Blog dos Espíritos
O sermão da montanha e o espiritismo
As bem-aventuranças
O Sermão da Montanha, registrado nos capítulos 5 a 7 do Evangelho segundo Mateus, representa a síntese mais elevada do pensamento ético e espiritual de Jesus. Nele, Cristo delineia os princípios que regem o Reino de Deus e convida a humanidade a trilhar o caminho da renovação íntima. A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, encontra no Sermão da Montanha um dos fundamentos de sua moral, enxergando nas bem-aventuranças um roteiro seguro para o progresso espiritual do ser humano.
As bem-aventuranças, que iniciam com “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus”, são enunciados que valorizam atitudes internas, sentimentos elevados e disposições morais. Longe de exaltar a miséria material ou o sofrimento pelo sofrimento, elas nos ensinam que a verdadeira felicidade não está nos bens transitórios da Terra, mas no cultivo das virtudes e na vivência do amor.
Segundo Allan Kardec, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, essas máximas de Jesus têm um alcance espiritual que transcende o tempo. Os “pobres de espírito”, por exemplo, não são os ignorantes ou os simplórios, mas aqueles que são humildes, que reconhecem suas limitações e buscam o aprimoramento. O orgulho, raiz de tantos males, é o oposto dessa virtude e um dos grandes obstáculos ao progresso moral, como explicam os Espíritos superiores na codificação. “A verdadeira humildade é sempre grandeza moral”.( ESE, cap. VII)
Lições e recursos terapêuticos
Emmanuel, espírito guia de Chico Xavier, interpreta o Sermão da Montanha como um código de luz para a alma imortal. Em obras como “Caminho, Verdade e Vida” e “Fonte Viva”, ele esclarece que cada bem-aventurança corresponde a um degrau da ascensão do Espírito. Os que choram, por exemplo, são consolados não apenas pelo alívio passageiro das dores, mas pela consciência adquirida nas experiências difíceis, que depuram o ser e o aproximam de Deus. O consolo prometido por Jesus se realiza na certeza da imortalidade, no reencontro com os entes queridos e na compreensão das causas espirituais do sofrimento. Emmanuel nos lembra que “a lágrima na Terra é o suor da alma na forja da elevação”. (Fonte Viva)
Joanna de Ângelis, através da psicografia de Divaldo Franco, aprofunda a leitura psicológica das bem-aventuranças, destacando que “as lições do Cristo são recursos terapêuticos para a alma adoecida”. O “bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça” aponta para aqueles que desejam ardentemente a equidade, não a vingança, e que se tornam instrumentos da paz. A justiça, para o Espiritismo, é uma lei moral, divina, que se realiza plenamente na Lei de Causa e Efeito, onde cada um colhe o que semeia. “A cada um segundo as suas obras”. (ESE, cap. X)
A mansidão, exaltada por Jesus, é compreendida na Doutrina Espírita como a força que se expressa através da serenidade e da paciência. O espírito manso não é passivo, mas sabe agir com equilíbrio, sem violência, compreendendo que todo adversário é, em essência, um irmão em fase de aprendizado. A mansidão é força equilibrada, é o domínio das paixões. O espírito manso constrói a paz ao seu redor. Joanna de Ângelis afirma que “o homem manso é senhor de si e não se escraviza às reações do mundo”. (Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda)
Outro ponto central das bem-aventuranças é a pureza de coração. Para o Espiritismo, ser puro de coração é agir com retidão, sinceridade e amor, sem segundas intenções. Essa pureza permite ao Espírito vislumbrar Deus — não com os olhos da carne, mas com a percepção interior que enxerga a presença divina em tudo e em todos. Pureza não é ausência de erro, mas sinceridade na busca do bem. O coração puro vê Deus porque sintoniza com as Suas leis. “O bem é sempre o reflexo da presença divina”. (Joanna de Ângelis)
Práticas para a reforma íntima
Ao propor "Bem-aventurados os pacificadores", Jesus enaltece os que cultivam a paz ativa, aquela que resulta do perdão, da compreensão e da renúncia ao egoísmo. Emmanuel comenta que o pacificador é um semeador de harmonia, cuja presença transforma ambientes, apazigua conflitos e irradia amor. O pacificador é ativo. Ele trabalha pela harmonia, começando por si mesmo. A paz no mundo começa com a pacificação interior. “A paz que procuras nos outros começa em ti”. (Emmanuel)
Por fim, os perseguidos por causa da justiça são os que mantêm sua integridade mesmo diante das incompreensões. A Doutrina Espírita reforça que o testemunho da fé e do amor a Deus é uma das maiores provas da evolução espiritual. Os mártires do bem, embora incompreendidos, são sustentados pela certeza de que nada se perde diante das leis divinas. A fidelidade ao bem é uma das maiores provas do Espírito em evolução. A recompensa não está nos louros terrenos, mas na paz de consciência e no progresso espiritual.
As bem-aventuranças não são promessas vazias, mas orientações práticas de transformação íntima, possíveis de serem vivenciadas no dia a dia. Elas nos mostram que o verdadeiro Reino de Deus começa dentro de nós, pela conquista da paz, da humildade, da misericórdia e da justiça. A Doutrina Espírita nos convida a não apenas admirar suas palavras, mas a internalizá-las, aplicando-as em nossos relacionamentos, decisões e pensamentos.
O Espiritismo ilumina o sentido profundo das palavras de Jesus e nos convida à vivência consciente de seus ensinamentos. Como disse Kardec, o Espiritismo é o Consolador Prometido, que vem restaurar o Evangelho em sua pureza e profundidade. É nesse esforço contínuo que a alma vai se purificando, construindo a paz interior e se aproximando de seu destino maior: a união com Deus.
Bíblia de Jerusalém - Evangelho de Mateus
KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”
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