Blog dos Espíritos
Honrar pai e mãe
O mandamento de amor ao próximo
O mandamento “honra teu pai e tua mãe” é um dos pilares da moral cristã, presente no Decálogo revelado por Moisés. À luz da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, este preceito adquire uma profundidade ainda maior, pois transcende a obediência formal e se estende ao reconhecimento do papel dos pais na evolução espiritual dos filhos.
No Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo XIV – “Honrai vosso pai e vossa mãe” –, Kardec nos conduz à compreensão de que a verdadeira honra aos pais não se limita à submissão passiva, mas envolve amor, respeito, gratidão e assistência, sobretudo nos momentos de fragilidade, assim identificados no trecho destacado:
“O mandamento ‘honrai a vosso pai e a vossa mãe’ é um corolário da lei geral de caridade e de amor ao próximo, visto que não pode amar o seu próximo aquele que não ama a seu pai e a sua mãe; mas, o termo honrai encerra um dever a mais para com eles: o da piedade filial. Quis Deus mostrar por essa forma que ao amor se devem juntar o respeito, as atenções, a submissão e a condescendência, o que envolve a obrigação de cumprir-se para com eles, de modo ainda mais rigoroso, tudo o que a caridade ordena relativamente ao próximo em geral. Esse dever se estende naturalmente às pessoas que fazem as vezes de pai e de mãe, as quais tanto maior mérito têm, quanto menos obrigatório é para elas o devotamento. Deus pune sempre com rigor toda violação desse mandamento. Honrar a seu pai e a sua mãe, não consiste apenas em respeitá-los; é também assisti-los na necessidade; é proporcionar-lhes repouso na velhice; é cercá-los de cuidados como eles fizeram conosco, na infância”.
Neste trecho, compreendemos que a honra envolve reciprocidade. Os pais que cuidaram, educaram e se sacrificaram pelos filhos merecem não apenas reconhecimento, mas também amparo quando suas forças declinam.
Parentela corporal e espiritual
A Doutrina Espírita nos ensina ainda que os laços familiares não se restringem à atual existência. Espíritos reencarnam juntos, muitas vezes em posições alternadas de pai, mãe ou filho, com o objetivo de fortalecer laços de afeto ou reparar desentendimentos do passado. “Os laços de família não são destruídos pela reencarnação, como pensam algumas pessoas; ao contrário, tornam-se mais apertados”. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. IV, item 18)
Essa visão amplia a responsabilidade filial. Honrar os pais é também reconhecer o papel que eles desempenham em nosso progresso espiritual, mesmo quando o relacionamento é difícil. Os Espíritos Superiores nos alertam que, mesmo diante de pais severos, distantes ou até injustos, os filhos devem agir com caridade e indulgência, pois podem estar diante de provas necessárias para seu próprio adiantamento.
Jesus, ao nos dizer: “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?... Todo aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mateus 12:48-50), nos ensina que os verdadeiros laços não são apenas os do sangue, mas os da alma.
O Espiritismo nos esclarece que, em muitos casos, Espíritos renascem em lares difíceis para aprender a amar, perdoar e evoluir. Nessas circunstâncias, honrar pai e mãe pode significar exercitar a tolerância, a caridade e a superação de mágoas do passado. Mesmo quando os pais falham ou são instrumentos de provas, devem ser respeitados e ajudados com compreensão e misericórdia, pois todos estão em processo de crescimento.
A Doutrina Espírita nos faz também compreender a diferença entre parentela corporal e parentela espiritual. A parentela corporal é aquela formada pelos vínculos consanguíneos — os laços biológicos e sociais estabelecidos na encarnação presente. Já a parentela espiritual é mais profunda e duradoura: é formada por espíritos afins, unidos por sentimentos sinceros, experiências compartilhadas e compromissos assumidos no plano espiritual. Antes de retornarmos ao plano material, traçamos compromissos, fomos aceitos no meio em que viemos, renovamos votos de afeto ou de reparo de erros pretéritos.
Exercitar o amor e o perdão
Assim, honrar pai e mãe, segundo a Doutrina Espírita, não se limita a um dever terreno. É um compromisso espiritual, um ato consciente de amor e reconhecimento pelas oportunidades que esses Espíritos nos proporcionam — sejam eles afins da parentela espiritual ou apenas ligados pela missão na parentela corporal.
Além disso, Kardec nos lembra que a honra aos pais deve ser acompanhada da justiça. Se os pais, por ignorância ou dureza de coração, impõem condutas contrárias à moral evangélica, os filhos têm o dever de respeitá-los sem, no entanto, compactuar com o erro. O respeito deve ser mantido, mas não a submissão cega.
Em resumo, honrar pai e mãe, segundo o Espiritismo, é uma prática que vai além das palavras e formalidades: é um exercício de amor ativo, paciência, perdão e reconhecimento. É, sobretudo, um caminho de crescimento espiritual mútuo, onde pais e filhos aprendem e evoluem juntos, sob a luz da reencarnação e da Lei de Causa e Efeito.
KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.
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