Blog dos Espíritos
Jornada da alma: desencarne e plano espiritual
O desencarne
A morte, para muitos, é ainda um mistério doloroso. Envolta em silêncio, lágrimas e incerteza, ela frequentemente é vista como o fim de tudo o que somos e amamos. No entanto, a Doutrina Espírita, por meio das obras codificadas e organizadas por Allan Kardec, nos convida a enxergar a morte com outros olhos — não como destruição, mas como transformação; não como perda, mas como retorno à verdadeira pátria do espírito.
Em “O Livro dos Espíritos”, primeira obra da Codificação, Kardec pergunta aos Espíritos Superiores: “Que sucede à alma no instante da morte?” A resposta é clara e consoladora: “Ela volta a ser Espírito, isto é, retorna ao mundo dos Espíritos, donde se havia separado momentaneamente”. Assim, entendemos que a morte não é o fim da vida, mas a continuação da jornada do ser imortal. O desencarne, portanto, é um processo natural, parte integrante da evolução do ser imortal.
O desencarne é o desprendimento gradual do espírito em relação ao corpo físico. Esse processo não é igual para todos. Depende da vida que levamos, das escolhas que fizemos, do bem que semeamos e do apego que ainda possuímos às ilusões do mundo material.
A vida no Mundo Espiritual
Conforme descrito nas obras da série “A Vida no Mundo Espiritual”, psicografadas por Chico Xavier sob a orientação do espírito André Luiz, a desencarnação pode variar de acordo com o estado moral e espiritual do indivíduo. Para os que se dedicaram ao bem, com consciência tranquila e coração sereno, o desprendimento do corpo é suave, muitas vezes acompanhado por amigos espirituais que os acolhem com amor e luz. Já para aqueles que viveram presos a paixões materiais, o desligamento pode ser mais doloroso, exigindo tempo, assistência e aprendizado.
Mas mesmo nos casos mais difíceis, há sempre amparo. A justiça divina é também amorosa e misericordiosa. Nenhuma alma está esquecida ou abandonada. Anjos de guarda, familiares desencarnados e benfeitores espirituais acompanham a travessia, acolhendo o espírito na nova realidade.
Kardec relata, em “O Céu e o Inferno”, diversos exemplos de espíritos que testemunham o que viveram após a morte do corpo. Alguns falam da paz imediata que sentiram, outros, do arrependimento e da dor por atos mal conduzidos. Todos, porém, confirmam uma mesma verdade: a vida continua. Não há um céu ou inferno eterno, mas estados de consciência que refletem nossa conduta e nossos sentimentos.
André Luiz, em sua obra inicial “Nosso Lar”, relata com riqueza de detalhes sua própria experiência após o desencarne. Inicialmente, enfrentou um período de perturbação, causado por seus equívocos e apegos terrenos. No entanto, com auxílio dos benfeitores espirituais e pela misericórdia divina, foi acolhido em uma colônia espiritual, uma verdadeira cidade no plano superior destinada ao trabalho, ao estudo e à regeneração das almas.
Essas colônias espirituais, como “Nosso Lar”, funcionam como instituições de transição, onde os espíritos são preparados para compreender a nova realidade, reavaliar suas experiências terrenas e se capacitar para novas missões, seja no plano espiritual, seja em futuras reencarnações.
Retorno à Pátria Verdadeira
O desencarne, portanto, não deve ser temido, mas compreendido como uma etapa educativa na jornada do espírito eterno. A dor da separação física é suavizada pelo entendimento de que os laços de amor permanecem além da matéria, e que, pela sintonia do pensamento e da prece, podemos continuar em comunhão com aqueles que nos precederam nessa jornada.
O reencontro com entes queridos também é uma realidade confirmada pela experiência espírita. Laços verdadeiros não se rompem com a morte. O amor que cultivamos na Terra é uma ponte luminosa entre os dois mundos. E assim como reencontramos afetos no plano espiritual, também podemos continuar ajudando e sendo ajudados por aqueles que partiram antes de nós, através da oração, da lembrança e da elevação do pensamento.
A morte, então, perde sua aparência sombria. Deixa de ser um abismo de medo e passa a ser uma porta de passagem, uma volta para casa, um reencontro com a essência do ser. Saber disso não elimina a saudade nem a dor da separação física, mas transforma o sofrimento em compreensão, e a lágrima em oração. Como nos afirma o Espírito Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier: “Ninguém morre. A morte é apenas mudança de estado”. E como nos recorda Allan Kardec, com a lucidez de quem fala pela voz da razão iluminada pela fé: “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei”.
Assim, a Doutrina Espírita nos convida a viver com responsabilidade moral e amor ao próximo, preparando-nos desde já para a continuidade da vida. O plano espiritual não é uma abstração distante, mas uma extensão da existência, onde colhemos os frutos do que semeamos em nossa caminhada terrena. Como nos ensina André Luiz em suas obras: “A morte é apenas uma porta de acesso à Vida Maior. Quem cultiva o bem encontrará no além o reflexo de sua própria luz”.
KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”; “O Evangelho Segundo o Espiritismo”; “O Céu e o Inferno”.
XAVIER, Francisco C. – André Luiz. “Nosso Lar” e demais obras da coleção “A Vida no Mundo Espiritual”.
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