Blog da Poesia
A profundidade emocional na escrita de Valter Hugo Mãe
Valter Hugo Mãe é um dos mais destacados autores portugueses da atualidade. A sua obra está traduzida em variadíssimas línguas, merecendo um prestigiado acolhimento em muitos países. É autor de obras como Educação da tristeza, Deus na escuridão, As doenças do Brasil, Contra mim, Homens imprudentemente poéticos; A Desumanização; O filho de mil homens; a máquina de fazer espanhóis, O apocalipse dos trabalhadores; o remorso de Baltazar Serapião e o nosso reino, Contos de cães e maus lobos, O paraíso são os outros, As mais belas coisas do mundo, Serei sempre o teu abrigo e A minha mãe é a minha filha.
A sua poesia encontra-se toda reunida no volume publicação da mortalidade.
Independente da classificação do gênero, sua escrita sempre tange a poesia, tamanha sua sensibilidade, inteligência, insurgência e profundidade emocional.
se o vento é a ignição
das árvores venha o
temporal, elas ateadas sobre
as nossas cabeças, desmembradas
da terra como voadores desajeitados, meu pai
já conheço o vão da tua fome, peço-te,
faz de mim uma colher
divina
Expliquei à professora que na sala de aula tudo era perto e que nada se distanciava de nada como nos montes da paisagem. Mas a professora negou. Disse-me que o rosto de cada um também era imenso como a paisagem e, visto com atenção, tinha distâncias até infinitas que importava percorrer.
Nesse dia, voltei da escola como se tivesse a tampa da cabeça aberta e os pensamentos me fugissem para o vento.
(…)
Percebi que para dentro de nós há um longo caminho e muita distância. Não somos nada feitos do mais imediato que se vê à superfície. Somos feitos daquilo que chega à alma, e a alma tem um tamanho muito diferente do corpo. (…) O rosto começa onde se vê e vai até onde já não há luz nem som. (…) Entendi que o rosto é extenso e infinito, capaz de expressões que vamos conhecendo e outras que nunca vemos. Toda a vida precisamos estar atentos, senão vamos perder muito do mais importante que acontece em nosso redor. Como se houvesse um incêndio mesmo diante de nós e nem sequer o percebêssemos antes de estar tudo completamente queimado.“
O Rosto | Valter Hugo Mãe
Todos nascemos filhos de mil pais e de mais mil mães, e a solidão é sobretudo a incapacidade de ver qualquer pessoa como nos pertencendo, para que nos pertença de verdade e se gere um cuidado mútuo. Como se os nossos mil pais e mais as nossas mil mães coincidissem em parte, como se fôssemos por aí irmãos, irmãos uns dos outros. Somos o resultado de tanta gente, de tanta história, tão grandes sonhos que vão passando de pessoa a pessoa, que nunca estaremos sós.
Quem não sabe perdoar.
Só sabe coisas pequenas.

Os livros são as portas do mundo inteiro.

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