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O poeta da morte

17/09/2025 10:08 - por Tiago Vargas tiagovargas.uab@gmail.com

Dos escritores eu fazem parte do Pré-Modernismo, Augusto dos Anjos é o que apresenta mais complexidade em suas obras. 

O autor é considerado um poeta de transição entre o Simbolismo e o Modernismo.

Nascido em Engenho Pau D’Arco, formou-se na Faculdade de Direito de Recife, porém jamais exerceu a profissão de advogado. 

Sua produção literária não permite que o autor seja classificado em uma única estética literária, pois seus versos são de grande originalidade, mesclando por exemplo, características simbolistas ao cientificismo naturalista. 

Essa individualidade de sua produção gerou uma poesia de caráter sincrético, ou seja, fruto dessa fusão entre características de diferentes movimentos literários.

Do Parnasianismo, aproxima-se pela presença de métrica rígida, da cadência musical, das aliterações e das rimas ricas.

O uso de um vocabulário mais científico o afasta da estética parnasiana.

Do simbolismo, aproxima-se pela temática, principalmente pela angústia e pelo pessimismo.

Pela temática recorrente ficou conhecido como poeta da morte.

Alguns estudiosos, comparam os versos de Augusto dos Anjos com a melancolia típica da vanguarda expressionista, além do vocabulário prosaico comum ao Modernismo.

A linguagem usada em seus poemas é considerada como termos antipoéticos.

Além disso, as temáticas abordadas são igualmente desconcertantes, entre as quais, profissionais do sexo, a composição química do corpo humano, cadáveres, etc...

Nos versos de Augusto dos Anjos sobram dor e pessimismo, angustia e anseios relacionados a existência. 

Suas ideias refletem aos conceitos do existencialismo, muito em alta no final do século XIX, principalmente nos estudos de filósofos como o alemão, Arthur Schopenhauer.

O antilirismo presente nos versos de Augusto dos Anjos foi retomado, por exemplo, por autores como João Cabral de Melo Neto, anos mais tarde. 

João Cabral é autor do poema épico Morte e Vida Severina e por seu labor com a escrita ficou conhecido também pela alcunha de Engenheiro da palavra. 

As principais características de sua produção literária de Augusto dos Anjos foram: 
- Uso de temáticas relacionadas ao pessimismo e a melancolia
- Uso de vocábulos relacionados à ciência e à medicina
- Inclinação do eu lírico à morte.
- Uso de formas fixas, como o soneto.

Poema Psicologia de um vencido- Augusto dos Anjos
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundíssimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra! 

Versos Íntimos
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão — esta pantera —
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa ainda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

 

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