos rápidos e rimados para contar mesmo o que aconteceu com Ester e com o seu povo naquele momento da história.
O poeta, que foi também ilustrador, publicitário e radialista, nasceu no Ceará e produziu uma série de cordéis ajudando a divulgar a cultura nordestina pelo país.
Futebol no Inferno, de José Soares
O paraibano José Francisco Soares inventou no seu cordel uma partida de futebol imaginária entre personagens perigosos: o time de satanás contra o do cangaceiro Lampião.
O futebol no Inferno
está grande a confusão
vai haver melhor de três
pra ver quem é campeão
o time de satanás
ou o quadro de Lampião
Nos versos vemos uma partida de futebol que se repete todos os domingos, sendo assistida por 2, 3 e 4 mil diabos na arquibancada.
O divertido cordel consegue criar uma situação surreal com cem bolas em campo - bolas de aço maciço - e, ainda assim, parecer uma verdadeira partida de futebol normal, porque usa exemplos do nosso dia a dia que naturalizam o evento.No
cordel se discute, por exemplo, o juiz que deve apitar a partida, o tamanho do campo, a escalação dos times e até a participação do locutor. Há muitos elementos do mundo real misturados com o universo da fantasia.
O primeiro folheto de cordel de José Soares (1914-1981) foi publicado em 1928 (e chama Descrição do Brasil por estados). O paraibano trabalhou como agricultor até se mudar para o Rio de Janeiro, em 1934, onde passou a atuar como pedreiro, embora em paralelo tenha sempre escrito os seus versos.
Quando voltou para a sua terra natal, seis anos mais tarde, abriu uma banca de folhetos no Mercado de São José onde vendia os seus cordéis e os de amigos.
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XXVIII Prêmio Paulo Salzano Vieira da Cunha De Poemas
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