Blog dos Espíritos

As provas de riqueza e de miséria

14/07/2025 09:35 - por Rosane Sacilotto sacilottorosane @gmai.com

Provas temporárias
A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, nos oferece uma visão profunda e esclarecedora sobre as desigualdades sociais e econômicas que marcam a experiência humana. Entre os temas centrais está a compreensão das provas da riqueza e da miséria, não como castigos ou privilégios arbitrários, mas como meios de evolução espiritual.

Em “O Livro dos Espíritos”, Kardec pergunta aos Espíritos Superiores sobre a desigualdade das condições sociais. Na questão 814, os Espíritos respondem que “a desigualdade das condições sociais é uma das provas a que Deus submete os Espíritos, durante a sua encarnação”. Em outras palavras, tanto a riqueza quanto a miséria são provas temporárias, destinadas a exercitar o espírito em sua marcha evolutiva. A riqueza testa o uso da liberdade, da caridade e da responsabilidade. Já a miséria, por sua vez, prova a resignação, a fé e a perseverança diante das dificuldades.

No Capítulo XVI de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, intitulado “Não se pode servir a Deus e a Mamon”, Kardec discute detalhadamente o uso das riquezas. Ele ressalta: “Sem dúvida, pelos arrastamentos a que dá causa, pelas tentações que gera e pela fascinação que exerce, a riqueza constitui uma prova muito arriscada, mais perigosa do que a miséria. É o supremo excitante do orgulho, do egoísmo e da vida sensual. É o laço mais forte que prende o homem à Terra e lhe desvia do céu os pensamentos.

Produz tal vertigem que, muitas vezes, aquele que passa da miséria à riqueza esquece de pronto a sua primeira condição, os que com ele a partilharam, os que o ajudaram, e faz-se insensível, egoísta e vão. Ao fato, porém, de a riqueza tornar difícil a jornada, não se segue que a torne impossível e não possa vir a ser um meio de salvação para o que dela sabe servir-se”.

Muitos, ao alcançarem uma posição de poder ou abundância material, esquecem-se da solidariedade e da humildade, tornando-se egoístas e orgulhosos. No entanto, aquele que sabe empregar seus bens com sabedoria, auxiliando o próximo e promovendo o bem, está aproveitando essa prova como uma oportunidade de progresso espiritual.

Instrumentos para a evolução
Tanto a riqueza como a miséria podem ser instrumentos de evolução importantíssimos se bem aproveitados, se, porém, o homem não sabe aproveitar-se dessas oportunidades para sua elevação, é por exclusiva culpa sua, como nos ensina “O Evangelho segundo o Espiritismo” neste trecho: “Se a riqueza é causa de muitos males, se exacerba tanto as más paixões, se provoca mesmo tantos crimes, não é a ela que devemos inculpar, mas ao homem, que dela abusa, como de todos os dons de Deus. Pelo abuso, ele torna pernicioso o que lhe poderia ser de maior utilidade. É a consequência do estado de inferioridade do mundo terrestre. Se a riqueza somente males houvesse de produzir, Deus não a teria posto na Terra. Compete ao homem fazê-la produzir o bem. Se não é um elemento direto de progresso moral, é, sem contestação, poderoso elemento de progresso intelectual”.

A prova da miséria não é menos significativa. Como os Espíritos explicam na questão 813 de “O Livro dos Espíritos”: “A inveja e o ciúme são obstáculos à felicidade do homem”. O pobre, quando revoltado ou invejoso, perde a chance de desenvolver virtudes como a paciência, a dignidade e a fé inabalável. Kardec enfatiza que o sofrimento não é sinal de inferioridade moral, mas parte do processo educativo do espírito, que pode, por meio dele, conquistar méritos que o elevarão em futuras existências.

Chance de aprendizado e evolução
Na obra “O Céu e o Inferno”, na segunda parte, encontramos relatos de espíritos que passaram pela prova da riqueza e falharam, perdendo-se no orgulho e no materialismo. Outros, mesmo vivendo na pobreza extrema, retornam ao plano espiritual como vencedores, por terem vivido com nobreza, humildade e confiança na justiça divina. Portanto, não é a condição material em si que determina o valor do espírito, mas sim a forma como ele enfrenta suas circunstâncias. A riqueza e a miséria são duas faces de um mesmo processo educativo, destinadas a desenvolver o amor ao próximo, a desapegar-se do supérfluo e a crescer moralmente.

Como disse Kardec: "O homem, não raro, só vê a prova no sofrimento; a prova também pode estar na abundância e na felicidade". (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V, item 20).

Com essa compreensão, a Doutrina Espírita nos convida a enxergar cada situação de vida como uma chance de aprendizado e renovação, confiando na justiça e na misericórdia de Deus, que oferece a cada um as experiências mais adequadas ao seu progresso espiritual. Nunca devemos nos esquecer de que “a origem do mal reside no egoísmo e no orgulho: os abusos de toda espécie cessarão quando os homens se regerem pela lei da caridade”.

KARDEC, Allan. “O Evangelho segundo o Espiritismo”; “O Livro dos Espíritos”; “O Céu e o Inferno”.

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